segunda-feira, 17 de abril de 2017

Quando acreditar na Arte? – Por Nanda Lima

Nanda Lima: Psicóloga, tradutora e interprete em Língua Inglesa, Participante do Minicurso de crítica teatral “O que pode uma crítica teatral?”.
Crítica à montagem teatral: A Paixão de Cristo – Paroquia dos Capuchinhos  
 Deixe-me te contar a primeira vez que eu acreditei na Arte, eu era bem pequena, deveria ter meus quatro anos de idade quando conheci Papai Noel. O encantamento da Arte arrebatou-me suspiros e olhos marejados. Eu podia ver, eu podia acreditar: Papai Noel existe. Hoje posso compreender, é isto que a Arte pode fazer, levar-nos em seus carrosséis alados por nuvens de algodão até onde os sonhos moram, até onde o impossível reside.
      Neste fim de semana pude acompanhar junto ao Grupo de Teatro e Dança Renascer da Paróquia dos Capuchinhos em Belém do Pará o espetáculo tão reprisado no mundo: A Paixão de Cristo. O grupo constituído por jovens atores evangelistas há 12 anos utiliza, de como eles mesmos bem descrevem, da simbiose liturgia-teatro na procissão na Via-Sacra para explanar os últimos momentos de Jesus Cristo de Nazaré, em 15 passos até a sua morte na Cruz, nos moldes das peças gregas, em procissões dionisíacas. Teatro ao ar livre, com acústica natural e cenário singelo e simbólico que apontam para a expressão dos atores em cena.
         Sob a direção artística de Suelen Miguele, que em outras oportunidades já atuou no espetáculo como Maria Madalena e Nossa Senhora de Nazaré, a Via-Dolorosa atraí os olhos não somente de cristãos, mas de curiosos, que abrem suas janelas e as portas de suas casas para acompanhar os passos de um homem torturado pelas suas crenças. O texto adaptado da bíblia remonta o sacrifício e ressurreição de Jesus Cristo e nos transporta por algumas horas a longa e lancinante caminhada até a crucificação.
Na oportunidade, esqueço-me onde estou, e compreendo o que nos faz acreditar, ainda que, em muitas noites, lágrimas em oração atinjam nossos rostos, ainda que a dor apedreje nosso caminho. Mesmo sem a prova que alguém possa ouvir, encerramos nos olhos e pedimos por algo que malmente conseguimos entender. Isso se chama acreditar.
Escuto alguém falar sobre um assalto na vizinhança, bandidos que levam o que arduamente se lutou pra ter e penso nos momentos de temor que sofremos. Olho para as chagas de cristo, e o peso da cruz que ele carrega, o passo fragilizado que dá para o lado. O instante de fragilidade em que o homem questiona o abandono. Parece que a esperança escapou como pássaros a revoar no céu distante. Todavia da multidão um camponês surge trazendo ajuda e abrigo a Cristo e meu coração se estufa com um sentimento que ainda não posso nomear e grito junto incentivando a árdua tarefa diante de mim. Isso se chama acreditar.
E quando, após sua crucificação, Jesus ergue-se de branco, palavreando sobre a paz, o coração se enche de esperança ainda que saibamos que há muito que se temer, a fé nos conduz a mover montanhas. Isso se chama acreditar.
Quando se acredita que milagres podem acontecer? A esperança é a ultima a morrer porque Pandora a trancou na caixa ou porque, ainda na devassidão que esta trouxe, a pequena compreendeu o significado do acreditar no melhor? Quando se acredita no espetáculo, o coração te transporta para onde você quiser. E quem pode dizer o que mais a Arte pode fazer quando se acredita? Quando se acredita, de alguma forma os olhos saem da alma para o coração.
Porém, não espere que a epifania da Arte aconteça toda vez que você assistir a uma peça, que a Arte irá desabrochar toda vez que você assim o quiser. Não isso não ocorrerá. Os momentos de fé são singelos, estão nos detalhes, nas descobertas, nas inovações, nas experiências. E é tão fácil desistir, sentir medo de fazer o novo, de fazer o velho de um jeito novo, de tentar e reinventar.
Posso compartilhar um pouco do que senti neste final de semana sobre como renascer a sua esperança e o seu acreditar. Quando estiveres cego pela dor e a chuva de domingo não te deixar ver muito além do horizonte, saiba escutar a voz que grita dentro de ti, ela parte do acreditar, ela nasce da esperança e te fará acreditar no que quiseres.
Acredite. Apenas acredite.

