domingo, 18 de junho de 2017

O Inconveniente de Conviver Entre Nós – por Nanda Lima.





Montagem teatral: Parto / BAI – Bando de Atores Independentes.
Autora da Crítica: Nanda Lima. Psicóloga, tradutora/interprete em Língua Inglesa e graduanda em Relações Internacionais.
        
Espetáculo SOLO de Maurício Franco. O que seria um espetáculo SOLO? Ao ler a descrição da montagem teatral antes de assisti-la de fato, a palavra me cortou por diversas vias. O que é fazer algo SOLO? Sozinho. Só. Único. Seria o ser humano capaz de fazer algo puramente sozinho? O espetáculo em si, em seu texto naturalista e arregrado nos fornece a resposta. Não. O ser e o estar são um conjunto.
Ainda assim a palavra SOLO incidiu em mim ao longo dos 40 minutos da apresentação. No decorrer do texto suado de luzes psicodélicas, que insiste em imprimir uma sensação claustrofóbica e incômoda a cada palavra cuspida pelo ator, posso tecer o que para mim é o SOLO: Revelar-se o quanto estamos sós, o quanto não somos nenhum de nós.
Devo confessar minha paixão pelo livro de Erasmo de Rotterdam e todo o seu aspecto satírico a brincar com o sombrio e obscuro da psique humana. Em seu ensaio SOLO, o autor diverte-se em fazer alusões a conceitos católicos na mais pura essência retórica. E em minha confissão, alerto para o meu desejo SOLO não concretizado pelo discurso do espetáculo. Enquanto que o livro de Rotterdam acariciou-me o Ego e me transportou para o entendimento maximizado do ser humano em todo o seu elogio imerecido ao mundano, senti no texto revelado por Maurício Franco um tom jocosamente SOLO de epopeia do fazer arte.
Explico-me: ao sair do “Sinhá Pureza” e aguardar minha carona buscar o carro para que nos fossemos, os poucos minutos que fiquei ali fora entre o luar de divindades e a terra de humanidades, escutei um jovem casal agraciar a montagem, referindo-se a inovação e criatividade do ator em sua performance SOLO. O espetáculo é uma homenagem a profissão de ator, em cada segundo, em cada minuto que o ser artístico diante de alguns olhos que o apreciam, desdobra-se em palavras, movimentos, olhares e ações que intencionam demonstrar até onde ele, SOLO, pode ir.
Se o jovem casal apenas soubesse que a apresentação não é tão inovadora assim, que há vários espetáculos como este pela cidade, tanta arte que explode pelos bueiros e recantos da cidade, mas ninguém vê, ou ninguém quer ver? É difícil ser fã da arte do ensaio teatral tanto quanto é para um ator fazer um ensaio SOLO, somente para sua catarse libidinal do nascer ator.
Merecido se vale almejar a independência e arriscar-se a ser um hospede inconveniente entre os demais, no que acreditamos afinal? Quais são as cicatrizes que rasgam o seu ser e para onde partimos quando nos vamos? Seria esta enfim a jornada SOLO do viver? Ou estaríamos somente a apreciar o que não podemos ter?
18 de Junho de 2017.

Espetáculo Parto
Ficha Técnica
BAI – Bando de Atores Independentes
Elenco
Maurício Franco
Trilha Sonora
Maércio Monteiro
Iluminação
Sônia Lopes.
Colaboração
Camila Paz
Operação De Som
Juliana Bentes
Preparação Corporal e Direção
Paulo César Jr.

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