Paula Barros: Graduanda de
Licenciatura em Teatro/UFPA, Bolsista PIBEX 2016 pelo projeto TRIBUNA DO
CRETINO.
“A
memória costuma deixar partes para trás”
(1992,
Paraíso Perdido)
Em meio ao mundo
informatizado e midiático em que vivemos há um espaço ou quem sabe posso dizer
um “HD de memória” que nosso cérebro de alguma forma persiste em conservar. No
entanto, mão nos damos conta até sentirmos um cheiro que nos marcou, ver uma
fotografia que há tempos estava guardada ou quem sabe ir a um lugar que foi
especial.
Há
muitas maneiras de lembrar e é de modo tecnológico e informatizado que me atravessam
as recordações de um tempo em que a vida tinha cheiro de mato molhado, som de
grilo, rio que transbordava... de um tempo onde tudo era simplicidade.
Brincar na rua era a atividade
preferida das crianças moradoras da Alameda Gonçalves. Sempre fui a mais
arteira da turma, então, certa vez numa jogada de “cemitério” ou como também
chamam “queimada” – jogo onde os participantes dividem-se em dois grupos, cada
um de uma lado da quadra; o jogo se estabelece na tentativa de “matar” o
adversário acertando-o com uma bolada em qualquer parte do corpo; quando isso
ocorre se leva o “morto” a até o funda da quadra adversária, espaço conhecido
como “cemitério”; ganha o time que estiver com mais jogadores no seu lado da
quadra ao final – começamos dividindo os times, seis para cada lado; ao começar
a brincadeira, exibida que eu era, me joguei na frente da bola sendo a primeira
a morrer e ao chegar no “cemitério”, na tentativa de pegar a bola com combina,
me agachei de um modo como se fosse fazer cambalhota, com as mãos entre as
pernas, para a bola bater na minha bunda e, acreditem, cai de testa no chão,
ficando com uma ferida horrorosa que acabou me dando de presente um corte de
cabelo como “partinha”, o que marcou todas as fotos no meu aniversário de sete
anos. Constrangedor.
A alameda se localiza
na D. Romualdo de Seixas, mas naquele tempo de infância em que eu morava por lá,
a Baía do Guajará chegava a banhar a rua e o que encontrávamos era mato e
palafitas – construções sobre estacas em terrenos alagadiços. Eram tempos em
que os grilos após um “toró” apareciam para cricrilar e nós, crianças arteiras,
saíamos para caçar. Parecia que todas as noites eram de lua cheia, com vento
soprando diretor do rio para secar nosso suor depois da brincadeira.
E, então, o círio!
Ahhh! O círio era bem melhor com toda a vizinhança, cheiro de maniçoba da vovó
que já estava fervendo desde o início de outubro, o bolo de chocolate da tia
Izaura e a confraternização das famílias após uma caminhada que saia da D.
Romualdo de Seixas, passava pelo Doca de Souza Franco até a esquina da Travessa
Quintino com a Avenida Nazaré, para ver a passagem da santa.
Nada mudou, ou na
verdade tudo mudou, porque o tempo passou – passou para mim e para aquelas
crianças –, mas a rua é a mesma. Porém, com transformações espaciais que o
tempo e as mãos do homem se encarregam de criar. A rua está lá e continua a
memória recordar... outras músicas escutar... ver gente passar... porém aquelas
crianças ali não vão brincar.
Tempos que passam e
repassam. A cada recordação um novo presente. A cada rua uma memória esquecida.
A minha não é igual a tua. A rua é o espaço onde estão todas as memórias e ao
mesmo tempo nenhuma.
Lembranças acionadas
pelo Reator Eterno: O rio submerso
vai transbordar. Então, que transborde nossas memórias lavando nossa vida e
desintoxicando esse mundo sujo e corrupto. Transborda rio, transborda rio,
transborda e lava o mundo!
Paula
Barros
09
de Outubro
FICHA
TÉCNICA:
Projeto
Reator Eterno: Instalações das Lembranças
Passeio
das lembranças (performances): “O rio submerso” e “O trilho Inverso”
Direção
e Coordenação Geral:
Nando Lima
Performers:
Pedro Olaia, Dudu Lobato, Wan
Aleixo, Bernard Freire Nando Lima e Vandileia Foro
Entrevistas:
Pedro Olaia
Câmera
e Fotos:
Dudu Lobato
Trilha
Sonora:
Armando Mendonça
Roteiro
da Performance:
Nando Lima e Pedro Olaia
Designer
Gráfico:
Wam Aleixo
Textos
Site / Blog / Imprensa
Bernard Freire
Expografia:
Nando Lima
Instalação
e Montagem:
Pedro Olaia, Dudu Lobato, Wan
Aleixo, Bernard Freire e Nando Lima
Figurino:
Telma Lima
Edição
de Vídeo:
Nando Lima
Montagem
de Iluminação:
Nelson Dantas
Recepção:
Wan Aleixo e Bernard Freire
Produção
e realização:
Estúdio REATOR
Agradecimentos aos moradores dos
bairros de São Brás e Fátima e
Abílio Franco
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