Como
é que se diz Eu Te Amo, montagem teatral com trechos de
músicas da banda Legião Urbana.
Autora
da crítica: Nanda Lima, Psicóloga e internacionalista.
Participante do Minicurso “O que pode uma crítica teatral?”
A tarde é um descanso
para a estação da Primavera, ela que com suas flores sempre traz calma e
harmonia ao final do dia. Ainda que o vento do litoral traga uma brisa de
esquecimento, a onda do mar sempre faz lembrar o Amor. Esse de faces coradas e sorriso estarrecedor
que insiste em brincar na areia e fazer moradia onde não deve. Perdida em
pensamentos, a Primavera se distrai e um cavalo marinho, transeunte romântico
intrépido, faz-lhe uma pergunta: “Como é que se diz Eu Te Amo?”. Ora mas veja
só, que pergunta mais descabida, ela diria, se assim pensasse, porém faz tempo
que a Primavera conversa com o Mar, e ele mais do que ninguém conhece o Amor.
O Amor é como um ouro
que alguém te pede como prova de Amizade, e quem dera a Primavera saber pelo
menos uma vez que a tolice é acreditar que ainda somos como éramos antigamente.
A resposta ainda assim foi: “Quem me dera explicar aquilo que ninguém consegue
entender”. Mesmo quando o cavalo marinho se foi com o Mar, para a Primavera
ficou a tristeza de um Deus morto por quem não tinha nada a dizer.
Faltam palavras, faltam
sorrisos pra simpatizar com o tempo que erra constantemente, e sufoca palavras
cristalizadas com a dor de uma saudade. A Primavera sabia, tão bela quanto
aquela tarde de domingo, que tudo o que é demais nunca é o bastante, e a cada
hora que passa envelhecemos dez semanas. E enquanto a Primavera divaga sobre
ele, o Amor sentou-se a seu lado, primeiro tímido e calmo, mirando o horizonte.
O Amor é assim, sempre chega quando se menos espera.
Ele tinha escutado as
reclamações dela, como ele era um menino tolo e voluntarioso, que só sabia do
que não gostava, indeciso e fanático. A Primavera viu uma lágrima nascer no
canto do seu olhar, o Amor respondeu: “Sempre precisei de um pouco de atenção.
Tu não sabes a dor de fazer com que o mundo saiba seu nome, estar em tudo e
mesmo assim ninguém lhe diz ao menos obrigado”. Ele esticou a mão para tocar as
madeixas coloridas da Primavera, ela rejeitou o toque.
E gritou avassaladora
para ele: “Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você!”, sorridente, e sem
perder o ar risonho, o Amor explicou que ele não queria dominá-la, somente
fazê-la entender. E que ela não se preocupasse, alguém em sua companhia jamais
estava sozinho. A Primavera perguntou se ele sabia onde estava, e que ele podia
até duvidar, mas ela julgava que ele entendia a Dor dela. Antes que ele pudesse
argumentar, ela afirmou que estava tarde e que deveria ir antes da Lua ficar
mais alta. O Amor pediu para eles ficarem acordados a noite inteira: “Será que
nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão?”.
A Primavera falou sobre
os monstros das Noites em claro da Solidão e do Egoísmo, o Amor argumentou que
eles eram monstros da própria criação deles. Ela questionou a ele para quê
deveria ficar, e quem iria protegê-la dos erros a mais dele. Todavia o Amor era
mesmo senhor de tudo, e com uma eloquência digna de um diplomata em campo de
guerra, sua verborragia tomou conta da praia e a Primavera imaginou se ainda
era cedo e ela deveria ficar um pouco mais.
