Montagem teatral: Lúgubre
Autor da crítica: Ramon Oliveira.
Participante do mini curso “O que pode uma crítica teatral?”
Imagine que você possa ser um padre
de frente com um carrasco no momento de sua confissão de pecado. Será que
saberíamos lidar com tamanho privilégio? Com certeza! O carrasco teria medo da
gente. Já parou para pensar que somos cruéis? Se tivéssemos que admitir a
quantidade de maldade que somos capazes de imaginar teríamos que aposentar a
profissão de carrasco e criar uma nova. E quem não gosta de ouvir os “podres”
de um (des)conhecido, e melhor ainda, fazer essa pessoa acreditar que depois
disso ela cumpriu ou deu um passo considerável para o perdão com Deus. Acho que
irei virar padre! Tomar chá com mel, ver um mar de gente aos meus pés, usar
joias; que vida... Mas, não serei padre não. Até onde eu sei, padre não pode
ter cópulas com suor, gemido e orgasmo!!! Pois, é! Não serei padre.
Já pensou você virar refém da sua
própria cobiça? Sacanagem, né? Mas eu vi isso! Vi uma costureira cobrar
absurdamente caro por um trabalho. E sabe o pior de tudo? Depois que ela
recebeu o pagamento, não aguentou o peso da moeda. Eu faria uma forcinha para
levar essa grana para casa de uma vez só. Acho que muita moeda iria cair pela
rua, mas não iria fazer falta, ou talvez, sim. Sinceramente, às vezes quero
tanto, que dois braços não seriam nunca suficientes para carregar tudo o que
quero, e nunca “parei pra pensar” no contrário, viver apenas com o suficiente.
Nossa, que escroto eu sou! Não penso nem no meu próximo. Pelo menos tenho
consciência das minhas inescrupulosas atitudes. Falo isso, mas sempre que vejo
uma situação onde alguma pessoa passa por uma dificuldade desumana, me dá uma
certa tristeza e impotência, mas... Life
goeson.
E agora?! Essa é boa! Imagine que
você tenha quatro escravos sexuais? Pois, é, eu vi essa cena e fiquei pensando
se aquela mulher realmente estava satisfeita com tudo aquilo. Eu,
particularmente, acredito que não. Acho que ela sempre queria mais, e
ludibriava seus servos para que eles pudessem se “envenenar” com o suco que
saia dos seus pequenos lábios para desejarem, então, avidamente ser o ESCOLHIDO
da rainha. Essa “poligamia” sexual hoje em dia seria repudiada se fosse
apresentado mais abertamente. Mas quem nunca teve um fetiche de imaginar que
terá pessoas a tua disposição para cópulas infinitas, com o objetivo de ter o
prazer incessante. É... acho que apesar do ser humano buscar sempre o prazer,
acredito que quando ele (prazer) estiver de modo infinito na vida, talvez a
gente deseje sentir falta da angústia, daquela dificuldade em conseguir algo. Dizem
que a felicidade é pouco inspiradora, mas será que isso vale para o prazer
também? Bom, não sei. Nunca vivi um prazer incessante, nem tristeza infinita.
Se você conhecer alguém, me avise, beleza?
Ai que sociedadezinha repugnante!
A todo momento quer opinar e viver a vida do outro.
Parece que na vida dessas pessoas não acontece nada de interessante a ponto de
se intrometerem demasiadamente na vida “dos otro”. De tanta perturbação, chega
a ser chato conviver ou ser vizinho de uma dessas pessoas intrometidas. Como
existem pessoas assim no Brasil. E o pior nem é isso, pois além da intromissão
da pessoa, ela ainda é uma escrota preconceituosa. Falam por aí que temos que
compreender os mais velhos pois eram de outra época, mas tem gente nova com um
pensamento tão arcaico quanto de uma pessoa nascida na década de 50. Imagina
você sacrificar um filho pois ele nasceu “doente”, por ser homossexual. O
conservadorismo dessa família é tão forte que eles tiveram coragem de matar um
filho. Apesar, dessa relação familiar ser considerada por alguns um fato
social, é um tanto quanto complicado digerir essa informação de um filicídio.
