Autora
da Crítica: Jaqueline Miranda, Graduanda da Licenciatura em Teatro
UFPA, Bolsista PROINT 2016 pelo Projeto TRIBUNA DO CRETINO.
Montado a
partir de um texto de Bertold Brecht o espetáculo Baden-Baden sobre o acordo, apresentado pelos alunos do curso
técnico em ator da Escola de Teatro e Dança da UFPA, tem inicio na parte
externa do Teatro Universitário Claudio Barradas. Céu escuro, carros passando
pela pista, mesas e pessoas em frente ao teatro formam uma arena. Logo começa
uma correria dando inicio ao espetáculo; Os atores chegam gritando e empurrando
todos, ali mesmo do lado de fora, no entanto, não sei bem o que acontece, pois falam
de uma revolução no tempo de guerra em que vivem. Há interação com o público em
todo decorrer do espetáculo. Me chama a atenção como o texto me atingi de uma
forma que consigo ver que ainda vivemos em situações colocadas por Brecht em
1929, e que ainda hoje em 2016 somos os mesmos, que evoluímos sim, em alguns
aspectos mas quando se trata de interesses econômico e político ainda agimos da
mesma forma.
Subitamente
todos os atores correm para dentro do teatro; numa enorme tela colocada na
entrada são projetados aviões e bombas, o barulho é grande e permaneço ali pelo
mesmo tempo em que os atores tomam seu lugar e vejo todos deitando no chão.
Olho para a tela e três faces nela surgem descrevendo suas funções de
aviadores; me disponho para o espaço onde estão os atores; partes de um avião
muito bem elaborado pela cenografia, nos remete a uma cena de acidente aéreo. O figurino nos remete a
profissões, não o suficiente para nos dar uma característica de personagem;
todos os atores permanecem deitados no chão e, as mesmas três faces que
aparecem na tela se tornam presentes descendo do teto do teatro por pára-quedas
de tecidos. Há sempre um ator falando e interrogando os aviadores, eles sentem
sede e cabe aos outros personagens ajudá-los e em coro cantam que "o homem
não ajuda o homem", a frase mais presente no espetáculo.
O homem é
egoísta e ambicioso nos tira tudo. A cena didática com os palhaços demonstra
isso quando serram as pernas e os braços do Sr. Smith – um de cada vez –, e por
fim até a cabeça é serrada demonstrando que até os nossos pensamentos também
podem ser retirados; se te dói tudo, então por que não se livrar do que te
incomoda? Os palhaços perversos levam tudo do Sr. Smith e se repartem cada
pedacinho. Os palhaços perversos são o espelho da alma humana em tempos de
egoísmo e decadência ética.
Volto para
o espaço onde está o avião, há sempre alguém ali discursando e instigando-nos
com a pergunta: nós ajudamos o homem? Mas meu pensamento enquanto assisto
aquelas cenas são de que ajudamos sim, pois ajudamos as crianças, ajudamos os
animais, te salvamos do incêndio, do terremoto, dos
furacões, nós te tiramos da lama para que não morras soterrado; não queremos te
deixar morrer, no entanto, ao mesmo tempo penso que queremos que tu morras
quando te tiro da tua casa e te jogando pra fora, quero que tu morras, quando
atiro em ti, quando te corto a cabeça, quando não te deixo nascer, quando
empilho e queimo milhares como a ti. O texto e as imagens que surgem na
tela me mostram e fazem perceber que ninguém é totalmente bom, pois quando
se trata dos nossos interesses, independente de quais sejam, não pensamos
no bem estar do próximo, e no quanto as pessoas mudam quando estão no poder.
Porque se eu sou bom morrerei por ti, mas se sou mau matarei a ti, e no fim,
morrerei por alguém igual a mim, porque muitas vezes sou egoísta e quero bem o
que me convêm, e o resto que não me serve apenas me desfaço, não me importando
com nada. Mas eu posso mudar isso sim, começando por mim. E o que me falta? Me
falta respeito pra lidar com as diferenças e perceber que não és obrigado a
seguir minha crença, ou qualquer outro tipo de orientação que eu acho certo, e
nada me dar o direito de te agredir por isso. Falta amor a mim mesmo, pra
depois te amar, e ser amado. Pois não quero ser um avião carregando aviadores,
que não se importam comigo nem contigo, que no fim me jogam contra ti e me
partem ao meio, mas quando precisarem sair dali com vida, irão tentar me
remontar para que possa ajudá-los, e mesmo que isso aconteça irei ajudá-los,
pois não serei mais como eles.
Jaqueline
Miranda
06
de Junho de 2016
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