Crítica
à montagem teatral: Lúgubre.
Diego
Maia da Costa: graduando em História na Universidade Federal do Pará e aluno do
minicurso “O que pode uma crítica teatral? ”.
De repente, eu estava lá. Em meio aquele incendiário
amarelo de aspecto tenebroso. Sujeitos de distintas tribos e classes sociais me
acompanhavam, tão desorientados quanto um doleiro a caminho do paraíso.
Olhávamos, uns aos outros, estarrecidos por um temeroso presságio que a cada
minuto, parecia confirmar-se.
Seres estranhos e aparentemente malignos, após
emergirem sei lá de onde, direcionaram-nos a uma espécie de “cordão de
isolamento”, e rodearam-nos manipulados por trejeitos alucinógenos. Minha alma
gritava socorro, mas meu corpóreo, estarrecido pelo medo, mantinha-se
petrificado em meio ao “círculo do pânico”.
Sem voz, observava o movimento agonizante dos pobres
diabos anfitriões. Quem eram? De onde vieram? Quem esperam? Por que estou aqui?
Eu quero a minha mãe!
Desesperado, sou surpreendido pelo que acho ser o
líder dos “condenados”. Diferentemente dos outros, ele fala, discursa e critica
uma certa sociedade escravizada. Porém, reflexo da sociedade corruptível (e
alienada) que nos permeia, o irradiante orador logo junta-se a nós e aos outros
na peregrinação ao que acho ser o fim da linha. O que já era aterrador,
tornava-se, a cada passo, infernal.
E chegamos... ao ceticamente inacreditável: o
julgamento dos pecadores.
– Mas o que
eu fiz para estar aqui?
– Eu pequei?!
– Não!
– Desde que nasci, segui todos os dogmas da Igreja
Católica Apostólica Romana! Nunca matei, nem roubei; se xinguei ou ofendi
alguém, tive, é claro, reais motivos para isso.
– É ... talvez tenha olhado taciturnamente a
namorada de um amigo, mas foi força do instinto; por isso, não se configura
pecado, não é?!
– Tudo bem ... talvez eu tenha “sacaneado” as
feministas da Universidade, mas foi brincadeira, não machismo; não estou certo?
– E ... devo confessar: menti algumas (muitas)
vezes, mas quem nunca mentiu?!
E assim, perdido em minhas hipócritas
justificativas, passei a clamar mentalmente o misericordioso perdão. Porém, já
não havia mais escapatória. Meu trágico destino paulatinamente aproximava-se.
Emudecido, ouvi o mais perverso sorriso de toda minha
vida. Da escuridão, o executor daquele som demoníaco, lentamente
personificava-se em nossa frente. Meus olhos, negavam-se a querer vê-lo, mas
minha curiosidade animalesca sobrepunha-se a qualquer tipo de cegueira
espontânea. E ele estava... diante de mim; sem qualquer pudor, sem qualquer
disfarce; insaciável por aglutinar almas impuras em seu temível calabouço; era
real, era fatal, era o mau.
O senhor das trevas era implacável, porém, justo.
Todos os intermináveis réus que por ali passavam, certamente reverberavam sua
defesa. Contudo, perdidos em suas próprias contradições, eram almejados pelo
discurso moralista do Satanás e fadados ao martírio eterno.
E eu estava ali, marcado pela áurea pecaminosa de
minhas ações, mas inapto ao futuro tormentoso. Um por um, éramos, então,
julgados. Praticamente todos diziam-se inculpados, todavia, cada um,
intrinsecamente reconhecia seus delitos.
Machismo, homofobia, ganância eram palavras entoadas
numa frequência incontrolável em cada julgamento orquestrado pelo mais
diabólico dos seres. Seu fatídico veredicto, desnorteava tanto os malévolos
espíritos, que qualquer resistência era asfixiada pelo pranto extensivo. Não
havia salvação, absolvição ou perdão. Tudo era previamente drástico e
incontornável. Só havia uma e dolorida certeza: o sofrimento.
Eis que chega a minha hora. O que falar? Nada.
Prefiro o imaculado silêncio que me acompanhara em todo aquele mundo sombrio.
Ouço as acusações sem pestanejar. Totalmente perplexo, escuto minha condenação.
Abaixo a cabeça e caminho inconsolável em direção ao meu futuro e mórbido
habitat. Vejo fogo, entranhas, vísceras, sangue... até uma voz suave, salvar-me
daquele abismo irreversível.
– Amigo, o espetáculo já vai começar.
– Espetáculo?Ah, tá! Obrigado!
– Você sabe me dizer que horas são?
– 18h22min.
– Tá atrasado, não é?!
– Sim, como sempre!
– Você está bem?
– Acho que sim. Tive um sonho...
– Nossa! Era sobre o quê?
15
de maio de 2017
Ficha
Técnica:
Lúgubre
Cia
Paraense de Potoqueiros
Elenco:
Alice Bandeira, Allyster Fagundes, Charles
Roosevelt, Giscele Damasceno, Jadylson de Araújo, Juan Silva, Leoci Medeiros,
Nilton Cézar e Valéria Lima.
Dramaturgia:
Breno Monteiro e Lauro Sousa
Direção
de Visualidade:
Lauro Sousa
Figurino:
Lauro Sousa e Lucas Belo
Cenografia:
Breno Monteiro, Lauro Sousa e Lucas Belo
Iluminação:
Breno Monteiro
Maquiagem:
Nilton Cézar
Trilha
Sonora:
Lauro Sousa
Operação
de Sonoplastia:
Erllon Viegas
Direção
Coreográfica:
Juan Silva
Preparação
Corporal:
Leoci Medeiros
Mídias
Sociais:
Nilton Cézar
Assessoria
de Imprensa:
Allyster Fagundes e Nilton Cézar
Fotografia:
Allyster Fagundes
Direção:
Breno Monteiro
Apoio:
Casarão Viramundo, LB Assessoria e Cerimonial,
Teatro Universitário Cláudio Barradas e Ná Figueredo.
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