Em poucas palavras o
Amor explicou que ele só queria estar ali, sempre ao lado dela. “Eu sou a razão
para tudo, a Vida existe porque eu existo, Terra, Fogo, Ar, até mesmo o Tempo é
contado a partir de mim. Eu não sou perfeito. Sei disso, eu erro, despedaço-me
e me refaço quantas vezes for necessário. Trago a Saudade e crio casas
distantes e tão perto, tão dentro. Eu sou a Cura para todos os vícios. Eles não
sabem como me chamar, não sabem dizer as minhas três palavras e a culpa é
minha? A matéria, o dinheiro, os problemas afastam as pessoas de mim, e ainda
assim elas me culpam por tudo, perguntam aonde eu estou. Mas eu sempre estou
dentro de cada uma delas”.
“Pergunte-me novamente:
como é que se diz eu te amo. E quem disse que tem que haver razão para as
coisas do Coração, e quem disse que não tem razão para as coisas do Coração?”.
A Primavera olhou para o relógio, eram quase duas e ela iria se ferrar, porém
não se importou em continuar ali com o Amor, que parecia tão feliz em lhe
falar. O Amor se chegou mais perto, contente por olhar a menina que tinha tinta
no cabelo, a vontade de ficar ali crescia, e por algum motivo ele queria
impressioná-la, e enquanto ela lhe falava coisas sobre a Água, o Céu, a Terra e
o Mar, ele lhe falava sobre a Dor, o Tempo, além de frivolidades, novelas e
jogos de videogame e paixões corriqueiras.
E quem irá dizer que
não existe razão nas coisas feitas pelo Coração? Jamais seria novamente a
Primavera, ela pensou. Por mais que odiemos o amor, e jamais tenhamos dito Eu
Te amo, não há como expulsar o Amor, seus olhos são hipnotizantes e sua
presença é ressonante.
Depois dali, ninguém
sabe exatamente o que aconteceu, não é nada fácil de entender a relação do Amor
com ninguém. Como os nossos pais, o Amor nos cria com nome de santo e quer para
nós o melhor, o mais bonito. “Como se é que se diz Eu Te Amo” são perguntas de
tempo perdido. A última coisa que ficou para a Primavera antes da chegada do
Inverno foram as palavras nada fleumáticas do Amor: “É preciso amar as pessoas
como se não houvesse o Amanhã, porque se você parar pra pensar na verdade não
há”. Nunca diga Eu Te amo, ame, ame com toda força, ame com todo o seu coração.
22
de Maio de 2017.
Montagem
Teatral
Como
é que se diz Eu Te Amo
Montagem teatral com trechos de
músicas da banda Legião Urbana.
Elenco:
DANIEL: Leonardo Corrêa
CLARISSE: Damise Vanessah
MAURICIO: Bruno Estanizio
MARIANE: Glenda Michelle
PEDRO: Alex Vilar
EDUARDO: Ruan Carlos Brito
MÔNICA: Fabíola Martins
JOÃO SANTO CRISTO: Danilo Monteiro
MARIA LÚCIA: Tainah Leite
JOHNNY: Edson Oliveira
LEILA: Aida Ranner
PROF RENATO: Rafitah
JEREMIAS: Patrick Santana
DANIEL: Leonardo Corrêa
CLARISSE: Damise Vanessah
MAURICIO: Bruno Estanizio
MARIANE: Glenda Michelle
PEDRO: Alex Vilar
EDUARDO: Ruan Carlos Brito
MÔNICA: Fabíola Martins
JOÃO SANTO CRISTO: Danilo Monteiro
MARIA LÚCIA: Tainah Leite
JOHNNY: Edson Oliveira
LEILA: Aida Ranner
PROF RENATO: Rafitah
JEREMIAS: Patrick Santana
Direção:
Glenda Michele e Leonardo Corrêa
Musicista:
Musicista:
Wanessa Solli
Assessor de imprensa:
Assessor de imprensa:
Leandro Oliveira
Iluminação:
Patricia Grigoletto
Dramaturgia:
Leonardo Corrêa
Dramaturgia:
Que texto lindo. Cada referência bem colocada. Parabéns!
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