Autora da Crítica: Colaboradora do Projeto TRIBUNA DO CRETINO.
Sou recepcionada por uma enorme fila,
procuro por ingresso em vão, os oitenta lugares, todos esgotados. Não desisto,
era a última sessão do último dia de apresentação do espetáculo Édipo Rei, montagem teatral das turmas
do 1° ano dos cursos técnicos em Ator, Figurino e Cenografia da Escola de
Teatro e Dança da UFPA.
O cenário para apresentação do espetáculo
é o Palácio Lauro Sodré – Museu do Estado do Pará (MEP), cedido gentilmente
para “Édipo”. O espetáculo está quase começando, e eu ainda estou me acomodando
num lugarzinho que encontrei por trás das grades dos portões de entrada do
museu. Fico impressionada com a suntuosidade do palácio, sinto até vontade de
tocar no tapete vermelho, de respirar o ar que estava ali dentro do palácio, ar
de grandiosidade. Entretanto, quando vejo o brasão do Estado do Pará, paro com
esses desejos pequenos, percebo minha realidade e vejo que não é grandiloquente
como o brasão e o próprio palácio. Respiro fundo, e penso: quero apenas
assistir ao espetáculo, não pensar em anarquias.
Ainda olhando para o brasão, lembro-me de um trecho da letra de uma canção: “eles
que lesam a pátria, e sou eu, o marginal”. Respiro fundo, e ponto.
O espetáculo começa, minhas mãos que
estavam soltas agora agarram as grades, ao ouvir um canto, meus ouvidos se
abrem, e aquele canto parece entrar aos poucos em mim, minhas mãos suam ao ver
o coro dançando e cantando; é vibrante. Aos poucos volto a tirar minhas mãos da
grade, a minha atenção se esvai, talvez pelas interferências do que se passa do
lado de fora do palácio. Meus olhos se voltam para maquiagem, iluminação e
figurino que estavam muito bem sincronizados com a proposta da encenação.
Ao decorrer da peça começo a crer que ali,
fora do palácio, foi o melhor lugar para assistir a ascensão e queda de Édipo,
que vai de um salvador da pátria a um mau caráter. Do
lugar onde estou tenho clara visão do espetáculo, estou na entrada do palácio
não me incomodo por não ter entrado. Édipo está fadado ao seu destino, tudo se esclarece;
a rebordosa do povo não falha. Édipo é expulso do palácio, caminha em direção
aos portões de entrada, onde estou. Saio da frente dos portões que se abrem e
dou espaço para ele sair. Ao dar espaço a Édipo, e por saber que chegou ao fim,
dou as costas para o palácio e vejo uma praça abandonada, que não é novidade nessa
cidade; e me reconheço numa tragédia cor-de-jambo.
Aplausos, abraços e poses para fotos, é assim que vejo o final de Édipo.
Alzira Power
16 de Junho de 2016
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