Montagem teatral: PopPorn – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos.
Montagem: Teatro de Apartamento.
Autora da crítica: Diego Maia da Costa: graduando em História na Universidade Federal do
Pará e aluno do minicurso de crítica teatral “O que pode uma crítica teatral?”
Ela vinha... em passos
sensoriais. Não sei de onde, não sei pra onde. Sua face expunha um jogo
aleatório de sedução serenamente ofuscado pelo seu traje branco que, tal com
ela, displicentemente tinha poderes que irradiavam nos transeuntes as mais
perigosas picardias feromônicas.
Seu movimento era como
a mais perfeita e broxante equação física: retilíneo e uniforme, sem a mínima
convicção de que a fugacidade do tempo deixara rastros ao seu redor. E
aproximava-se... anestesiada pelo automatismo cerebral... até que de repente...
ela olhou em nossa direção.
O sonambulismo dera
lugar a passos longos e apressados que trazia, em nosso sentido, a curiosidade
instintiva de todos os seres. Ao chegar até nós, deparou-se com a cena inicial
do PopPorn executada em plena
Domingos Marreiros, num sábado agradável. Sem delongas, após poucos segundos de
empirismo, seus lábios expressaram com a mais profunda honestidade – irrisória
aos olhos de gente “culta” – o ponto de vista mais racional e original daquela
noite:
– Que diabo é isso?
Pouco depois, ao fim da
cena gratuita, antes de adentrar ao recinto da apresentação, olhei pela última
vez seu rosto paralisado ainda com ar de incompreensão – e de certa reprovação
– me indagando:
– Quem és tu, mulher de branco?!
– És manipuladora ou
manipulada pela coercitividade social? Tu te humilhas, briga consigo mesma pela
carência do matrimônio, o fato social menos animalesco e mais hipócrita da
consciência coletiva?
– Ou será que és mulher
de meia-idade, já corrompida pelos ideais do senso comum e que vê no instinto
humano o mais sórdido dos inimigos?
– Será que és a mais
pura das donzelas? Casada há um século, mas que não admite suas fantasias e
julga seu cônjuge por tê-las?
– E o teu marido,
mulher de branco?! É o tipo ideal?! Ancorado por um bom emprego, bom salário e
boa reputação, mas que internaliza uma personalidade enrustida em seus próprios
preconceitos?
– Ou seria ele, antes
de ti, um mulherengo sem escrúpulos, que personificava suas conquistas em uma
ata inacabável?
– Ou Talvez um
aventureiro nato, mas que ao seguir os vieses corriqueiros do amor adolescente
e da paternidade precoce sofrera por saber que viveria eternamente o estado
pleno de acrasia?
– E o teu filho, mulher
de branco?! Estaria preparado para realizar um sonho impossível? O de romper os
paradigmas homofóbicos em um ambiente jurídico?
Bom, seja como for, mulher de branco, quem sabe um dia a gente se encontre e
talvez possas me falar quem tu és e todas as tuas histórias, mas não se
esqueças de mencionar nelas, todas as infinidades de corações partidos.
01
de abril de 2017.
FICHA
TÉCNICA
PopPorn – Sete vidas e infinitas
possibilidades de corações partidos
Elenco:
Eliane Flexa, Erllon Viegas, Gisele
Guedes, Leonardo Moraes, Rony Hofstatter, Sandra Perlin e Saulo Sisnando.
Participação
Especial:
Drag queen Tiffany Boo e do
bailarino Mauro Santos.
Iluminação:
Sônia Lopes
Sonoplastia:
Breno Monteiro
Supervisão
de Figurinos:
Grazi Ribeiro
Assistência
de Direção:
Marina Dahás.
Direção:
Saulo Sisnando
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