Nanda
Lima: Psicóloga, tradutora e interprete em Língua Inglesa, Participante do
Minicurso de crítica teatral “O que pode uma crítica teatral?”.
Crítica à montagem
teatral: A Paixão de Cristo – Paroquia dos Capuchinhos
Deixe-me te contar a primeira vez que eu
acreditei na Arte, eu era bem pequena, deveria ter meus quatro anos de idade
quando conheci Papai Noel. O encantamento da Arte arrebatou-me suspiros e olhos
marejados. Eu podia ver, eu podia acreditar: Papai Noel existe. Hoje posso
compreender, é isto que a Arte pode fazer, levar-nos em seus carrosséis alados
por nuvens de algodão até onde os sonhos moram, até onde o impossível reside.
Neste fim de semana pude acompanhar junto ao Grupo de Teatro
e Dança Renascer da Paróquia dos Capuchinhos em Belém do Pará o espetáculo tão
reprisado no mundo: A Paixão de Cristo. O grupo constituído por jovens atores
evangelistas há 12 anos utiliza, de como eles mesmos bem descrevem, da simbiose
liturgia-teatro na procissão na Via-Sacra para explanar os últimos momentos de
Jesus Cristo de Nazaré, em 15 passos até a sua morte na Cruz, nos moldes das
peças gregas, em procissões dionisíacas. Teatro ao ar livre, com acústica
natural e cenário singelo e simbólico que apontam para a expressão dos atores
em cena.
Sob a direção artística de Suelen Miguele, que em outras
oportunidades já atuou no espetáculo como Maria Madalena e Nossa Senhora de
Nazaré, a Via-Dolorosa atraí os olhos não somente de cristãos, mas de curiosos,
que abrem suas janelas e as portas de suas casas para acompanhar os passos de
um homem torturado pelas suas crenças. O texto adaptado da bíblia remonta o
sacrifício e ressurreição de Jesus Cristo e nos transporta por algumas horas a
longa e lancinante caminhada até a crucificação.
Na oportunidade,
esqueço-me onde estou, e compreendo o que nos faz acreditar, ainda que, em
muitas noites, lágrimas em oração atinjam nossos rostos, ainda que a dor
apedreje nosso caminho. Mesmo sem a prova que alguém possa ouvir, encerramos
nos olhos e pedimos por algo que malmente conseguimos entender. Isso se chama
acreditar.
Escuto alguém falar sobre
um assalto na vizinhança, bandidos que levam o que arduamente se lutou pra ter
e penso nos momentos de temor que sofremos. Olho para as chagas de cristo, e o
peso da cruz que ele carrega, o passo fragilizado que dá para o lado. O
instante de fragilidade em que o homem questiona o abandono. Parece que a
esperança escapou como pássaros a revoar no céu distante. Todavia da multidão
um camponês surge trazendo ajuda e abrigo a Cristo e meu coração se estufa com
um sentimento que ainda não posso nomear e grito junto incentivando a árdua
tarefa diante de mim. Isso se chama acreditar.
E quando, após sua
crucificação, Jesus ergue-se de branco, palavreando sobre a paz, o coração se
enche de esperança ainda que saibamos que há muito que se temer, a fé nos
conduz a mover montanhas. Isso se chama acreditar.
Quando se acredita que milagres
podem acontecer? A esperança é a ultima a morrer porque Pandora a trancou na
caixa ou porque, ainda na devassidão que esta trouxe, a pequena compreendeu o
significado do acreditar no melhor? Quando se acredita no espetáculo, o coração
te transporta para onde você quiser. E quem pode dizer o que mais a Arte pode
fazer quando se acredita? Quando se acredita, de alguma forma os olhos saem da
alma para o coração.
Porém, não espere que a
epifania da Arte aconteça toda vez que você assistir a uma peça, que a Arte irá
desabrochar toda vez que você assim o quiser. Não isso não ocorrerá. Os
momentos de fé são singelos, estão nos detalhes, nas descobertas, nas
inovações, nas experiências. E é tão fácil desistir, sentir medo de fazer o
novo, de fazer o velho de um jeito novo, de tentar e reinventar.
Posso compartilhar um
pouco do que senti neste final de semana sobre como renascer a sua esperança e
o seu acreditar. Quando estiveres cego pela dor e a chuva de domingo não te
deixar ver muito além do horizonte, saiba escutar a voz que grita dentro de ti,
ela parte do acreditar, ela nasce da esperança e te fará acreditar no que
quiseres.
