quarta-feira, 4 de maio de 2016

O JOGO – Por Paula Barros.

Paula Adrianna Barros da Cruz: Graduanda de Licenciatura Plena em Teatro pela UFPA e bolsista PIBEX, pelo Projeto Tribuna do Cretino.

As turmas do segundo ano dos Cursos Técnicos em Ator, Cenografia e Figurino da Escola de Teatro e Dança da UFPA – ETDUFPA, como conclusão apresentaram no último final de semana a montagem BADEN-BADEN: sobre o acordo, de Bertolt Brecht, com direção de Paulo Santana e Marluce Oliveira.
O espetáculo narra a queda de avião com quatro aviadores que pedem ajuda a outras pessoas e estas se indagavam se deveriam ou não ajudá-los, e por detrás o cenário era de reflexão sobre a situação do homem inserido na conjuntura estabelecida pelo capitalismo, mais precisamente o cenário atual sócio-político e econômico do Brasil, e no fim deveriam entrar em um acordo de ajudar ou não o(s) homem(s).
Em Baden-Baden, as características de Brecht de um teatro narrativo, crítico e político, visando uma teoria de representação fundamentada no distanciamento do ator, é claro desde o momento em que na entrada do teatro se ouve uma gritaria, que nos sobressalta de imediato, pois pensamos ser uma confusão, assalto ou algo parecido, levando desde fora para dentro do Teatro Cláudio Barradas a discussão do momento atual do Brasil; e também quando utilizam alguns recursos para ocasionar o “estranhamento/distanciamento” como a disposição da plateia, a não existência de cadeiras, colocando o público em pé nas laterais e direcionando o olhar deste para cada momento do espetáculo, até o recurso do audiovisual que mostra pessoas mortas, ensanguentadas, cenários de guerra etc. Ou mesmo quando os atores se direcionam para o público com olhares que pulsam emoção e ao mesmo tempo vontade de ir embora dali.
Não há dúvida, a meu ver, que o processo de criação na elaboração estética da obra foi muito bem executada e os recursos bem distribuídos e trabalhados no cenário e figurino. Não há dúvida da poética existente por detrás da atuação dos atores, tudo era sinergia. Contagiava. Porém, algo me incomodou profundamente a existência da quarta parede, pois apesar dos olhares pulsantes dos atores, e da movimentação da cena em relação à plateia, me sentir completamente público e não parte daquele todo, não me sentir parte do jogo.
Logo, se tratando de uma poética de caráter social, penso minha participação como fundamental, não somente na fruição e recepção da obra, mas como parte da construção poética e da representação dela, como ser social e político que é o cidadão;  um dos elementos que deve ser trabalhado no teatro sendo feito na visão brechtiana deve apresentar à sociedade os fatos do cotidiano a fim que se possa julgá-los.
Nesse caso torna-se exposto ao espectador o julgamento e o juízo de valor realizado à obra. Sabendo-se mesmo assim que é da escolha do encenador dentro do processo de criação o tipo de linguagem cênica que se quer trabalhar.
Por fim, penso BADEN-BADEN: sobre o acordo um espetáculo que deve fazer mais que somente refletir sobre este momento, deve ir para além das paredes do teatro como nos propôs os concluintes tanto no início como no fim, nos deixando sozinhos no teatro, sem reações, nos aguardando do lado de fora e mostrando que é para muito mais a discussão.
Paula Barros

04 de Maio de 2016.

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