Afonso Gallindo: Participando do Minicurso de Crítica Teatral
“O que pode uma crítica teatral?”
A nítida sensação de ter passado
uma hora no Marahu e lá ter encontrado o poeta paraense Max Martins. Esta foi a
impressão que trouxe comigo após assistir o espetáculo Marahu, da Companhia de Teatro Madalenas, em temporada no espaço
SESC Boulevard. As diversas formas de sonoridade presentes no espetáculo
proporcionaram uma experiência sensorial intensa.
Após o black, os focos que surgiram foram ocupados pelos atores, que
através do corpo remetiam ao movimento das ondas quebrando na beira da praia,
convidando minha mente e pessoa para aproximar da beira da praia. Imediatamente,
identifiquei nos corpos a representação do som das ondas e a espuma branca. Gradativamente
a percurssão, pontualmente executada por um dos atores da companhia e que
também estava em cena, foi construindo uma paissagem, um universo sonoro
relaxante em estar. Outros movimentos,
sons, trechos de poesias de Max, presumo, declamados pelos atores em off,
apresentavam qual o universo havia adentrado. A sobreposição dos mesmos
trechos, que emanavam das caixas de som ocultas pela escuridão cênica,
permitiram perceber a intensidade, o peso da palavra, que era uma marca deste
poeta e que em sua obra estabeleceu uma relação própria com a palavra, entendo
eu, que ora acaricia, ora estala como um tapinha, como uma brincadeira sensual
e particular.
Na medida em que a peça avança, a
sonoplastia dialoga com a voz do próprio Max, que declama poesias de sua
autoria em off, sinalizando uma materialização, já que os trechos declamados em
aúdio anteriormente, que presumo serem dos atores e agora estão em cena,
desempenham uma espécie de alerta da sua possível materialização no palco. Tive
a impressão que a qualquer momento o poeta sairia da coxia e nos olharia,
debaixo do foco central, ora ocupado pelos atores.
Paralelamente, os sons criados
pela percussão remetem a chuva caindo num telhado de zinco, caracteristica do
fim de tarde presente em minha memória e pontual na ilha do Mosqueiro. Mentalmente,
estive dentro da casa tão querida pelo artista e que nela tantas obras escreveu.
Outro
aspecto que chamou atenção foi a construção de diversos Haicais, através de projeções de palavras que passeavam no corpo
dos atores, permitindo materializar em cena a estrutura utilizada pelo artista
homenageado e peculiar em sua obra.
Em
contraponto, a repetição enfática de movimentos-palavra noutros trechos, que
entendo utilizados para dar ênfase à obra do homenageado pela Companhia, causou
a impressão de destoar com o universo tão graciosamente construído. Porém,
entendo a presença de outros espectadores na plateia quase cheia a apresentação
e que possivelmente desconheçam a obra de Max. Apesar da diversidade de faixas
etárias, seria equivocado afirmar o que este conhece e aquele desconhece da
produção literária de Max Martins.
Entendo
somente justificável a faixa etária sugeria a peça, de 18 anos, pela cena de
nudez, onde os atores escrevem na pele palavras poéticas e em seguida buscam na
plateia presente, que escrevam outras palavras, enquanto um dos atores circula
por entre os presentes com um livro nas mãos, convidando que sejam declamadas
poesias, impressos da brochura, pelos presentes. Percebi isso quebrar o
universo habilmente construindo onde de forma sensorial e
delicada fui convidado a participar, e confesso, participei de maneira
interessantíssima.
Afonso Gallindo
1 de Março de 2017
FICHA TÉCNICA
Montagem:
Cia
de Teatro Madalenas
Elenco:
Flavio Furtado, Leonel Ferreira e
Marta Ferreira.
Iluminação:
Iluminação:
Thiago Ferradaes.
Direção e Edição de Vídeos:
Direção e Edição de Vídeos:
Carol Abreu.
Direção Musical:
Direção Musical:
Diego Vattos.
Dramaturgia:
Dramaturgia:
Saulo Sisnando.
Coordenação Geral:
Coordenação Geral:
Leonel Ferreira.
Realização:
Realização:
Cia de Teatro Madalenas.
Registros:
Registros:
Naldo Silva.
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