Instalação Performática: O Velório de Dona Pereira
Autora da Crítica: Maria Christina.
Participante do mini curso “O que pode uma crítica teatral?”
Uma aura de mistério sempre
envolve a divulgação da peça O Velório
de Dona Pereira e o simples ato de adquirir os ingressos requer delicada
atenção e adesão. A participação do espectador já nasce antes mesmo do dia
da atuação e tudo é mantido em segredo até quase o momento do espetáculo começar.
Aquela noite parecia
envolta em bruma e, chegando ao Casarão
do Boneco, outros interessados se aproximavam e trocavam entre si algumas
impressões sobre inusitado intróito, tendo em vista uma certa figura coberta
por véu negro à beira da rua, praticamente imóvel, ou a mesinha com xícaras e café
ao lado do muro de uma casa qualquer, e nós que nos olhávamos e perguntávamos
afinal o que era tudo aquilo.
No horário marcado a
performance deu início e a interrogação ainda identificava o grupo.
Uma criança brincando
de bicicleta nos convidou a elaborar o olhar e investigar seus movimentos
circulares, que se ampliavam a cada volta. O som parecia traçar um limite
invisível com a via próxima e aos poucos fomos introduzidos num jogo à meia
luz.
Da floresta surgiram
seres muito estranhos, macabros mesmo, e com eles mais sons e murmúrios, assim
como lamentos, gritos, rangeres de dentes e de portas, e com passos lentos e
inseguros caminhamos entre a mata que parecia muito densa e que de tão densa
não deixava identificar se a lua acompanhava o estranho cortejo a se dirigir
não se sabe bem aonde exatamente, mas mesmo às cegas ou tateando finas árvores,
por vezes, seguia em frente.
De repente o corpo, de
repente o insólito do momento final, de repente o susto da expressão, e os
seres nos rodeando, criando outros limites e interditos, indicando o centro da
sala. Nós nos entreolhando, querendo auxílio diante do cenário inesperado. Eles
reclamavam o reconhecimento e a participação, e diante de certa hesitação, nos
olhavam nos olhos, e apontavam aquele ser.
Aos poucos fomos
descobrindo, como eu também, que nem todos conheciam a defunta, cujas histórias
e feitos vinham de muito que se comentava e se dizia aqui, ali e acolá, e sim,
era merecedora de estranha homenagem, atraindo a atenção de tanta gente
diferente que se prestou a atravessar a noite escura, para ouvir cantos e
lamentos ora sim ora não (não se teve certeza mesmo estando presente).
O clima ainda era
estranho, mas aos poucos nos familiarizamos com o ritual e fomos nos deixando
envolver no circuito proposto e aproveitando para olhar melhor o entorno, os
anfitriões, e começamos então a confraternizar com os conhecidos, todos ainda
se refazendo do singular encontro. Era a primeira vez para nós.
A noite cantou
novamente, nos pôs em romaria, nos ensinou a estrofe e nos pediu pra entoar em
uníssono, palavras de tristeza e sorte. Seguimos fiéis e nos encontramos,
afinal, sozinhos e livres, como na chegada.
Junho
de 2017
FICHA
TÉCNICA:
Intervenção
performática:
O
Velório de Dona Pereira
In Bust Teatro com Bonecos e
Produtores Criativos
Elenco/Técnica:
Adriana Cruz, Andréa Rocha, Aníbal Pacha,
Adriana Cruz, Andréa Rocha, Aníbal Pacha,
Cincinato Marques Jr, Cristina
Costa, Fafá Sobrinho
Lucas Alberto, Nanan Falcão, Tereza
Ojú,
Thiago Ferradaes, Paulo Ricardo
Nascimento e
Vandiléa Foro
Realização:
In Bust Teatro com Bonecos,
Produtores Criativos e Coletivo Casarão do Boneco.
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