Montagem Teatral: Quem não deve não temer
Grupo Quatrúpedes de Teatro.
Autor da Crítica:
Bernard Freire. Ator e Graduado em Licenciatura em Teatro / UFPA.
“Proibi o uso do nariz vermelho só pelo
fato dele ser ‘vermelho’? Hora, me poupe. FORA TEMER!”
Com a ideia de mostrar a
expressão teatral através da arte da palhaçaria, o Grupo Quatrúpedes de Teatro sai atropelando realidades referentes
ao Brasil e sua política atual. O espetáculo Quem não deve não Temer, é a primeira montagem do grupo que aparece
em cena tirando sarro e se permitindo arrancar do público risos e choros.
Mostrando um retrato da sociedade e a importância de resolver a cena em meio à
crise política presente no país, o espetáculo bagunça as informações e pisa na
sensação de perda dos direitos, nos fichando como criminosos que vivem da
imaginação de se viver. A interpretação persegue os argumentos que os palhaços Tito
e Fiapo colocam em cena, movendo o jogo de ignorância do outro e a surpresa que
temos ao encontrar o inesperado.
Entre músicas e
histórias, o espetáculo revela por meio de mensagens o que não podemos deixar
de acreditar, descobrindo identidades e características entre o público que
participa desse acontecimento contracenando com a história de nossas vidas. Se
encaixando nos buracos cotidianos do palco onde os palhaços se perdem brincando
ao recontar o que acabamos de esquecer. É rindo que os palhaços erram, é se
distraindo que acordamos para entender o absurdo em que nos metemos. A
narrativa contada entre os palhaços e o público, diz o que não queríamos acreditar
em pleno século XXI, quando somos puxados pela história que nos fazem chorar de
verdade. Mas afinal, não era pra rir?
Demonstrar alegria e
prazer em meio à palhaçada a qual estou participando não é a única forma de
atuar. Quero atropelar os sentidos que o palco me permite, mudar o entendimento
que nos fazem acreditar, tirar de dentro da caixa sonhos que podemos ter
acordados, ser cara de pau e roubar além do riso os pertences que tomamos emprestados
para mudar de lugar. O palhaço rir muito quando estamos na merda, devemos ser
ele. Temos que perder não perdendo, ampliar nossa capacidade de argumentos, ser
palhaço e dar cara a tapa para a posição social que está imposta por um
representante que não nos representa. Colocar o nariz vermelho não é brincar, é
torna real o que acreditamos. Sumir para outro plano que pertence a paz do
descanso e voltar na alegria de ser a gente. O que tá do outro lado do espelho
não é a gente, é o retrato social de um país que perde a vontade de acreditar
na realidade, viajando nas bolhas da imaginação que é mais real.
Temos que dar fim ao
espetáculo político, se levantar perante o sistema e romper laços que nos
amarram. É preciso rir de nossas verdades que mostram outro lugar para viver,
perceber que tudo tá errado e que continuamos acreditando no que é nosso. Temos
que nos fazermos de palhaço para quem quer nos fazer de palhaços. Puxar o
tapete e revelar verdades, sonhos e denunciar o absurdo. Sair atropelando em
mil patadas uma representação impostada que nos rouba a essência de fazermos
nossa arte. Ser atrevido, brigar por risos, acreditar que tudo não passa de uma
encenação e atuar a nossa mentira verdadeira. Sair da caixa e acabar se
esbarrando com outras possibilidades que nos conduzem para grandes
perspectivas, ser tudo e ao mesmo tempo quase nada, ser o outro e eu na mesma
situação. Atravessar a corda bamba e romper o silêncio, afinal Quem não deve não temer!.
8
de Maio de 2017
FICHA
TÉCNICA:
Realização:
Grupo Quatrúpedes de teatro
Direção
e Dramaturgia:
Camila Góes, Léo Andrade e Luiz
Girard
Elenco:
Luiz Girard (Tito) e Léo Andrade
(Fiapo)
Maquiagem e Figurino:
Palhaços
Cenografia:
Léo Andrade
Iluminação:
Malu Rabelo
Sonoplastia
e Preparação de Corpo:
Camila Góes
Mídia
e Comunicação:
Bernard Freire
Produção:
Jorge Oliveira e Camila Góes
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