segunda-feira, 3 de abril de 2017

Anônima – Por Diego Maia da Costa

Montagem teatral: PopPorn – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos.
Montagem: Teatro de Apartamento.
Autora da crítica: Diego Maia da Costa: graduando em História na Universidade Federal do Pará e aluno do minicurso de crítica teatral “O que pode uma crítica teatral?”

Ela vinha... em passos sensoriais. Não sei de onde, não sei pra onde. Sua face expunha um jogo aleatório de sedução serenamente ofuscado pelo seu traje branco que, tal com ela, displicentemente tinha poderes que irradiavam nos transeuntes as mais perigosas picardias feromônicas.
Seu movimento era como a mais perfeita e broxante equação física: retilíneo e uniforme, sem a mínima convicção de que a fugacidade do tempo deixara rastros ao seu redor. E aproximava-se... anestesiada pelo automatismo cerebral... até que de repente... ela olhou em nossa direção.
O sonambulismo dera lugar a passos longos e apressados que trazia, em nosso sentido, a curiosidade instintiva de todos os seres. Ao chegar até nós, deparou-se com a cena inicial do PopPorn executada em plena Domingos Marreiros, num sábado agradável. Sem delongas, após poucos segundos de empirismo, seus lábios expressaram com a mais profunda honestidade – irrisória aos olhos de gente “culta” – o ponto de vista mais racional e original daquela noite:
 – Que diabo é isso?
Pouco depois, ao fim da cena gratuita, antes de adentrar ao recinto da apresentação, olhei pela última vez seu rosto paralisado ainda com ar de incompreensão – e de certa reprovação – me indagando:
 – Quem és tu, mulher de branco?!
– És manipuladora ou manipulada pela coercitividade social? Tu te humilhas, briga consigo mesma pela carência do matrimônio, o fato social menos animalesco e mais hipócrita da consciência coletiva?
– Ou será que és mulher de meia-idade, já corrompida pelos ideais do senso comum e que vê no instinto humano o mais sórdido dos inimigos?
– Será que és a mais pura das donzelas? Casada há um século, mas que não admite suas fantasias e julga seu cônjuge por tê-las?
– E o teu marido, mulher de branco?! É o tipo ideal?! Ancorado por um bom emprego, bom salário e boa reputação, mas que internaliza uma personalidade enrustida em seus próprios preconceitos?
– Ou seria ele, antes de ti, um mulherengo sem escrúpulos, que personificava suas conquistas em uma ata inacabável?
– Ou Talvez um aventureiro nato, mas que ao seguir os vieses corriqueiros do amor adolescente e da paternidade precoce sofrera por saber que viveria eternamente o estado pleno de acrasia?
– E o teu filho, mulher de branco?! Estaria preparado para realizar um sonho impossível? O de romper os paradigmas homofóbicos em um ambiente jurídico?
Bom, seja como for, mulher de branco, quem sabe um dia a gente se encontre e talvez possas me falar quem tu és e todas as tuas histórias, mas não se esqueças de mencionar nelas, todas as infinidades de corações partidos.
01 de abril de 2017.

FICHA TÉCNICA
PopPorn – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos
Elenco:
Eliane Flexa, Erllon Viegas, Gisele Guedes, Leonardo Moraes, Rony Hofstatter, Sandra Perlin e Saulo Sisnando.
Participação Especial:
Drag queen Tiffany Boo e do bailarino Mauro Santos.
Iluminação:
Sônia Lopes
Sonoplastia:
Breno Monteiro
Supervisão de Figurinos:
Grazi Ribeiro
Assistência de Direção:
Marina Dahás.
Direção:
Saulo Sisnando


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