Montagem Teatral: Parto – BAI – Bando de Atores Independentes
Autor da crítica: Ramon Oliveira. Participante do minicurso “O que pode
uma crítica teatral?”
“Dúvidas em dimensões, pensei ter
visto alguém passar... Confusão; distorção; ilusão... Dúvidas em dimensões
pensei ter visto alguém aqui... Confusão; distorção; ilusão”. Impossível pensar
o que vi de olhos abertos. Foram tantas luzes. Reflexos azuis, vermelhos,
reflexos brancos. Enfim, prefiro o vermelho! Não me desprendi do título da
peça. Parto. Mas em qual sentido? O
que me prende a cor, a palavra. O parto da partida, para mim, é preto. Como se
algo perdesse coloração na despedida, mas também, meus olhos estão fechados,
tudo será preto. Terei a ideia de que algo não existe mais em mim, uma
despedida que deixa um vazio, um reflexo escuro.
Vermelho do parto, da vida, do
sangue. Vermelho da vida. Saímos repletos de sangue, até que a primeira dor que
sentimos nos faz respirar. Estranho atribuir a vida a cor vermelha, mas com
meus olhos fechados, eu pensei nisso... Confusão, distorção, ilusão... Por
isso, penso em parto, nosso primeiro ato em vida. Assim como viemos do sangue,
por vezes, é pelo sangue que partimos. Reflexo vermelho, forte, espesso.
Reflexo que acompanha o choro, a tristeza, a vontade de estar perto de alguém
para ter menos medo.
Fim do reflexo, mas os olhos
permanecem fechados. Presto atenção na respiração do ator. Ele estava ofegante,
sua respiração sempre aumentava, a tensão naquele casarão também. Muitas idas e
vindas, pulos e olhares. Olhares demorados ou não, enfim, ele nos encarava como
se conhecesse cada um naquela noite. Ele se aproximava tanto que era possível
sentir o calor que saia do seu corpo, depois voltava... Olhava para outra
pessoa, se aproximava, repetia o processo.
O ator nos conduz a uma outra
sala, aparentemente, menor, menos iluminada. Uma lâmpada de emergência ilumina
parte dos rostos suados naquela sala. Além de nós, dois enormes bonecos
participavam avidamente de cada movimento e aparição do ator. Minha atenção foi
tomada pela lenda da senhora de Mosqueiro que na noite em que dois marinheiros
desembarcaram na cidade, ela foi tratada e agredida fisicamente pelos dois homens
que pernoitavam na cidade. E o mais interessante nessa história, é que esta
senhora, era uma protetora da vila, e durante a noite ela se transformava em
uma porca que protegia os moradores.
Em seguida, literalmente,
passamos por cima da faixa de proibido passar! Fomos para um ambiente mais
agradável para quem gosta de caipirinha e literatura. A tarefa era bem simples:
leia um pouco e ganhe uma caipirinha com bastante álcool. O espaço era pequeno
e as pessoas bastante. Obviamente, o calor aumentou naquele espaço. As mais calorentas ouviam as leituras do lado de
fora deste cômodo. Mas pra quem queria saborear aquela caipirinha, o calor se
tornou um obstáculo que foi facilmente ultrapassado.
Minha cena preferida vem logo em
seguida ao open bar de caipirinha literária.
O ator sobe em uma parede que foi pintada com cores fortes, os tons em vermelho
ocuparam a maior parte daquela tela. Gostaria de ter fotografado a parede para
reproduzir em outro lugar, mas preferi prestar atenção aos movimentos que eram
realizados com um excelente jogo de luz. De repente, mais um silêncio. Mais uma
vez ouço apenas a respiração do ator que aos poucos vai se tranquilizando, que
aos poucos vai ficando muda, que aos poucos se transforma apenas em respiração.
Ele agradece, ele bate palma, ele
grita, ele nos olha e sai correndo. Como espectador de primeira viagem eu ainda
não sabia que os atores iam embora no Casarão do Boneco, 815.
19 de Junho de 2017.
Ficha
Técnica:
Montagem
Teatral:
Parto
BAI – Bando de Atores Independentes
Elenco:
Maurício Franco
Trilha:
Maércio Monteiro
Iluminação:
Sônia Lopes
Colaboração:
Camila Paz
Operação
de Som:
Juliana Bentes
Preparação
Corporal e Direção:
Paulo Cesár Jr.
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