quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O que querem as Zecas? – Por Paula Barros

Paula Barros, Graduanda de Licenciatura Plena em Teatro, Bolsista PIBEX 2016 do Projeto de extensão Tribuna do Cretino.
Iniciamos a semana na Escola de Teatro e Dança da UFPA com o VIII Seminário de Pesquisa em Teatro com o tema: Teatro na escola como eu pratico?. O evento contou com dois GTs voltados a experiências pedagógicas com o teatro seja no espaço acadêmico ou fora dele e o intuito era de compartilhar, trocar como diria a Professora Wlad Lima. Uma semana de diálogo e total interação entre discentes, docentes, artistas e colegas de trabalho.
Qual o motivo de dizer isso? Havia na programação dois espetáculos a serem apresentados, mas o que me interessa dialogar é a Zeca de uma cesta só, pois se tratando de Teatro na escola como eu pratico?, penso que vale ressaltar que o espetáculo na primeira temporada se apresentava como GTU – Grupo de Teatro Universitário e agora são convidados e se apresentam como Coletivo Zecas de Teatro, ou seja, comparo eles como filhos, assim que crescem tomam autonomia e seguem sua vida, constroem sua família e vão viver nas suas casas. Assim é hoje o Coletivo Zecas: como alunos da Escola/Universidade aprenderam, absolveram o que podiam, em parcerias artísticas, escolheram sua família, encenam uma dramaturgia de escrita própria a partir do ponto de sua vivência nos espaços da academia e da vida em sociedade e, dessa maneira, constroem seu caminho e hoje tem sua casa o Centro Cultural Casa da Zeca, localizado no centro comercial de Belém.
Então, pensando na dialética e o tema do Seminário e considerando o Coletivo Zecas como um grupo independente e maduro na vida artística, começo a questionar a escolha de um posicionamento partidário dentro do espetáculo Zeca de uma cesta só. A montagem narra a vida de uma mulher (Zeca) vinda do interior para estudar e morar em casa de família na cidade de Belém. Engravida ainda na adolescência em decorrência de um estupro e, sem perspectivas, segue a vida morando na “baixada” belenense. Sobrevivendo como empregada doméstica, ela subestima a própria vida, encontrando de alguma maneira meios para fazer da tristeza e a falta de oportunidade um modo feliz de viver, ou como diria o dito popular: “se tem um limão, faça uma limonada”.
A montagem através de intervenções de mídia (slide) e narradores/atores a partir da vida da Zeca reflete e questiona a atual conjuntura social e política da entrega de cestas básicas. Logo, ao ver a Zeca, achava que a proposta era refletirmos sobre nossa conjuntura social, política e econômica, achava que questionar sobre esses temas dentro do sistema capitalista que nos encontramos seria o eixo central do espetáculo.
Mas é dentro dessa dimensão sócio-política que acredito que a montagem se coloca, que questiono e indago, o porquê de nessa temporada em um dos momentos de aparente descontração na distribuição de bebidas e festa de aparelhagem, um dos atores menciona o nome e número do seu candidato dessas eleições a prefeitura de Belém, e logo em vésperas de eleições de segundo turno, tomando partido e fazendo levantamento de bandeiras? A intenção era nos fazer refletir sobre o cenário político e social atual?.
Como eleitora me sentir completamente lesada, primeiramente porque é angustiante que as propostas dos candidatos sejam sempre receitas de bolo – prometem saneamento, creches, escolas, saúde, etc. E quando chega a altura de um segundo turno a estratégia é de derrubar o outro e os debates ficam nas trocas de farpas.
Segundo, lembro do tema do seminário – Teatro na escola como eu pratico?. Havia alunos de uma escola convidados a assistir o espetáculo, não sei dizer de onde, mas estavam ali sentados assistindo, e como educadora me indago até mesmo sobre o que é teatro? Qual a dimensão desse teatro? E sempre achei que era questionar, refletir, significar através de uma linguagem e de uma estética, mas esqueci que como educadora sou formadora de opinião. Então, até que ponto devo ser imparcial seja dentro de uma sala de aula, na encenação de um espetáculo, na própria construção seja lá qual for a obra artística? Então, resolvo escrever e me contamino pelo que diz Patrick Pessoa sobre a arte da crítica que: “nenhum realizador tem controle total da reverberação de sua obra ou da infinidade de possíveis camadas que ela pode ter”. E assim concluo a partir do espetáculo Zeca que o levantamento de bandeiras é um sintoma da “democracia” atual no mundo e o teatro não está alheio a isso.
E me revelando totalmente avessa a esse modo de praticar o teatro e numa tentativa angustiante e frustrada do voto nulo fazer alguma diferença nessas eleições resolvi não ser estratégica, não joguei o xadrez da política capitalista, não fui influenciada muito menos influenciadora da minha tentativa isolada de fazer diferente.
 Por tudo isso, ainda que conclusivo seja meu raciocínio a respeito do espetáculo Zeca de uma cesta só, continuo a questionar, só que dessa vez o Coletivo Zecas: qual Teatro que vocês praticam? Ou melhor, o que é Teatro para vocês?.
Paula Barros
02 de Novembro de 2016

FICHA TÉCNICA:
Direção: 
Gisele Guedes e Paulo César Jr.
Encenação: 
Léo Ferreira.
Dramaturgia:
Amanda Carneiro, Rhuan Pablo Pina, Léo Ferreira e Rodrigo Pimentel. 
Concepção Sonora: 
Léo Ferreira.
Figurinos: 
Carolina Monteiro, Assucena Pereira e Mayra Saldanha.
Maquiagem: 
Selma Salvador e Edson Duarte.
Produção: 
Rafaelle Siqueira, Thamires Costa, Miller Alcantara e Brenda Lima.
Assessoria de Comunicação: 
Jairo Figueiró.
Cenografia: 
Cláudio Bastos.
Supervisão: 
Wlad Lima, Olinda Charone e Paulo de Tarso.
Iluminação:
Enoque Paulino
Operação de Áudio: 
Lorrana Souza
Elenco:

Assucena Pereira, Brenda Lima, Carolina Monteiro, Edson Duarte, Felipe Almeida, Jairo Figueiró, Mayra Saldanha, Miller Alcântara, Paulo Cézar Jr, Rafaelle Siqueira, Selma Salvador.

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