Montagem
teatral: Falando sobre Flores
Proteção
(Plebe
Rude)
Será
verdade, será que não
nada
do que posso falar
e
tudo isso prá sua proteção
nada
do que posso falar
A
PM na rua, a guarda nacional
nosso
medo suas armas, a coisa não tá mal
a
instituição esta aí para a nossa proteção
Pra
sua proteção
Tanques
lá fora, exército de plantão
apontados
aqui pro interior
e
tudo isso para sua proteção
pro
governo poder se impor
A
PM na rua, nosso medo de viver
um
consolo é que eles vão me proteger
aunica
pergunta é: me proteger do que?
Sou
uma minoria mas pelo menos falo o que quero apesar da repressão
Tropas
de choque, PM's armados
mantêm
o povo no seu lugar
Mas
logo é preso, ideologias marcadas
se
alguém quiser se rebelar
Oposição
reprimida, radicais calados
toda
a angustia do povo é silênciada
Tudo
pra manter a boa imagem do Estado!
Sou
uma minoria mas pelo menos falo o que quero apesar da repressão
Armas
polidas, os canos se esquentam
esperando
a sua função
exército
bravo e o governo lamenta
que
o povo aprendeu a dizer não
Até
quando o Brasil vai poder suportar?
Código
penal não deixa o povo rebelar
Autarquia
baseados em armas não dá
E
tudo isso é para a sua segurança
Para
a sua segurança
A partir daqui, começa essa dificílima missão de
explicar o que vi, mediante uma atuação feminina. Pois, é! A melhor sacada
daquela peça foi mostrar que o sexo não
é frágil como muitos dizem ser. Apesar de ter sido uma atuação, é preciso ter
culhão para fazer o que a Demi Araújo fez.
Indiscutivelmente, o que mais me tocou na peça
inteira, e com esse trecho, tentar me aproximar ao máximo de um discurso
feminino, foi uma cena de ameaça, uma cena em que a incitação ao estupro é
escancarada a todos e ela, interpretando ele disse “está vendo este cassetete
aqui? Pois bem, se você não me falar onde estão teus amigos, eu vou enfiar esse
cassetete no cu da sua esposa, e depois na buceta dela até que sangre, e depois
irei trazer para você matar a saudade do cheiro da sua mulher grávida”. Como
disse anteriormente, é preciso “ter culhão” para fazer isso. Essa frase sendo
proferida por uma mulher soa muito mais doloroso, pois só elas sabem o que é
ser abordada todo santo dia, só elas sabem do assédio sexual opressor que
sofrem. E por uma mulher que provavelmente defende a causa do movimento
feminino na luta pelo respeito e reconhecimento, pela igualdade que ainda
inexiste em sua plenitude, falar tudo aquilo, vociferando, agindo como um homem
militar opressor.
Tudo que ela fez dá muito mais enfoque pois veio de
uma mulher, ela sabe e sente muito mais cada palavra proferida naquele momento.
Em algumas vezes é até admirável atitudes masculinas, mas nunca, nunca irá se
equivaler a um discurso feminino sobre assédio, abuso e estupro.
Acredito que a encenação pudesse perder em emoção se a
cena relatada fosse feita pelo Renan Coelho. Quero deixar extremamente claro aqui
que não estou denegrindo a imagem do ator que fez também com muita emoção cada
cena, no entanto, acho que para a comoção chegar onde chegou, realmente era
necessário que fosse feito por ela. Não mudaria em nada do que vi ontem,
palavrão na medida certa, tensão na medida certa e amor pela profissão mais do que
certa.
Como seria para um homem, com os seus 60 anos, um
tanto quanto conservador... Será que ele iria gostar do Falando sobre Flores? Ou será que ele falaria que aquilo lá era uma
pouca vergonha, pois, onde já se viu uma mulher representar um autoritário
opressor, onde já se viu uma mulher fazendo papel de homem, onde já se viu um
homem apanhando de uma mulher sem fazer nada? É, nós sabemos que os tempos são
outros, mas por qual motivo será que a cabeça de certas pessoas não evolui?
15 de Maio de
2017.
Ficha Técnica:
Montagem Teatral
Falando
Sobre Flores
Direção:
Karine
Jansen
Dramaturgia:
Renan
Coelho
Atores:
Renan
Coelho e Demi Araújo
Iluminação:
Luciana
Porto
Sonoplastia:
Jairo
dos Anjos
João
Calado
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