Acredito que o homem retrocede um pouco a cada atitude dessa, e não digo uma
atitude vital como essa, falo neste momento dos preconceitos presentes onde
vivemos, porque se formos falar de um filicídio, não sobraria ninguém para
tecer um relato. Eu já teria condenado essa sociedade. Sei que não tenho
direito nenhum de condenar alguém, mas às vezes a vontade é grande, faria e não
pensaria duas vezes. É foda, tanta gente querendo ter um filho, mas não pode, e
outros matando por tão pouco. Sinto pena.
Juro que ri sozinho lembrando
dessa cena que vi. Foi um tapa na cara dos crentes da igreja universal do reino
de deus. Acho, inclusive, que uma crente que assistia a peça, se retirou do
teatro Claudio Barradas, naquela noite. Mas, voltemos ao texto. Eu gostei desse
humor escrachado. Gostei muito, pois eu em alguns momentos, faço alguns
comentários escrachados sobre a própria universal, amém irmão? Os caras fazem
tudo pela grana, e o que mais me entristece é que existe milhares de pessoas
que ainda acreditam na palavra do pastor. Acho que a situação dessas pessoas
deve ser tão difícil que quando alguém dá um voto de esperança, nós damos tudo
ou quase tudo o que temos na expectativa de mudar de vida, e infelizmente ainda
acreditamos na palavra de um oportunista. Mas, “[...] na sexta vai para igreja
comungar com a sua família, voz sagrada, Jesus Cristo é o senhor [...]”[1].
Amém, irmão? Vamos dar um aleluia para Deus?! Aleluiaaa!
O que mais me chama atenção, depois
de uma semana que havia assistido à peça Lúgubre, é minha curiosidade em querer
saber se as pessoas ainda estão pensando no que viram, ou se cada parcela da
sociedade que foi encenada ali pensa nas atitudes que tomam, atitudes que em determinados
momentos geram revoltas, punição, mas que às vezes sem perceber, atitudes que
“salvam”, atitudes que parecem ascender uma luz no final do túnel. Mas como
será que essas pessoas vivem? Como se vive sabendo que se está usando da
fragilidade alheia, sabendo que já matou seu filho, sabendo que escraviza por
prazer. Será que a vida segue numa boa? Bom, não será eu quem vai dizer o que é
certo, pois, com certeza muitos também discordam e até condenam o que penso.
Mas, felizmente, eu penso!
15 de Maio de 2017.
Montagem
Teatral:
Lúgubre
Cia
Paraense de Potoqueiros
Elenco:
Alice Bandeira, Allyster Fagundes,
Charles Roosevelt, Giscele Damasceno, Jadylson de Araújo, Juan Silva, Leoci
Medeiros, Nilton Cézar e Valéria Lima.
Dramaturgia:
Breno Monteiro e Lauro Sousa
Direção
de Visualidade:
Lauro Sousa
Figurino:
Lauro Sousa e Lucas Belo
Cenografia:
Breno Monteiro, Lauro Sousa e Lucas
Belo
Iluminação:
Breno Monteiro
Maquiagem:
Nilton Cézar
Trilha
Sonora:
Lauro Sousa
Operação
de Sonoplastia:
Erllon Viegas
Direção
Coreográfica:
Juan Silva
Preparação
Corporal:
Leoci Medeiros
Mídias
Sociais:
Nilton Cézar
Assessoria
de Imprensa:
Allyster Fagundes e Nilton Cézar
Fotografia:
Allyster Fagundes
Direção:
Breno Monteiro
Apoio:
Casarão Viramundo, LB Assessoria e
Cerimonial, Teatro Universitário Cláudio Barradas e Ná Figueredo.
[1]
Música “Quem é você?”, banda
Detonautas Roque Clube.
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