Montagem teatral: Parto / BAI – Bando de
Atores Independentes.
Autora da Crítica: Nanda Lima. Psicóloga,
tradutora/interprete em Língua Inglesa e graduanda em Relações Internacionais.
Espetáculo SOLO de
Maurício Franco. O que seria um espetáculo SOLO? Ao ler a descrição da montagem
teatral antes de assisti-la de fato, a palavra me cortou por diversas vias. O
que é fazer algo SOLO? Sozinho. Só. Único. Seria o ser humano capaz de fazer algo
puramente sozinho? O espetáculo em si, em seu texto naturalista e arregrado nos
fornece a resposta. Não. O ser e o estar são um conjunto.
Ainda assim a palavra
SOLO incidiu em mim ao longo dos 40 minutos da apresentação. No decorrer do
texto suado de luzes psicodélicas, que insiste em imprimir uma sensação
claustrofóbica e incômoda a cada palavra cuspida pelo ator, posso tecer o que
para mim é o SOLO: Revelar-se o quanto estamos sós, o quanto não somos nenhum
de nós.
Devo confessar minha
paixão pelo livro de Erasmo de Rotterdam e todo o seu aspecto satírico a
brincar com o sombrio e obscuro da psique humana. Em seu ensaio SOLO, o autor
diverte-se em fazer alusões a conceitos católicos na mais pura essência
retórica. E em minha confissão, alerto para o meu desejo SOLO não concretizado
pelo discurso do espetáculo. Enquanto que o livro de Rotterdam acariciou-me o
Ego e me transportou para o entendimento maximizado do ser humano em todo o seu
elogio imerecido ao mundano, senti no texto revelado por Maurício Franco um tom
jocosamente SOLO de epopeia do fazer arte.
Explico-me: ao sair do “Sinhá
Pureza” e aguardar minha carona buscar o carro para que nos fossemos, os poucos
minutos que fiquei ali fora entre o luar de divindades e a terra de
humanidades, escutei um jovem casal agraciar a montagem, referindo-se a
inovação e criatividade do ator em sua performance SOLO. O espetáculo é uma
homenagem a profissão de ator, em cada segundo, em cada minuto que o ser
artístico diante de alguns olhos que o apreciam, desdobra-se em palavras,
movimentos, olhares e ações que intencionam demonstrar até onde ele, SOLO, pode
ir.
Se o jovem casal apenas
soubesse que a apresentação não é tão inovadora assim, que há vários
espetáculos como este pela cidade, tanta arte que explode pelos bueiros e
recantos da cidade, mas ninguém vê, ou ninguém quer ver? É difícil ser fã da
arte do ensaio teatral tanto quanto é para um ator fazer um ensaio SOLO,
somente para sua catarse libidinal do nascer ator.
Merecido se vale
almejar a independência e arriscar-se a ser um hospede inconveniente entre os
demais, no que acreditamos afinal? Quais são as cicatrizes que rasgam o seu ser
e para onde partimos quando nos vamos? Seria esta enfim a jornada SOLO do viver?
Ou estaríamos somente a apreciar o que não podemos ter?
18
de Junho de 2017.
Espetáculo Parto
Ficha Técnica
BAI – Bando de Atores Independentes
Elenco
Maurício Franco
Trilha Sonora
Trilha Sonora
Maércio Monteiro
Iluminação
Iluminação
Sônia Lopes.
Colaboração
Colaboração
Camila Paz
Operação De Som
Operação De Som
Juliana Bentes
Preparação Corporal e Direção
Preparação Corporal e Direção
Paulo César Jr.
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