Por Louise Bogéa: Servidora pública do Museu da UFPA
Eu estava animada com a ideia de assistir a um
espetáculo com patrocínio do governo, na Estação das Docas, e, dado todo o
valor simbólico do lugar, pensei que encontraria um grande espetáculo, quero
dizer, elegante. Por esta razão, talvez, decepcionei-me, por alguns segundos,
ao deparar-me com aquela rede como cortina de um palco – não havia piso de
palco – e um considerável número de pessoas – metade em pé – a quase céu
aberto. Isto significava sem teto esplendoroso também.
Ao encontrar com o Prof. Edson, fomos para a
lateral, quando comecei a observar as personagens: Agradeci a Deus que não
estávamos perto delas. Durante o espetáculo, tive mais simpatia pela personagem
feminina; indiferença em relação ao violonista; e medo do filho. Confesso que
me emocionei em certas partes da história do Norato – a da sua mãe (boneca)
devendo matá-lo foi comovente.
Considero, neste caso, crucial a interação dos
artistas com o seu público, porém, não posso dizer que a minha experiência fora
positiva com o cachorro faminto do enredo. Se houver próxima vez, lembrarei de
levar comida na bolsa.
Com base na tese de NASCIMENTO
(2014), houve uma mudança na forma de utilizar o objeto (boneco), com o
manipulador, tornando-se ator, ao entrar, cada vez mais, na cena junto com o
ser inanimado:
Oriundo de um teatro já
desmitificado, consciente da sua artificialidade e da especificidade do boneco,
contaminado por outros meios de expressão, em que a metáfora passou a imagem
poética da linguagem teatral, a principal reforma do teatro de bonecos pôs em
primeiro plano o jogo do ator.
E a produção
de teatro In Bust – Teatro com Bonecos,
por meio do espetáculo “Fio de Pão: A lenda da cobra Norato”, vem com esta
proposta de rupturacom o teatro de bonecos clássico. A presença do ator é
marcada pela sua
interpretação de uma personagem no enredo, não podendo passar
despercebido pelo público. CAVALCANTE (2008, apud
NASCIMENTO, 2014) classifica esta presença no jogo em não-presença, quando o
profissional não é personagem, portanto, neutro, agindo como sombra do boneco;
co-presença, introduzindo a participação do profissional, este podendo,eventualmente,
transformar-se no objeto ou emitir alguns signos do inanimado em seu corpo; animador,
ao assumir o seu papel como tal, expondo-se para intervir diretamente na cena,
sem a utilização do objeto; e contraparte, onde há a interpretação de
uma personagem pelo profissional e outra no objeto a ser manipulado por ele.
É possível perceber que
as três diferentes formas de participação do ator estavam presentes no
espetáculo, sendo que “em quase todas as encenações do In Bust os personagens dos atores são animadores” (NASCIMENTO,
2014). E a comédia é geralmente
realizada por meio da intervenção direta do profissional. Diferentemente do
ponto de vista do autor da tese, porém, considero que a co-presença fora
alcançada, durante o espetáculo.
Nenhum desses casos citados se enquadra realmente à
co-presença sugerida por Caroline Holanda. O que se vê são características do
personqgem do boneco sendo reforçadas pelos personagens dos atores, ou, ao
contrário, os personagens dos atores aproveitando ações dos bonecos para
inserirem suas emoções ou as suas próprias ações (NASCIMENTO, 2014).
Ao meu ver, a co-presença de CAVALCANTE (2008), ou seja, o
profissional apresentando a mesma personagem do objeto no seu corpo, deu-se no
momento em que Girino se transforma na galinha –não apenas emitindo símbolos
dela –, refugiando-se atrás do pano, para, então, a sua mãe surgir com uma
galinha (objeto) entre suas mãos. Neste instante, o ator se confunde com o
objeto, não apenas respondendo a determinados estímulos na cena, como extensão
a reações advindas do boneco.
Vale mencionar que os atores conseguiram aparecer,
mantendo a atenção no boneco (personagem) principal, a cobra Norato. E
conseguiram interagir com o público presente de maneira satisfatória,
principalmente com as crianças. Percebeu-se que a heterogeneidade da peça foi
responsável pelo entretenimento.
Em uma última análise, acredito que tanto o teatro de bonecos clássico quanto o com bonecos
– caracterizado pela inserção do ator no jogo –
poderia ser aperfeiçoado por meio da utilização de tecnologias, ampliando os
seus efeitos no público, na tentativa de modernizar a prática sem perder a sua
essência.
01.06.2015
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