Por Afonso Gallindo – Publicitário,
Produtor, Documentarista e Jornalista. Participante do Minicurso de crítica
teatral “O que pode uma crítica teatral?”
O
Velório de Dona Pereira
Intervenção
performática In Bust Teatro com Bonecos e Produtores Criativos
Eu e minha acompanhante
já estávamos atrasados. O horário marcado foi às 20:02hs, e já passavam das
20:08hs. Passamos rapidamente na frente do espaço onde estaria acontecendo o
velório, olhei e nada comentei com minha companhia. Caminhávamos apressados
para o ponto de encontro quando percebi, do outro lado da rua, uma mulher
vestida de preto, com seu rosto coberto por um véu e sentada próximo a alguns
bancos de madeira. Exclamei que talvez o segundo ponto de encontro fosse ali
vendo aquela senhora digamos, pouco comum, que se encontrava do outro lado da
rua. De pronto, minha companhia concordou com minha hipótese e nos propomos a
atravessar.
O trânsito da rua
dezesseis de novembro em plena quinta-feira à noite era generoso. Enquanto aguardava
a deixa, entre um ônibus e outro, recordava o ritual prévio para acessar o
velório e me perguntava: Seria uma preparação? Opa, um espaço entre ônibus.
Atravessamos. A vida e a noite transcorriam aparentemente tranquilas, ignorando
o velório que daqui a alguns instantes iria adentrar.
Já do outro lado, observei
que logo atrás da senhora de preto, sentada no meio da calçada, uma moça acalentava
seu bebê e logo a frente um senhor, que ficava andando pela calçada observando
tudo que acontecia em silêncio, como que esperando algo. Nos dirigimos, então a
senhora para repassar o envelope, parte do ritual pré-estabelecido e que seria
o ingresso. Ela recebeu o envelope e nos repassou uma espécie de santinho. Sem
poder observar sua face, oculta pelo véu negro, ela agradeceu e ofereceu um
café, colocado à disposição de todos logo atrás dela. Neste momento, um grupo
de pessoas se aproximam e juntam-se a nós. Todos ali para o adeus a querida
Pereira. Algumas delas conhecidas e me coloquei a conversar e logo me esqueci
do tal café. O senhor de antes, passava entre nós, observava e nada falava.
Chega a hora de
adentrarmos o velório de Pereira. Daqui em diante fui proibido de continuar meu
relato. Afinal, foi o último pedido da família da finada, de não revelar o
ocorrido. Mas, para não deixar você na escuridão do desconhecimento, oferto alguns
fragmentos:
O Portão se fecha
Ciclo de vida e sombra
Sabedoria do percurso de
vida
Mergulho na mata e na
magia
Ladrões de frutas Grunhidos e (in)sanidade
Caixão & matéria
Convite à partilha
Antropofagia na
memória
Os cânticos ao final do
cortejo fúnebre, o gosto das memórias e desejos em minha boca. Até agora recordo
dos pedaços de lembrança da Dona Pereira que trago dentro de mim.
19
de Abril de 2017.
FICHA TÉCNICA
O Velório de Dona Pereira
Intervenção performática In Bust
Teatro com Bonecos e Produtores Criativos
Adriana
Cruz, Andréa Rocha, Aníbal Pacha
Cincinato
Marques Jr, Cristina Costa
Fafá
Sobrinho
Lucas
Alberto
Nanan
Falcão
Tereza
Ojú, Thiago Ferradaes,
Paulo
Ricardo Nascimento
Vandiléa Foro
REALIZAÇÃO
In
Bust Teatro com Bonecos, Produtores Criativos e Coletivo Casarão do Boneco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário