Montagem teatral: PopPorn – Sete vidas e infinitas
possibilidades de corações partidos.
Montagem: Teatro de Apartamento.
Autora da crítica: Marta
Teixeira: Atriz; Acadêmica de Licenciatura em Teatro na Universidade Federal do
Pará; Participante do Minicurso de Crítica Teatral: “O que pode uma crítica
teatral?”
É interessante como fatos
da atualidade nos fazem pensar quando são representados por personagens.
O dia 19 de março foi um
dos dias marcados para o grupo Teatro de Apartamento apresentar o espetáculo Pop Porn – Sete vidas e infinitas
possibilidades de corações partidos, este completava 16 anos de exibição e
contava com novo elenco.
O espetáculo tem início
na rua (Domingos Marreiros) com a apresentação de uma “drag queen” conjunta a
um “gogo boy” – início bastante interessante, não apenas pela performance em si
como também pela reação e fisionomia dos moradores do outro lado da rua.
Entramos no local
preparado para a apresentação. Nos chamou a atenção (minha e de minha amiga) o
modo como os assentos estavam postos e logo lembrei do “Odin Teatret”[1], mais
especificamente do Espaço Rio: os
assentos estavam dispostos apenas ao lado das paredes, plateia paralela a outra
(paredes com maior comprimento) e uma que realizava a ligação (parede com menor
comprimento; esta não era presente no Espaço Rio) – no “Odin Teatret”, à
distância de uma parte da plateia para a outra não podia passar de 9 m,
certifico-me que não medi a distância. Provavelmente, a disposição dos bancos
foi feita desse modo devido à disponibilidade do espaço.
Um breve comentário é
feito a respeito da origem e permanência do espetáculo. As luzes de holofotes
delimitam o espaço do palco. Entra um rapaz, aparentemente, um pesquisador com
um binóculo, porém isto transmitiu-me a sensação de que o rapaz era minha
pessoa no cotidiano e que o binóculos eram meus olhos, pois a partir do momento
que os outros personagens iam entrando demonstrando, de certa maneira, sua
história percebi que todos os dias me deparava com pessoas assim – mas, depois
percebi que o rapaz era mais um com quem me deparava.
Holofotes são direcionados
para a poltrona do consultório. Os terapeutas estão prontos para atender seus
pacientes. A primeira é compulsiva por remédios tarja preta para se acalmar;
gosta de um relacionamento tradicional; umbandista; faz de tudo para casar;
relacionou-se com um homem, mas o namoro não durou; desde então não namorou
outra pessoa e culpa o ex por isto. A segunda se apega muito fácil a um
relacionamento; controladora; liga várias vezes por dia para o homem com quem
namora por isso vive solteira; está convencida que se emagrecer vai conseguir
um namorado. O terceiro é um executivo concursado; preconceituoso; quer casar e
ter filhos o quanto antes para que as pessoas não pensem que ele é homossexual;
não gosta de mulher atrevida; ficou com uma aeromoça, mas ela ligava para ele
várias vezes no dia e ele a largou. A quarta é uma pessoa de idade casada há
anos; tem uma filha; uma mulher fina, recatada e do lar, até o dia em que seu
marido lhe apresenta as novas brincadeiras e posições sexuais. O quinto
paciente tem problemas familiares de infância – seu pai dizia que ele tinha que
pegar várias mulheres caso contrário seria “gay”, mas ele não gostava disto
principalmente porque via o sofrimento de sua mãe a qual sabia que era traída;
devido estas frustrações, nunca fica com a mesma mulher por muito tempo;
prefere mulheres sem senso crítico; as mulheres o consideram um cafajeste,
especialmente sua ex que o culpa por não ter mais arrumado namorado depois dele
ter terminado o relacionamento. O sexto é um profissional frustrado; desde
criança acreditava que iria se apaixonar várias vezes, mas, até então, só se
apaixonou duas vezes e uma destas paixões lhe deu um filho, porém nenhuma
durou; seu sonho era poder trabalhar com Arte como fotografia e teatro e poder
levar seu serviço para todos os lugares que pudesse; no entanto, estava decido
que daquele dia em diante iria seguir o caminho que sempre quis. A sétima ainda
é vista por muitos como uma pessoa doente pela fato de ser transgênero; se prostitui para poder pagar a faculdade de direito
– também recebe críticas por isto, algumas pessoas rejeitam seus serviços
judiciais por ser transexual; em um de seus programas foi agredida pelo contratante
e por sua mulher após esta ter pego os dois num motel; mas não é por isso que
vai deixar de ser quem é muito menos deixar de buscar seus objetivos.
O
entrelaçamento das histórias torna o espetáculo ainda mais interessante! A
primeira conhece o terceiro e depois de um tempo decidem casar. A quarta
empresta seu vestido de casamento para a filha. O casamento é realizado. […] O
terceiro vai com sua esposa ao terapeuta dela; esta ficou revoltada por saber
que seu marido a traiu com um transexual e esse também já estava cansando das
manias da mulher e de sua demora em engravidar – o casamento é desfeito. […]
Por meio do “Tinder”, a segunda conhece o quinto e depois de muita conversa
marcam uma viagem para Macapá com o objetivo de se conhecerem melhor. […] A
primeira conhece a segunda no voo com destino a Macapá – uma vai em busca de
novos ares e a outra vai realizar uma cirurgia para emagrecer. […] O sexto
seleciona algumas imagens de sua viagem ao continente africano para enviar para
o Brasil. […] A segunda continua levando a vida da mesma forma, ou melhor, com uma
adaptação inovadora entre quatro paredes. […] O terceiro vai atrás da sétima
para assumir um relacionamento. […] O quinto
tentava mudar seu jeito de tratar as mulheres.
Assim, esse explicitante
cotidiano arrancou risadas, comoções, sorrisos e muitos aplausos satisfatórios.
03
de Abril de 2017
REFERÊNCIA:
FICHA TÉCNICA
PopPorn – Sete vidas
e infinitas possibilidades de corações partidos
Elenco:
Eliane Flexa, Erllon
Viegas, Gisele Guedes, Leonardo Moraes, Rony Hofstatter, Sandra Perlin e Saulo
Sisnando.
Participação Especial:
Drag queen Tiffany
Boo e do bailarino Mauro Santos.
Iluminação:
Sônia Lopes
Sonoplastia:
Breno Monteiro
Supervisão de Figurinos:
Grazi Ribeiro
Assistência de Direção:
Marina Dahás.
Direção:
Saulo Sisnando
[1] O Odin Teatret foi fundado em 1964
em Oslo, na Noruega; tem na direção o pesquisador italiano e fundador Eugênio
Barba.
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