segunda-feira, 6 de junho de 2016

O homem ajuda o homem? – Por Jaqueline Miranda

Autora da Crítica: Jaqueline Miranda, Graduanda da Licenciatura em Teatro UFPA, Bolsista PROINT 2016 pelo Projeto TRIBUNA DO CRETINO.
Montado a partir de um texto de Bertold Brecht o espetáculo Baden-Baden sobre o acordo, apresentado pelos alunos do curso técnico em ator da Escola de Teatro e Dança da UFPA, tem inicio na parte externa do Teatro Universitário Claudio Barradas. Céu escuro, carros passando pela pista, mesas e pessoas em frente ao teatro formam uma arena. Logo começa uma correria dando inicio ao espetáculo; Os atores chegam gritando e empurrando todos, ali mesmo do lado de fora, no entanto, não sei bem o que acontece, pois falam de uma revolução no tempo de guerra em que vivem. Há interação com o público em todo decorrer do espetáculo. Me chama a atenção como o texto me atingi de uma forma que consigo ver que ainda vivemos em situações colocadas por Brecht em 1929, e que ainda hoje em 2016 somos os mesmos, que evoluímos sim, em alguns aspectos mas quando se trata de interesses econômico e político ainda agimos da mesma forma.
Subitamente todos os atores correm para dentro do teatro; numa enorme tela colocada na entrada são projetados aviões e bombas, o barulho é grande e permaneço ali pelo mesmo tempo em que os atores tomam seu lugar e vejo todos deitando no chão. Olho para a tela e três faces nela surgem descrevendo suas funções de aviadores; me disponho para o espaço onde estão os atores; partes de um avião muito bem elaborado pela cenografia, nos remete a uma cena de  acidente aéreo. O figurino nos remete a profissões, não o suficiente para nos dar uma característica de personagem; todos os atores permanecem deitados no chão e, as mesmas três faces que aparecem na tela se tornam presentes descendo do teto do teatro por pára-quedas de tecidos. Há sempre um ator falando e interrogando os aviadores, eles sentem sede e cabe aos outros personagens ajudá-los e em coro cantam que "o homem não ajuda o homem", a frase mais presente no espetáculo.
O homem é egoísta e ambicioso nos tira tudo. A cena didática com os palhaços demonstra isso quando serram as pernas e os braços do Sr. Smith – um de cada vez –, e por fim até a cabeça é serrada demonstrando que até os nossos pensamentos também podem ser retirados; se te dói tudo, então por que não se livrar do que te incomoda? Os palhaços perversos levam tudo do Sr. Smith e se repartem cada pedacinho. Os palhaços perversos são o espelho da alma humana em tempos de egoísmo e decadência ética.
Volto para o espaço onde está o avião, há sempre alguém ali discursando e instigando-nos com a pergunta: nós ajudamos o homem? Mas meu pensamento enquanto assisto aquelas cenas são de que ajudamos sim, pois ajudamos as crianças, ajudamos os animais, te salvamos do incêndio, do terremoto, dos furacões, nós te tiramos da lama para que não morras soterrado; não queremos te deixar morrer, no entanto, ao mesmo tempo penso que queremos que tu morras quando te tiro da tua casa e te jogando pra fora, quero que tu morras, quando atiro em ti, quando te corto a cabeça, quando não te deixo nascer, quando empilho e queimo milhares como a ti. O texto e as imagens que surgem na tela me mostram e fazem perceber que ninguém é totalmente bom, pois quando se trata dos nossos interesses, independente de quais sejam, não pensamos no bem estar do próximo, e no quanto as pessoas mudam quando estão no poder. Porque se eu sou bom morrerei por ti, mas se sou mau matarei a ti, e no fim, morrerei por alguém igual a mim, porque muitas vezes sou egoísta e quero bem o que me convêm, e o resto que não me serve apenas me desfaço, não me importando com nada. Mas eu posso mudar isso sim, começando por mim. E o que me falta? Me falta respeito pra lidar com as diferenças e perceber que não és obrigado a seguir minha crença, ou qualquer outro tipo de orientação que eu acho certo, e nada me dar o direito de te agredir por isso. Falta amor a mim mesmo, pra depois te amar, e ser amado. Pois não quero ser um avião carregando aviadores, que não se importam comigo nem contigo, que no fim me jogam contra ti e me partem ao meio, mas quando precisarem sair dali com vida, irão tentar me remontar para que possa ajudá-los, e mesmo que isso aconteça irei ajudá-los, pois não serei mais como eles.
 Jaqueline Miranda
06 de Junho de 2016


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