segunda-feira, 22 de maio de 2017

Nunca Diga Eu Te Amo – Por Nanda Lima

Como é que se diz Eu Te Amo, montagem teatral com trechos de músicas da banda Legião Urbana.
Autora da crítica: Nanda Lima, Psicóloga e internacionalista. Participante do Minicurso “O que pode uma crítica teatral?”

A tarde é um descanso para a estação da Primavera, ela que com suas flores sempre traz calma e harmonia ao final do dia. Ainda que o vento do litoral traga uma brisa de esquecimento, a onda do mar sempre faz lembrar o Amor.  Esse de faces coradas e sorriso estarrecedor que insiste em brincar na areia e fazer moradia onde não deve. Perdida em pensamentos, a Primavera se distrai e um cavalo marinho, transeunte romântico intrépido, faz-lhe uma pergunta: “Como é que se diz Eu Te Amo?”. Ora mas veja só, que pergunta mais descabida, ela diria, se assim pensasse, porém faz tempo que a Primavera conversa com o Mar, e ele mais do que ninguém conhece o Amor.
O Amor é como um ouro que alguém te pede como prova de Amizade, e quem dera a Primavera saber pelo menos uma vez que a tolice é acreditar que ainda somos como éramos antigamente. A resposta ainda assim foi: “Quem me dera explicar aquilo que ninguém consegue entender”. Mesmo quando o cavalo marinho se foi com o Mar, para a Primavera ficou a tristeza de um Deus morto por quem não tinha nada a dizer.
Faltam palavras, faltam sorrisos pra simpatizar com o tempo que erra constantemente, e sufoca palavras cristalizadas com a dor de uma saudade. A Primavera sabia, tão bela quanto aquela tarde de domingo, que tudo o que é demais nunca é o bastante, e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas. E enquanto a Primavera divaga sobre ele, o Amor sentou-se a seu lado, primeiro tímido e calmo, mirando o horizonte. O Amor é assim, sempre chega quando se menos espera.
Ele tinha escutado as reclamações dela, como ele era um menino tolo e voluntarioso, que só sabia do que não gostava, indeciso e fanático. A Primavera viu uma lágrima nascer no canto do seu olhar, o Amor respondeu: “Sempre precisei de um pouco de atenção. Tu não sabes a dor de fazer com que o mundo saiba seu nome, estar em tudo e mesmo assim ninguém lhe diz ao menos obrigado”. Ele esticou a mão para tocar as madeixas coloridas da Primavera, ela rejeitou o toque.
E gritou avassaladora para ele: “Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você!”, sorridente, e sem perder o ar risonho, o Amor explicou que ele não queria dominá-la, somente fazê-la entender. E que ela não se preocupasse, alguém em sua companhia jamais estava sozinho. A Primavera perguntou se ele sabia onde estava, e que ele podia até duvidar, mas ela julgava que ele entendia a Dor dela. Antes que ele pudesse argumentar, ela afirmou que estava tarde e que deveria ir antes da Lua ficar mais alta. O Amor pediu para eles ficarem acordados a noite inteira: “Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão?”.
A Primavera falou sobre os monstros das Noites em claro da Solidão e do Egoísmo, o Amor argumentou que eles eram monstros da própria criação deles. Ela questionou a ele para quê deveria ficar, e quem iria protegê-la dos erros a mais dele. Todavia o Amor era mesmo senhor de tudo, e com uma eloquência digna de um diplomata em campo de guerra, sua verborragia tomou conta da praia e a Primavera imaginou se ainda era cedo e ela deveria ficar um pouco mais.
Em poucas palavras o Amor explicou que ele só queria estar ali, sempre ao lado dela. “Eu sou a razão para tudo, a Vida existe porque eu existo, Terra, Fogo, Ar, até mesmo o Tempo é contado a partir de mim. Eu não sou perfeito. Sei disso, eu erro, despedaço-me e me refaço quantas vezes for necessário. Trago a Saudade e crio casas distantes e tão perto, tão dentro. Eu sou a Cura para todos os vícios. Eles não sabem como me chamar, não sabem dizer as minhas três palavras e a culpa é minha? A matéria, o dinheiro, os problemas afastam as pessoas de mim, e ainda assim elas me culpam por tudo, perguntam aonde eu estou. Mas eu sempre estou dentro de cada uma delas”.
“Pergunte-me novamente: como é que se diz eu te amo. E quem disse que tem que haver razão para as coisas do Coração, e quem disse que não tem razão para as coisas do Coração?”. A Primavera olhou para o relógio, eram quase duas e ela iria se ferrar, porém não se importou em continuar ali com o Amor, que parecia tão feliz em lhe falar. O Amor se chegou mais perto, contente por olhar a menina que tinha tinta no cabelo, a vontade de ficar ali crescia, e por algum motivo ele queria impressioná-la, e enquanto ela lhe falava coisas sobre a Água, o Céu, a Terra e o Mar, ele lhe falava sobre a Dor, o Tempo, além de frivolidades, novelas e jogos de videogame e paixões corriqueiras.
E quem irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo Coração? Jamais seria novamente a Primavera, ela pensou. Por mais que odiemos o amor, e jamais tenhamos dito Eu Te amo, não há como expulsar o Amor, seus olhos são hipnotizantes e sua presença é ressonante.
Depois dali, ninguém sabe exatamente o que aconteceu, não é nada fácil de entender a relação do Amor com ninguém. Como os nossos pais, o Amor nos cria com nome de santo e quer para nós o melhor, o mais bonito. “Como se é que se diz Eu Te Amo” são perguntas de tempo perdido. A última coisa que ficou para a Primavera antes da chegada do Inverno foram as palavras nada fleumáticas do Amor: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse o Amanhã, porque se você parar pra pensar na verdade não há”. Nunca diga Eu Te amo, ame, ame com toda força, ame com todo o seu coração.
22 de Maio de 2017.

Montagem Teatral
Como é que se diz Eu Te Amo
Montagem teatral com trechos de músicas da banda Legião Urbana.
Elenco:
DANIEL: Leonardo Corrêa
CLARISSE: Damise Vanessah
MAURICIO: Bruno Estanizio
MARIANE: Glenda Michelle
PEDRO: Alex Vilar
EDUARDO: Ruan Carlos Brito
MÔNICA: Fabíola Martins
JOÃO SANTO CRISTO: Danilo Monteiro
MARIA LÚCIA: Tainah Leite
JOHNNY: Edson Oliveira
LEILA: Aida Ranner
PROF RENATO: Rafitah
JEREMIAS: Patrick Santana
Direção:
Glenda Michele e Leonardo Corrêa
Musicista:
Wanessa Solli
Assessor de imprensa:
 Leandro Oliveira
Iluminação:
Patricia Grigoletto
Dramaturgia:
Leonardo Corrêa

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