Maria
Christina: Participante do Minicurso de crítica teatral “O que pode uma crítica
teatral?”
O texto sobre o qual se
baseou a atuação dos atores de O Conto das Duas Ilhas, e a ideia que inspirou o
cenário, as figuras e os movimentos das marionetes, foram soprados pelas asas
de pássaros migrantes em voo de retorno ao lar no ouvido de um poeta que os
reproduziu em versos à sua amada, que cantava enquanto costurava colchas
coloridas e circulares impregnando-as de alegria, e vendidas a viajantes
estrangeiros se espalharam pelo mundo reconhecidas como mandalas, chegando a
importantes sítios de contemplação, tornando-se motivo de intensos trabalhos literários
que decodificaram seus traços e linhas, dando-lhes outras formas,
permitindo-lhes, assim, chegarem a mais e mais lugares.
Essa inspiração viajou
durante milênios, atravessou o mundo várias vezes, sendo depositada suavemente
em mãos que a teceram em finíssimas linhas revelando sua face e voz. Generosamente
nos foi ofertado sob a forma de peça teatral, permitindo que céu e terra
dialogassem um tema que nos convida a uma viagem não só pela imaginação, mas
pelo interior de sonhos que nascem da poesia.
O que se vê no
espetáculo, todo ele à meia luz, são os ecos daquele sussurro, travestidos de
misteriosos olhares que se movem lentamente no presente, dedilhando as cordas
do tempo a nos lembrar da tênue linha que nos separa do infinito.
Há algo de tímido
naqueles atores, um certo ar pueril que acentua a nota delicada dos movimentos,
totalmente envolvidos pela trilha repleta de poesia impressa em cada nota
musical e no timbre de voz do cantor. Todos eles por certo comungam da reflexão
de Horácio sobre o que está por trás das ondas e do horizonte – eles também
perscrutam o exíguo ambiente antes do passo seguinte. A incerteza é a única
certeza, força motriz e incentivo, e o que alimenta o desejo.
Disse Gandhi, certa
vez, sobre o caminho para a paz: "a paz é o caminho". Das tantas
matérias que a paz é feita, certamente a arte contribui com elementos
fundamentais a compor essa argamassa que não cessa de se reinventar a cada
tempo, a cada cena e cada som, base necessária a manter a esperança dos que
amam, apesar dos tempos difíceis, em que cobiça e ego habitam tantos corações.
Mas a arte resiste – e nós, com ela.
Maria
Christina
6
de Março de 2017
Ficha
Técnica
Dramaturgia:
San Rodrigues
Marionetistas:
San Rodrigues e Nina Brito
Construção
de Marionetes:
San Rodrigues
Cenografia:
Nina Brito
Iluminação
Cênica:
Marckson de Moraes
Trilha
Sonora Original:
Renato Torres
Canções:
Marília, Além e O Primeiro Veleiro
(San Rodrigues)
Vozes
dos Marionetes:
Renato Torres (Carapirá), San
Rodrigues (Horácio) e Nina Brito(Marília)
Assistente
de Atelier:
Glaucia de Jesus
Adereços
de cena (Sol e Lua):
Luciana do Carmo
Confecção
de Figurino:
Anne Moraes
Equipe
de Captura e Animação (Stop Motion):
San Rodrigues, Nina Brito, Marckson
de Moraes e Gabriel Angelo
Registro
e Edição de Vídeos e Imagens:
Alexandre Yuri
Assessoria
de Imprensa:
Yorranna Oliveira
Produção
Executiva:
Patrícia Ventura
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