terça-feira, 4 de abril de 2017

O amor incomum – Por Maria Christina

Montagem teatral: Marahu
Montagem: Cia de Teatro Madalenas.
Autora da crítica: Maria Christina. Produtora; Jornalista Cultural; Participante do Minicurso de crítica teatral “O que pode uma crítica teatral?”

O espetáculo Marahu homenageia o poeta paraense Max Martins, falecido em 2009, operando vários elementos concomitantemente, ultrapassando o modus operandi do teatro mais tradicional quando adiciona efeitos especiais, como o fazer contemporâneo da arte em geral. Embora sua constituição seja artesanal, refina-se o discurso linkando-o a outra expressão artística e utiliza recursos high tech sem, naturalmente, comprometer o conteúdo e a ação, mantendo a visceralidade, sem a qual não se pode falar do poeta.
Impossível não fazer, em determinado momento de muita suavidade, uma analogia com o filme O Livro de Cabeceira, de Peter Greenaway (1996), no qual em alguns trechos o corpo feminino assume outros contornos, como a sugerir um território a ser tocado e explorado pelas palavras, como um receptáculo de imagens e desejos, meio brincando também com o caderno de artista de Max, o qual imprimia ali, em palavras, desenhos e colagens, sua inspiração, suas projeções.
Os haicais no fundo do palco, e a atriz interpondo-se como a usurpar daquela tela a primazia de tê-los gravados no corpo, é um dos momentos mais híbridos do espetáculo, que avança sempre declinando da atuação clássica e assume como que a performance artística, dialogando com a imagem projetada, dançando ao som de entremeio para uma voz que mesmo estando, não está mais ali.
O corpo mexe e se contorce, as palavras sobem e descem em movimentos de onda pelas curvas dos braços e pernas, caminham sobre o intruso permitindo-se um dueto, repetindo sob nova roupagem o que desde o início a peça nos sugere,  transportando-nos todos a uma nesga de praia sob a luz prata que invade as janelas de uma cabana, testemunha de um amor incomum do poeta por aquela natureza.
Nada é ao acaso. Tudo o que está ali é matéria prima a tecer loas ao homenageado, e cada ato e fração de luz leva-nos a Max, que mesmo observando-nos com os olhos levemente apertados, levanta-se, pega o cajado de madeira e some no horizonte que se funde na areia.
Inverno de 2017

FICHA TÉCNICA:
Montagem:
Cia de Teatro Madalenas
Elenco:
Flavio Furtado, Leonel Ferreira e Marta Ferreira.
Iluminação:
Thiago Ferradaes.
Direção e Edição de Vídeos:
Carol Abreu.
Direção Musical:
Diego Vattos.
Dramaturgia:
Saulo Sisnando.
Coordenação Geral:
Leonel Ferreira.
Realização:
Cia de Teatro Madalenas.
Registros:

Naldo Silva.

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