17 de Abril de 2017.
FICHA TÉCNICA
Montagem Teatral:
Paixão, Morte e Ressurreião de Cristo- Capuchinhos.
Atuantes:
Adrielly Nunes, Agostinho Hermes de Miranda Neto, Anderson Thiago dos S. de Souza, Beatriz Sousa da Silva, Brendo Ramos Trindade, Breno Ramos Trindade, Bruno Ramos Trindade, Camilli Silva de Oliveira, Carlos Eduardo da Silva Almeida, Cristyan Cleidison Almeida Monteiro, Crys Medeiros, Douglas Rodrigues Pinheiro da Costa, Eduardo Bandeira, Eliton Sandro Gomes de Albuquerque, Emilene Monteiro, Ester Barbosa Leray, Everson Gonçalves Rolim, Fabrício Bruno Bahia Damasceno, Felipe Henrique Bastos e Bastos, Flávio Sampaio Fasterra, Gleydson Araújo Malcher, Gabriel Souza, Helloane Sousa, Hugo Leonardo Corrêa Gomes, Igor Juan Silva de Moraes, Isabela Miranda, Jamilly Gabrielly Leray Castro, Jennifer Raiol, Gaspar José Ribamar De Oliveira, José Ronaldo Correa Batista Junior, Josyele Beatriz Souza de Souza, Joyse dos Santos Carvalho, Julia Miranda, Junior Barroso, Kananda Gonçalves de Matos, Kayla Queiroz, Kemily Lorrane Arceno Azevedo, Krys Medeiros, Lanna Nycoly Barroso Pereira, Leandro Barbosa Mota, Leonam Ribeiro, Leonardo Barbosa Mota,Livia Carvalho, Luana Bárbara Pereira Lima, Luciano Barbosa Mota, Luiz Antônio Maciel Monteiro, Marcos Henryque Leray Castro, Maria Luana Soeiro Monteiro, Mateus Leal Maurício, Felipe Almeida da Silva, Murilo Ferreira Santos, Nelson Monteiro, Nicolas André Lima Sousa, Nicolas Guilherme Mendes, Nilton Ricardo Oliveira Silva, Paula Beatriz Souza De Oliveira, Paulo Renan Cavalcante Felix, Paulo Victor da Silva Lemos, Raphael Andrade Rocha, Rafael Oliveira, Ricardo Oliveira, Ronaldo Teixeira Tavares, Rosimere Lobato Mendes, Samuel Martins Teixeira, Taissa Reis, Thiago Nazareno Basto de Oliveira, Valeska de Sousa Monteiro dos Santos, Vânia Almeida, Vinícius Silva de Oliveira, Wendel Bonelly Pignatario Pires, Wisdyslane Carvalho Maciel

Direção
Suelen Miguele – Diretora
Everson Rolim - Coordenador
Claudionor Corrêa - Vice Coordenador
Eduardo Brito - Sonoplastia
Apoio Técnico
Vanda Almeida Luís Brito Ondina Pereira Herick Gurjão Leilson Alves Suzi Ramos José Almeirindo
Pároco
Figurinos
Grupo Renascer
Frei Arilson
Estrutura Física
JEFFERSON Som & Iluminação LOC Engenharia



Um comentário:

  1. Agradeço pela sua sensibilidade, Nanda Lima. Obrigado por prestigiar a encenação de Paixão de Cristo e fazer esta crítica. Sobretudo por termos poucas referências das paixões nesta cidade. No qual é uma das mais importantes manifestações do teatro religioso.
    Infelizmente, ainda hoje este teatro é cognominado pejorativamente como “teatrinho de igreja”, sobretudo no meio acadêmico onde consideram como amador e, para alguns, amador está abaixo do profissional. Mas este é um raciocínio falacioso, afinal, o teatro de igreja é a representante primeira da catequização Jesuítica em terras brasileiras. Ademais de ser um teatro que engloba uma comunidade em busca de um bem comum para sua comunidade- acesso a ARTE. Além de que, neste referido teatro que saem homens e mulheres docentes, atuantes e diretores para a cena teatral desta cidade.
    Acredito no que tu disseste, sobretudo na força subversiva de apontar as mazelas ou acolhedora que só o fazer teatral agrega
    Não acreditamos mais no papai Noel, mas acreditamos (ou temos esperanças) que o bem prevalecerá.
    Acredito... Apenas acredito.

    ResponderExcluir