Acredite. Apenas
acredite.
17 de Abril de 2017.
FICHA
TÉCNICA
Montagem
Teatral:
Paixão, Morte e Ressurreião de Cristo- Capuchinhos.
Atuantes:
Adrielly Nunes, Agostinho Hermes de Miranda Neto,
Anderson Thiago dos S. de Souza, Beatriz Sousa da Silva, Brendo Ramos Trindade,
Breno Ramos Trindade, Bruno Ramos Trindade, Camilli Silva de Oliveira, Carlos
Eduardo da Silva Almeida, Cristyan Cleidison Almeida Monteiro, Crys Medeiros,
Douglas Rodrigues Pinheiro da Costa, Eduardo Bandeira, Eliton Sandro Gomes de
Albuquerque, Emilene Monteiro, Ester Barbosa Leray, Everson Gonçalves Rolim,
Fabrício Bruno Bahia Damasceno, Felipe Henrique Bastos e Bastos, Flávio Sampaio
Fasterra, Gleydson Araújo Malcher, Gabriel Souza, Helloane Sousa, Hugo Leonardo
Corrêa Gomes, Igor Juan Silva de Moraes, Isabela Miranda, Jamilly Gabrielly
Leray Castro, Jennifer Raiol, Gaspar José Ribamar De Oliveira, José Ronaldo
Correa Batista Junior, Josyele Beatriz Souza de Souza, Joyse dos Santos
Carvalho, Julia Miranda, Junior Barroso, Kananda Gonçalves de Matos, Kayla
Queiroz, Kemily Lorrane Arceno Azevedo, Krys Medeiros, Lanna Nycoly Barroso
Pereira, Leandro Barbosa Mota, Leonam Ribeiro, Leonardo Barbosa Mota,Livia
Carvalho, Luana Bárbara Pereira Lima, Luciano Barbosa Mota, Luiz Antônio Maciel
Monteiro, Marcos Henryque Leray Castro, Maria Luana Soeiro Monteiro, Mateus
Leal Maurício, Felipe Almeida da Silva, Murilo Ferreira Santos, Nelson Monteiro,
Nicolas André Lima Sousa, Nicolas Guilherme Mendes, Nilton Ricardo Oliveira
Silva, Paula Beatriz Souza De Oliveira, Paulo Renan Cavalcante Felix, Paulo
Victor da Silva Lemos, Raphael Andrade Rocha, Rafael Oliveira, Ricardo Oliveira,
Ronaldo Teixeira Tavares, Rosimere Lobato Mendes, Samuel Martins Teixeira,
Taissa Reis, Thiago Nazareno Basto de Oliveira, Valeska de Sousa Monteiro dos
Santos, Vânia Almeida, Vinícius Silva de Oliveira, Wendel Bonelly Pignatario
Pires, Wisdyslane Carvalho Maciel
Direção
Suelen Miguele – Diretora
Everson Rolim - Coordenador
Claudionor Corrêa - Vice Coordenador
Eduardo Brito - Sonoplastia
Apoio
Técnico
Vanda Almeida Luís Brito Ondina Pereira Herick
Gurjão Leilson Alves Suzi Ramos José Almeirindo
Pároco
Figurinos
Grupo Renascer
Frei Arilson
Estrutura
Física
JEFFERSON Som & Iluminação LOC Engenharia
Agradeço pela sua sensibilidade, Nanda Lima. Obrigado por prestigiar a encenação de Paixão de Cristo e fazer esta crítica. Sobretudo por termos poucas referências das paixões nesta cidade. No qual é uma das mais importantes manifestações do teatro religioso.
ResponderExcluirInfelizmente, ainda hoje este teatro é cognominado pejorativamente como “teatrinho de igreja”, sobretudo no meio acadêmico onde consideram como amador e, para alguns, amador está abaixo do profissional. Mas este é um raciocínio falacioso, afinal, o teatro de igreja é a representante primeira da catequização Jesuítica em terras brasileiras. Ademais de ser um teatro que engloba uma comunidade em busca de um bem comum para sua comunidade- acesso a ARTE. Além de que, neste referido teatro que saem homens e mulheres docentes, atuantes e diretores para a cena teatral desta cidade.
Acredito no que tu disseste, sobretudo na força subversiva de apontar as mazelas ou acolhedora que só o fazer teatral agrega
Não acreditamos mais no papai Noel, mas acreditamos (ou temos esperanças) que o bem prevalecerá.
Acredito... Apenas acredito.