domingo, 14 de maio de 2017

Se eu fosse um peixinho... – Por Taís Sawaki

Montagem Litero-Cênico-Musical: Chão de Águas
Autora da crítica: Taís Sawaki. Graduanda em Licenciatura em Teatro, Participante do Mini Curso “O que pode uma crítica teatral?”.

A canoa virou
Por deixá-la virar
Foi por causa da Maria
Que não soube remar

Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Eu tirava a Maria
Do fundo do mar…

Nanã, Iemanjá, Oxum, Nossa senhora,
água que lava, que leva…

“Menina, tu soube que os três filhos da Maria morreram afogados? A canoa que eles estavam virou ali pelas curvas do Surubiu, os meninos caíram, agora que acharam o corpo do mais gito…”
Sempre que entro na água, das praias e igarapés, de água doce ou salgada,
faço o sinal da cruz, como faz minha mãe, filha de Iemanjá,
 peço bença à mãe das águas,
que me deixe repousar sobre os teus braços,
que me carregue as energias, e lave minha alma...

“Certa vez, quando eu era criança e a gente morava no Vira Vorta (Vira Volta) com a mamãe. Sabe como é as casas do sítio né? Igual do seu tio Ronaldo, da tia Marcela, da tia Clara, do seu tio Licinho. A gente chama casa de palafita, que a casa fica lá em cima, e tem os paus por baixo… Enfim, era época de cheia, mas já tinha começado a vazar, e a correnteza tava muito forte. Uma das minhas irmãs, não lembro direito qual era, ela devia ter uns dois, três anos. Sim, aí ela tava brincando por lá e do nada ela sumiu. Só que a mamãe viu ela caindo na água, e eu lembro que ela saiu correndo pro outro lado de onde a mana caiu, porque a correnteza tava passando forte por debaixo da casa, daí a minha mãe ficou esperando ela e só fez puxar minha irmã pelo cabelo quando ela ia passando. Quase que ela ia. Se não fosse a mamãe…”

Um dia tive um sonho, em eu flutuava no meio do rio.  Era só rio, água pra todos os lados, não tinha uma terra à vista.  Rio barrento, de águas turvas.... Eu flutuava… O Sol de fim de tarde refletindo sobre o mar marrom, e o céu azul com aquelas nuvenzinhas de dia bonito.
Fui afundando, sentido meu corpo envolto na manta de água. Ele foi baixando, virando pra vertical, como se os pés começassem a pesar. Então por último, dei aquela inspirada e mergulhei por completo. E a água foi entrando, preenchendo todo o meu corpo. Então fui afundando. Via a luz se esvaindo e depois só escuridão...


Tenho uma mania desde criança de abrir os olhos dentro da água, o que me faz sair sempre do mergulho com os olhos vermelhos. Mas eu gosto da sensação de ver dentro da água. Acredito que aqueles pontinhos que flutuam são partículas sub moleculares que se tornam visíveis com o reflexo da luz solar que atravessa a massa aquática, revelando esses seres microscópicos, a constelação de poeira subaquáticas, micro planetas no universo imerso… E sempre acho que vai aparecer alguma coisa, um bixo, um peixe, um jacaré, uma cobra, um baú de ouro, uma joia rara, uma sereia,  um corpo, um rosto, e olhos... Isso me assusta... E me fascina...

“Todo dia a gente ia buscar água no igarapé, cada um levava sua lata pra trazer a água. A gente usava essa água pra tudo, pra cozinhar, lavar louça, beber. Só que a vovó tinha um negócio que ela não deixava a gente ir no igarapé meio dia. Eu nunca soube o porque, ela nunca disse. Mas tenho pra mim que era visagem, com certeza era visagem…”

Água sagrada, que abençoa, que batiza.
Jesus lavou os pés de seus discípulos,
transformou água em vinho,
foi batizado no rio Jordão
Água sagrada, que abençoa, que batiza
Água que dá e que tira
Água que supre e sacia
Que leva e lava...

Adeus Maria
Adeus Raimundo
Adeus Joaquim
Adeus Zé
Adeus Mariana
Adeus Rosa
Adeus Antônio
Adeus Pedro
Adeus Carol
Adeus Chico...
Adeus...
À Deus...
“Ah! Deus!”.

Ficha Técnica:
Montagem Litero-Cênico-Musical:
Chão de Águas.
Elenco:
Cristina Kahwage, Karimme Silva, Tarsila França e Cacau Novais
A Banda:
André Gaby – Piano
Tom Salazar – Violão e Bandolim,
JP Cavalcante – Percussão.
Iluminação:
Marckson de Moraes
Mapping:
Leandro Macujah.
Figurino:
Maurício Franco
Direção Musical:
André Gaby
Direção Geral:

Cacau Novais

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