Montagem Litero-Cênico-Musical: Chão de Águas
Autora da crítica: Taís Sawaki. Graduanda em Licenciatura em
Teatro, Participante do Mini Curso “O que pode uma crítica teatral?”.
A canoa virou
Por deixá-la virar
Foi por causa da Maria
Que não soube remar
Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Eu tirava a Maria
Do fundo do mar…
Nanã, Iemanjá, Oxum, Nossa senhora,
água que lava, que leva…
“Menina, tu soube que os três filhos
da Maria morreram afogados? A canoa que eles estavam virou ali pelas curvas do
Surubiu, os meninos caíram, agora que acharam o corpo do mais gito…”
Sempre que entro na água, das praias e igarapés, de água
doce ou salgada,
faço o sinal da cruz, como faz minha mãe, filha de Iemanjá,
peço bença à mãe das
águas,
que me deixe repousar sobre os teus braços,
que me carregue as energias, e lave minha alma...
“Certa vez, quando eu era criança e
a gente morava no Vira Vorta (Vira Volta) com a mamãe. Sabe como é as casas do
sítio né? Igual do seu tio Ronaldo, da tia Marcela, da tia Clara, do seu tio
Licinho. A gente chama casa de palafita, que a casa fica lá em cima, e tem os
paus por baixo… Enfim, era época de cheia, mas já tinha começado a vazar, e a
correnteza tava muito forte. Uma das minhas irmãs, não lembro direito qual era,
ela devia ter uns dois, três anos. Sim, aí ela tava brincando por lá e do nada
ela sumiu. Só que a mamãe viu ela caindo na água, e eu lembro que ela saiu
correndo pro outro lado de onde a mana caiu, porque a correnteza tava passando
forte por debaixo da casa, daí a minha mãe ficou esperando ela e só fez puxar
minha irmã pelo cabelo quando ela ia passando. Quase que ela ia. Se não fosse a
mamãe…”
Um dia tive um sonho, em eu flutuava no meio do rio. Era só rio, água pra todos os lados, não
tinha uma terra à vista. Rio barrento,
de águas turvas.... Eu flutuava… O Sol de fim de tarde refletindo sobre o mar
marrom, e o céu azul com aquelas nuvenzinhas de dia bonito.
Fui afundando, sentido meu corpo envolto na manta de água.
Ele foi baixando, virando pra vertical, como se os pés começassem a pesar.
Então por último, dei aquela inspirada e mergulhei por completo. E a água foi
entrando, preenchendo todo o meu corpo. Então fui afundando. Via a luz se
esvaindo e depois só escuridão...
Tenho uma mania desde criança de
abrir os olhos dentro da água, o que me faz sair sempre do mergulho com os
olhos vermelhos. Mas eu gosto da sensação de ver dentro da água. Acredito que
aqueles pontinhos que flutuam são partículas sub moleculares que se tornam
visíveis com o reflexo da luz solar que atravessa a massa aquática, revelando
esses seres microscópicos, a constelação de poeira subaquáticas, micro planetas
no universo imerso… E sempre acho que vai aparecer alguma coisa, um bixo, um
peixe, um jacaré, uma cobra, um baú de ouro, uma joia rara, uma sereia, um corpo, um rosto, e olhos... Isso me
assusta... E me fascina...
“Todo dia a gente ia buscar água no
igarapé, cada um levava sua lata pra trazer a água. A gente usava essa água pra
tudo, pra cozinhar, lavar louça, beber. Só que a vovó tinha um negócio que ela
não deixava a gente ir no igarapé meio dia. Eu nunca soube o porque, ela nunca
disse. Mas tenho pra mim que era visagem, com certeza era visagem…”
Água sagrada, que abençoa, que batiza.
Jesus lavou os pés de seus
discípulos,
transformou água em vinho,
foi batizado no rio Jordão
Água sagrada, que abençoa, que batiza
Água que dá e que tira
Água que supre e sacia
Que leva e lava...
Adeus Maria
Adeus Raimundo
Adeus Joaquim
Adeus Zé
Adeus Mariana
Adeus Rosa
Adeus Antônio
Adeus Pedro
Adeus Carol
Adeus Chico...
Adeus...
À Deus...
“Ah! Deus!”.
Ficha Técnica:
Montagem Litero-Cênico-Musical:
Chão de Águas.
Elenco:
Cristina
Kahwage, Karimme Silva, Tarsila França e Cacau Novais
A Banda:
André
Gaby – Piano
Tom
Salazar – Violão e Bandolim,
JP
Cavalcante – Percussão.
Iluminação:
Marckson
de Moraes
Mapping:
Leandro
Macujah.
Figurino:
Maurício
Franco
Direção Musical:
André
Gaby
Direção Geral:
Cacau
Novais
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