quinta-feira, 2 de março de 2017

Caminho Sensorial a Praia do Marahu – Por Afonso Gallindo

Afonso Gallindo: Participando do Minicurso de Crítica Teatral “O que pode uma crítica teatral?”  

A nítida sensação de ter passado uma hora no Marahu e lá ter encontrado o poeta paraense Max Martins. Esta foi a impressão que trouxe comigo após assistir o espetáculo Marahu, da Companhia de Teatro Madalenas, em temporada no espaço SESC Boulevard. As diversas formas de sonoridade presentes no espetáculo proporcionaram uma experiência sensorial intensa.
Após o black, os focos que surgiram foram ocupados pelos atores, que através do corpo remetiam ao movimento das ondas quebrando na beira da praia, convidando minha mente e pessoa para aproximar da beira da praia. Imediatamente, identifiquei nos corpos a representação do som das ondas e a espuma branca. Gradativamente a percurssão, pontualmente executada por um dos atores da companhia e que também estava em cena, foi construindo uma paissagem, um universo sonoro relaxante em estar.  Outros movimentos, sons, trechos de poesias de Max, presumo, declamados pelos atores em off, apresentavam qual o universo havia adentrado. A sobreposição dos mesmos trechos, que emanavam das caixas de som ocultas pela escuridão cênica, permitiram perceber a intensidade, o peso da palavra, que era uma marca deste poeta e que em sua obra estabeleceu uma relação própria com a palavra, entendo eu, que ora acaricia, ora estala como um tapinha, como uma brincadeira sensual e particular.
Na medida em que a peça avança, a sonoplastia dialoga com a voz do próprio Max, que declama poesias de sua autoria em off, sinalizando uma materialização, já que os trechos declamados em aúdio anteriormente, que presumo serem dos atores e agora estão em cena, desempenham uma espécie de alerta da sua possível materialização no palco. Tive a impressão que a qualquer momento o poeta sairia da coxia e nos olharia, debaixo do foco central, ora ocupado pelos atores.
Paralelamente, os sons criados pela percussão remetem a chuva caindo num telhado de zinco, caracteristica do fim de tarde presente em minha memória e pontual na ilha do Mosqueiro. Mentalmente, estive dentro da casa tão querida pelo artista e que nela tantas obras escreveu.
Outro aspecto que chamou atenção foi a construção de diversos Haicais, através de projeções de palavras que passeavam no corpo dos atores, permitindo materializar em cena a estrutura utilizada pelo artista homenageado e peculiar em sua obra.
Em contraponto, a repetição enfática de movimentos-palavra noutros trechos, que entendo utilizados para dar ênfase à obra do homenageado pela Companhia, causou a impressão de destoar com o universo tão graciosamente construído. Porém, entendo a presença de outros espectadores na plateia quase cheia a apresentação e que possivelmente desconheçam a obra de Max. Apesar da diversidade de faixas etárias, seria equivocado afirmar o que este conhece e aquele desconhece da produção literária de Max Martins.
Entendo somente justificável a faixa etária sugeria a peça, de 18 anos, pela cena de nudez, onde os atores escrevem na pele palavras poéticas e em seguida buscam na plateia presente, que escrevam outras palavras, enquanto um dos atores circula por entre os presentes com um livro nas mãos, convidando que sejam declamadas poesias, impressos da brochura, pelos presentes. Percebi isso quebrar o universo habilmente construindo onde de forma sensorial e delicada fui convidado a participar, e confesso, participei de maneira interessantíssima.
Afonso Gallindo
1 de Março de 2017

FICHA TÉCNICA
Montagem:
Cia de Teatro Madalenas
Elenco:
Flavio Furtado, Leonel Ferreira e Marta Ferreira.
Iluminação:
Thiago Ferradaes.
Direção e Edição de Vídeos:
Carol Abreu.
Direção Musical:
Diego Vattos.
Dramaturgia:
Saulo Sisnando.
Coordenação Geral:
Leonel Ferreira.
Realização:
Cia de Teatro Madalenas.
Registros:
Naldo Silva.


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