Montagem Teatral: Parto / BAI – Bando de Atores Independentes
Autor da crítica: Afonso Gallindo – Publicitário,
Produtor, Documentarista e Jornalista. Participante do Minicurso de crítica
teatral “O que pode uma crítica teatral?”
Fragmentos de memória, de
histórias, ocupavam o espaço adotado pelo grupo BAI, no Sinhá Pureza.
Como uma colcha de
retalhos, fui convidado a partilhar da vida, ora imaginária e ora presencial
daquelas pessoas.
Diversos foram os
elementos utilizados para contar estas histórias: um som, uma luz, uma música,
um fio imaginário que nos cercou no início, evocado pela personagem condutora,
assumida pelo ator até o final, onde o mesmo tornou-se físico, nos envolvendo e
incorporando definitivamente ao amplo universo proposto pela montagem.
Claro, tudo começou aos
poucos. Afinal, toda a casa era proscênio. Todas as luzes indicavam para onde o
olhar deveria se conduzir, numa composição harmoniosa som/corpo/escuro&luz.
Assim como os sons, aparentemente
recortados por um estilete afinado, a luz indicava o tempo e o não-tempo das
diversas histórias ali contadas.
Posso quase afirmar:
Todos residem naquele ator. Ele foi tod@s e foi ninguém.
Recordei minha antiga
leitura de Stanisłavski, onde as três personas existem em um único espaço e ali,
localizadas no meio do delírio e da sanidade, entre o amor e o abandono.
Dois momentos,
particularmente, quero destacar. Um por entender não encaixar no conjunto e
outro por permitir a olhar para mim mesmo, como em um espelho.
No primeiro momento, uma
das personagens convida ao público a tomar uma caipirinha em troca de um trecho
de leitura ou mesmo por um texto, tudo supostamente estimulado pela aguardente.
Entendi ali destoar, acontecer um rompimento a, até então, relação de quase cumplicidade
e observação proposta.
Para mim o mais delicado
e profundo, foi o segundo momento. O
ator retirou a máscara dionisíaca, e do limite entre pessoa e personagem evoca
um nome. A resposta dada pelo silêncio, pesou muito em meus ombros. Ali me vi refletido,
muitas vezes refletido.
Terminei a peregrinação
com a certeza: A pirotécnica é apenas um recurso de adorno. Mesmo com elementos
simples e ali disponíveis, habitei aqueles universos e, sem a menor sombra de
dúvida, pretendo retornar.
19
de Junho de 2017.
Ficha
Técnica:
BAI – Bando de Atores Independentes
Direção:
Paulo César Júnior
Elenco:
Maurício Franco
Trilha:
Maécio Monteiro
Sonoplastia:
Juliana Bentes
Iluminação:
Sônia Lopes
Produção:
Andréa Rocha
Nenhum comentário:
Postar um comentário