quarta-feira, 6 de abril de 2016

Quem Quer Bolacha? – Por Tarsila Maquiavel França

Tarsila Maquiavel França – Graduanda em Administração UFPA e Técnico em Ator ETDUFPA.
Antônio do Rosário estreou seu primeiro espetáculo-solo em “Quer Bolacha?”, na Casa do Palhaço, com uma caracterização que dá um ar meio Rock Roll ao seu palhaço. A peça percorre pelas linguagens do: Teatro, Palhaçaria e Técnicas Circenses. Quem vê as cenas com um olhar mais distraído, não consegue perceber a essência por traz das brincadeiras que levam o público ao riso. O Palhaço Black convida todos a entrar em seu quarto, onde paira um universo cômico e sensível, temperados com muitas lembranças.
Durante cada cena, que são inspiradas nos seus familiares – Dona Maria (mãe), Seu Raimundo (pai) e Seu Luís (Tio) – o espectador mergulha no seu senso íntimo, e transborda saudosismo.
A encenação tem um cenário simples, eu diria até minimalista, bem interessante, com apenas uma rede e uma cortina na parede junto com as fotografias de seus familiares; surge durante a encenação um banco com um telefone, que irá atravessar durante várias cenas. Um telefonema que é muito esperado, ansiosamente esperado, e quando usado falam conversas banais e sucintas, quase uma blablação, com o único objetivo de ouvir, ouvir como um abraço apertado, que afaga o coração.
No decorrer da peça, a plateia se depara com bolachas, dadas pelo próprio Black, simbolizando um gesto de carinho, de quem cuida e se preocupa, um gesto carinhoso de mãe que quer alimentar seus filhos e ver bem quem ama. Inclusive uma das cenas mais engraçadas do espetáculo, onde todos compartilham a fome e curiosidade de saber para qual caminho irá à peça. Seu único destino, sabemos ao final, que é carinhosamente homenagear sua família.
“Aconchego do lar” é assim que vejo a última cena, representa talvez a volta de Antônio para casa. O ator faz algumas acrobacias na rede que fica pendurada, acrobacias que lembram brincadeiras de criança, que se enrola, que fica de ponta a cabeça, que se balança, é muito gostoso de ver, nos dá uma saudade da infância.
Tem uma cena de Dona Maria, em que é representada em um momento intimo, sabe aquela frase “O que você faz quando não tem ninguém olhando?”, pois é nesses momentos é que demostramos quem somos nós; ela aparece com um pequeno vidro de perfume, causando uma curiosidade no público e faz desse momento único, e borrifa o perfume para o alto e corre para que os pingos caiam na sua roupa. Tão doce que parece uma dança alegre e suave, suavemente bailada pela sua alegria de ser feliz nas coisas mais simples do dia-a-dia. É uma cena de encantamento.
No todo o Palhaço Black nos leva a momentos de impacto, sonhos, e mais ainda, a momentos de reflexão. Faz-me pensar que não devemos passar pelo cotidiano despercebido, distraído. Vejo como uma chamada para valorizarmos as pessoas que amamos.

Por fim, a história perpassa por cenas cotidianas cheias de saudosismo de entes queridos, da infância e suas inocentes brincanças, da espera e ânsia para ouvir a voz de quem amamos. Dos costumes engraçados que faz de cada um de nós seres únicos. Do afeto e amor que carregamos ao longo da nossa vida. Do aconchego de estar em casa, da solidão dos mais velhos. É um atravessar no tempo e na memória, me faz pensar o quanto a vida passa tão rápido. É um espetáculo para ser visto. Há se eu soubesse que certos momentos não voltam mais. Parabéns a Antônio e a todos pelo belo espetáculo.
Tarsila Maquiavel França
06 de Abril de 2016

Um comentário:

  1. Chorei lá, chorei lendo, liguei pra mamãe e chorei de novo... O espetáculo emociona em um nível absurdamente singelo. "Tomei banho errado" e eu chorei de rir.

    ResponderExcluir