Autora da Crítica: Ana Luiza Aragão, Graduanda de
Licenciatura em Teatro UFPA e Bolsista PROINT 2016 pelo Projeto TRIBUNA DO
CRETINO.
O espetáculo da
noite é “Baden-Baden – sobre o acordo”, montagem das turmas concluintes do 2°
ano dos cursos técnicos em Ator, Cenografia e Figurino da Escola de Teatro e
Dança da UFPA, com direção de Paulo Santana e Marluce Oliveira e direção
musical de José Maria Bezerra.
Ao chegar à
bilheteria do Teatro Universitário Cláudio Barradas, recebo meu ingresso, e
como já estava na hora do espetáculo começar, pergunto se já posso entrar no
teatro e ouço que deveria aguardar. Em seguida, ouço uns gritos, uma correria,
um susto! Os atores surgem correndo e gritando, ocupando a frente do teatro, cada
um segurando uma mala. Um dos atores se aproxima segurando meu braço bem firme,
no momento nem presto atenção para o que ele diz, queria apenas tirar as mãos
dele do meu braço, aquilo me irritou por uns instantes, depois, gentilmente ele
larga meu braço, saindo em outra direção com um olhar de quem nem havia me
notado, me deixando uma sensação de abandono total. As malas são jogadas todas
no mesmo lugar. É formado um coro, composto por um quadro social que vai de
noiva a cozinheiro. Já reestabelecida do tal susto, eu escuto atentamente os
fragmentos de um poema, uma vontade de rir me consome ao ouvir um trecho do
verso de uma canção, logo, lembro-me de já ter visto o mesmo clichê.
Em seguida somos
conduzidos pelo coro de atores para entrarmos ao teatro, de inicio nos
deparamos com um telão passando imagens de aviões, nas caixas, sons de motor. Ficamos
alguns segundos parados. Agora seguimos, e ao passar pelo telão encontramos o
teatro sem suas poltronas, apenas a cenografia do espetáculo tinha lugar
marcado. Fico procurando um lugar para me acomodar, restando duas opções, sentar
ali mesmo no chão ou permanecer em pé, então, me sento no chão ao lado de um
refletor. Algumas palavras ressoavam na minha cabeça, enquanto no telão passavam
imagens, algumas bem conhecidas por nós através da mídia, imagens que me
causaram e causam grandes incômodos: vi corpos mutilados, sofrimento, e estava
ali sentada assistindo novamente a tudo, silenciosamente. O homem ajuda o
homem? Guardei essa pergunta, que tanto se repetia.
Os atores saem do
teatro nos deixando mudos, fim. Saio do teatro e fico com o silêncio e guardo
as minhas palmas por instantes, mas logo repito o que todos fazem, aplaudo. A
pergunta que guardei sai comigo sem eu notar. No dia seguinte vou à feira, para
comprar alguns alimentos, e ali perto de mim enxergo uma senhora bem idosa,
segura um carro de mão, ela para nos fundos de um açougue, começa a revirar o
lixo e vai selecionando uns pedaços de ossos, os pedaços maiores ela joga aos
urubus, que já estão por ali disputando as carcaças. Nada para, as pessoas no
açougue escolhendo suas carnes, comendo suas tapiocas, outros tomando sopa,
estamos numa feira, tudo circula. Máquinas serrando os ossos das carnes, outras
depenando frangos. O homem ajuda o homem? Temos a tecnologia, as armas, a
poesia, a racionalidade humana, mas pouco nos ajudamos. Mas que ajuda seria
essa? Não tenho respostas, assim como não sei qual foi o meu acordo ao assistir
o espetáculo “Baden- Baden – sobre o acordo” e a cena que vi na feira no dia
seguinte. Vejo-me sendo a senhora que cata as carcaças, em outras horas eu sou
a própria carcaça, quando eu não sou o Urubu.
Ana
Luiza Aragão
02
de Junho de 2016
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