Paula
Adrianna Barros da Cruz: Graduanda de Licenciatura Plena em Teatro pela UFPA e
bolsista PIBEX, pelo Projeto Tribuna do Cretino.
As turmas do segundo
ano dos Cursos Técnicos em Ator, Cenografia e Figurino da Escola de Teatro e
Dança da UFPA – ETDUFPA, como conclusão apresentaram no último final de semana
a montagem BADEN-BADEN: sobre o acordo,
de Bertolt Brecht, com direção de Paulo Santana e Marluce Oliveira.
O espetáculo narra a
queda de avião com quatro aviadores que pedem ajuda a outras pessoas e estas se
indagavam se deveriam ou não ajudá-los, e por detrás o cenário era de reflexão
sobre a situação do homem inserido na conjuntura estabelecida pelo capitalismo,
mais precisamente o cenário atual sócio-político e econômico do Brasil, e no
fim deveriam entrar em um acordo de ajudar ou não o(s) homem(s).
Em Baden-Baden, as
características de Brecht de um teatro narrativo, crítico e político, visando
uma teoria de representação fundamentada no distanciamento do ator, é claro desde
o momento em que na entrada do teatro se ouve uma gritaria, que nos sobressalta
de imediato, pois pensamos ser uma confusão, assalto ou algo parecido, levando
desde fora para dentro do Teatro Cláudio Barradas a discussão do momento atual
do Brasil; e também quando utilizam alguns recursos para ocasionar o
“estranhamento/distanciamento” como a disposição da plateia, a não existência
de cadeiras, colocando o público em pé nas laterais e direcionando o olhar deste
para cada momento do espetáculo, até o recurso do audiovisual que mostra
pessoas mortas, ensanguentadas, cenários de guerra etc. Ou mesmo quando os
atores se direcionam para o público com olhares que pulsam emoção e ao mesmo
tempo vontade de ir embora dali.
Não há dúvida, a meu
ver, que o processo de criação na elaboração estética da obra foi muito bem
executada e os recursos bem distribuídos e trabalhados no cenário e figurino.
Não há dúvida da poética existente por detrás da atuação dos atores, tudo era
sinergia. Contagiava. Porém, algo me incomodou profundamente a existência da
quarta parede, pois apesar dos olhares pulsantes dos atores, e da movimentação
da cena em relação à plateia, me sentir completamente público e não parte
daquele todo, não me sentir parte do jogo.
Logo, se tratando de
uma poética de caráter social, penso minha participação como fundamental, não
somente na fruição e recepção da obra, mas como parte da construção poética e da
representação dela, como ser social e político que é o cidadão; um dos elementos que deve ser trabalhado no
teatro sendo feito na visão brechtiana deve apresentar à sociedade os fatos do
cotidiano a fim que se possa julgá-los.
Nesse caso torna-se
exposto ao espectador o julgamento e o juízo de valor realizado à obra.
Sabendo-se mesmo assim que é da escolha do encenador dentro do processo de
criação o tipo de linguagem cênica que se quer trabalhar.
Por fim, penso BADEN-BADEN: sobre o acordo um
espetáculo que deve fazer mais que somente refletir sobre este momento, deve ir
para além das paredes do teatro como nos propôs os concluintes tanto no início
como no fim, nos deixando sozinhos no teatro, sem reações, nos aguardando do
lado de fora e mostrando que é para muito mais a discussão.
Paula
Barros
04
de Maio de 2016.
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