Autora da
Crítica: Alzira Power, Colaboradora do Projeto TRIBUNA DO CRETINO.
O espetáculo estava marcado para começar às onze horas da manhã. Ao
chegar à Praça Batista Campos, encontro dificuldades de localizar os artistas, pois
havia uma movimentação maior do que a de costume nas manhãs de domingo na praça – uma das vias paralelas a praça estava
fechada por conta da festividade de um tal Santo Antônio de Lisboa. Ao longe os
localizo por entre árvores e ocupam uma das passagens da praça, próximo ao
Castelo – um monumento que há na praça.
Ao me aproximar vejo
o primeiro palhaço, Bufo (Johnny Russel), num diálogo com o público, era um
chamamento para que as pessoas que circulavam por ali fossem assisti-los. Enquanto
se comunicava, o palhaço Bufo arrumava no chão umas capas de sombrinhas (tecido
que reveste a estrutura da sombrinha) para o público sentar e, ao arrumá-las, dizia
a todos que logo mais o espetáculo começaria. Em meio aos diálogos de Bufo,
outras duas integrantes da Trupe Nós, Os
pernaltas, terminavam de se arrumar, para a apresentação do espetáculo Varieté. Uma já estava praticamente
pronta e usava perna de pau, enquanto a outra terminava de se maquiar.
O espetáculo começa com certo atraso. Bufo pega uma alfaia e
a segunda palhaça (Bianca Duarte) – a que usava perna de pau – entra em cena
com tal energia que não reverbera em mim, sua voz é franzina assim como o seu
jogo com a plateia, nada corresponde ao seu belo figurino e a sua tamanha
altura e habilidade dada pela perna de pau. A palhaça de Lú Maués entra em cena
parecendo esta perdida, mas, com energia; sua voz nos chega com clareza e o
jogo com a plateia funciona. A palhaça de Lú aos poucos se localiza no
espetáculo, mas vez por outra volta a se perder, principalmente nos momentos em
que se tem música. Seu figurino e sua maquiagem são bem simples. O palhaço Bufo
tem bom jogo com o público, sua voz também nos chega com clareza e nos mostra
que conhece as músicas assim como a palhaça de Bianca, contudo sinto falta de
um maior aperfeiçoamento na execução das músicas e na afinação dos instrumentos,
coisa recorrente em nossa cidade com grupos teatrais que cometem o mesmo erro,
o que me deixa muito decepcionada.
O espetáculo Varieté é composto pela apresentação de
varias esquetes; são números de circo apresentado pelos palhaços para o público,
números que são escolhidos pelo próprio público, num jogo feito pelos atores.
A participação da plateia é ativa em contracena constante com
os palhaços. Vale ressaltar que quem participa das cenas com os palhaços são
sempre os adultos, deixando a criançada num misto de entusiasmo e frustração em
querer participar das esquetes; o entusiasmo e a disposição para participar das
esquetes são vetados pela palhaça de Bianca. Não sei se compreendo, talvez
fosse uma proposta do grupo, em querer tirar o adulto da sua zona de conforto,
tirar essa seriedade que o adulto carrega por ser adulto e ridicularizá-lo,
diferente das crianças que até uma determinada fase da vida, agem de forma
natural, sem ter preocupações com qualquer resposta do outro, não se incomodam
se a roupa que lhe vestiram é muito colorida ou se usa um laço enorme na cabeça;
a criança sorri mesmo quando esta banguela, rindo, por assim dizer, da sua própria
condição, e nesse sentido vejo uma aproximação com o palhaço por se permitir a esse
estado natural, que para alguns parece ridículo.
Posso dizer que o espetáculo Varieté apresentado pela Trupe
Nós, os Pernaltas ganhou meus sinceros risos, mesmo que esses poucos risos
tenham sido ocasionados por algum tipo de falha. Saio da Praça Batista Campos pensando
nas referencias que eu tenho de palhaços. Lembre de um boneco de minha infância,
um palhaço feito todo de tecido de uma prima que o usava para assustar as
crianças mais novas, inclusive a mim. Depois lembrei ainda que nunca havia
visto um palhaço no circo, pois nunca tive oportunidade de entrar num. E uma
última lembrança que tive foi a de uma roupa de palhaço que havia ganhado na
infância e que nunca vesti, pois me faltava o nariz vermelho e eu pensava que
sem ele não seria uma verdadeira palhaça. Neste momento, pensei então: o que é um
verdadeiro palhaço? Sem a erudição da academia e longe de dar resposta exata a
essa pergunta, penso que o palhaço caminha num circulo oposto ao que a nossa
sociedade caminha, é um ser desalinhado que comove, faz rir, que diz aquilo que
sente internamente, mesmo que isso seja para apontar a falha de alguém,
denunciar uma ausência, como fez sutilmente o palhaço Bufo (Johnny Russel) ao
dizer que o secretário de cultura do estado só investe em ópera.
Não posso deixar de
dizer que ao ouvir “Oh raia o sol! Suspende a lua, olha o palhaço no meio da
rua!” não me contive em cantar e aplaudir. Nesse momento parecia que havia um
sentido do povo estar ali assistindo o espetáculo e dos palhaços estarem ali, na
rua, na praça. Houve entrega e envolvimento sincero entre os palhaços e o
público que ali circulava. Vejo como um ato de coragem e de resistência
artística, levar o teatro pra rua, ainda que com algumas falhas. E pensemos
melhor nessas faltas e falhas! Até logo.
Alzira Power
28 de Junho de 2016
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