terça-feira, 9 de maio de 2017

O Direito de Reviver – por Nanda Lima

Montagem Teatral: Na Era de Ouro do Rádio / Museu do Estado do Pará (Série Bravíssimo)
Autora da crítica: Nanda Lima: Psicóloga, interprete e tradutora em Língua Inglesa. Participante do Mini Curso "O que pode uma crítica teatral?"
Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) houve um grande desenvolvimento dos meios de comunicação para fins militares, originando com o passar do tempo: o rádio. No Brasil, o rádio atingiu seu apogeu em 1930, logo se tornando o principal veículo de comunicação de massa. Este período foi conhecido como a “Era de Ouro do Rádio”, muito mais que um meio de comunicação, o rádio tornou-se um meio de entretenimento.
Esse é o tema que foi revisitado pelo espetáculo musical e cênico promovido pela Escola de Música Beny Monte. Dirigida por Milton Monte, o programa revelou ao público digital de hoje, um dia no estúdio da época aura deste charmoso veiculo de comunicação do país, com direito a locutor, vinhetas, música ao vivo e uma radionovela, ápice da noite. Ao longo da montagem percebi a riqueza de detalhes históricos e o resgate de intérpretes brasileiros ouvidos e esquecidos nas emissoras de radio das décadas de 30 a 50.
O espetáculo revisitou sucessos como: “A Noite do Meu Bem”, “Aquarela do Brasil” e “Fascinação”, além é claro da marchinha “Cantoras do Rádio”. A reencarnação dos deuses do rádio, que não somente aveludavam as canções, mas também interpretavam seus cantores, lembrou-me de quando minha avó me contava às horas que ela passava ouvindo as radionovelas. E como “O Direito de Nascer” foi uma de suas preferidas.
A dramatização da radionovela, mais do que um bônus aos ouvintes-espectadores, foi uma verdadeira máquina do tempo. A imaginação trabalha sozinha, quando fechamos os olhos e viajamos para a época dourada. As vozes dos atores-intérpretes me conduziram as conversas no meio da tarde, com açaí ou pupunha, em que minha avó contava: “Quem já ouviu o rádio sabe como eram emocionantes os capítulos de O Direito de Nascer”, e ela me contava: “A história se passava em Cuba, Havanna, a Maria Helena engravidara do noivo, que não assumia. Era um escândalo”.
No relato de minha avó, eu podia imaginar ali, uma jovem dar à luz a uma criança, torna-se, o que era rotulo da época, mãe solteira, era algo inaceitável. Preconceitos da época dourada ou eles ainda existem nos dias atuais? Deveria de fato chocar o rechaço do pai de Maria Helena ao seu neto não planejado? Não está condizente com os valores de hoje acusar e julgar as jovens pelo despertar de sua sexualidade? Estamos no século XXI, e no que mudamos?
O espetáculo ia chegando ao seu fim, e outro questionamento me atravessou: Agora que podemos ver o que antes só se imaginava, o que aconteceu com a nossa imaginação? A imaginação é nossa capacidade de formular imagens mentais, construir cenários hipotéticos, manifestar a memória em diferentes maneiras, porém o que acontece com ela quando tudo já é entregue de mão beijada? As diferenças do livro para o filme e como os leitores sempre reclamam que os livros são tão melhores que os filmes. Nos livros, somos empurrados a estimular a nossa imaginação, a ver muito além de nossos olhos, a enxergar com a mente e sua capacidade de alcançar o infinito. Assim mesmo se faz o rádio.
As vozes ecoam e as lágrimas, os risos, os beijos, a raiva, não são dos intérpretes, são nossas. Milton Monte foi capaz de registrar em imagens os sons da era nostálgica da imaginação. Com sutileza, delicadeza e requinte a série Bravíssimo do Museu do Estado do Pará demonstrou o que ainda temos a aprender com o nosso passado.
8 de Maio de 2017
Montagem Teatral:
Na Era de Ouro do Rádio
Museu do Estado do Pará (Série Bravíssimo)
Cantoras-intérpretes:
Alba Ferreira, Iolanda Parente, Joana Coutinho, Kláudia Perdigão, Cláudia Vidal (Graziela), Marileide Coimbra, Socorro Simão e Vick Vale
Cantores-intérpretes:
Renan Villas (Albertinho Limonta), Adnaldo Souza, Almir Morisson, Garibaldi Parente
Instrumentistas:
Gervásio Cavalcante (Violão e Direção Musical), Vinícius Moraes (Guitarra, Teclado e Direção Musical), Zé Macedo (Percussão)
Fotografia:
Thamires Costa
Arte e Cartaz:
Renan Villas
Direção Cênica e Roteiro:
Zezé Caxiado
Direção Geral:
Milton Monte (Narrador)



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