Tarsila
Maquiavel França – Graduanda em Administração UFPA e Técnico em Ator ETDUFPA.
Antônio do Rosário
estreou seu primeiro espetáculo-solo em “Quer Bolacha?”, na Casa do Palhaço,
com uma caracterização que dá um ar meio Rock Roll ao seu palhaço. A peça
percorre pelas linguagens do: Teatro, Palhaçaria e Técnicas Circenses. Quem vê
as cenas com um olhar mais distraído, não consegue perceber a essência por traz
das brincadeiras que levam o público ao riso. O Palhaço Black convida todos a
entrar em seu quarto, onde paira um universo cômico e sensível, temperados com
muitas lembranças.
Durante cada cena, que
são inspiradas nos seus familiares – Dona Maria (mãe), Seu Raimundo (pai) e Seu
Luís (Tio) – o espectador mergulha no seu senso íntimo, e transborda
saudosismo.
A encenação tem um
cenário simples, eu diria até minimalista, bem interessante, com apenas uma
rede e uma cortina na parede junto com as fotografias de seus familiares; surge
durante a encenação um banco com um telefone, que irá atravessar durante várias
cenas. Um telefonema que é muito esperado, ansiosamente esperado, e quando
usado falam conversas banais e sucintas, quase uma blablação, com o único
objetivo de ouvir, ouvir como um abraço apertado, que afaga o coração.
No decorrer da peça, a
plateia se depara com bolachas, dadas pelo próprio Black, simbolizando um gesto
de carinho, de quem cuida e se preocupa, um gesto carinhoso de mãe que quer
alimentar seus filhos e ver bem quem ama. Inclusive uma das cenas mais
engraçadas do espetáculo, onde todos compartilham a fome e curiosidade de saber
para qual caminho irá à peça. Seu único destino, sabemos ao final, que é
carinhosamente homenagear sua família.
“Aconchego do lar” é
assim que vejo a última cena, representa talvez a volta de Antônio para casa. O
ator faz algumas acrobacias na rede que fica pendurada, acrobacias que lembram
brincadeiras de criança, que se enrola, que fica de ponta a cabeça, que se
balança, é muito gostoso de ver, nos dá uma saudade da infância.
Tem uma cena de Dona
Maria, em que é representada em um momento intimo, sabe aquela frase “O que
você faz quando não tem ninguém olhando?”, pois é nesses momentos é que
demostramos quem somos nós; ela aparece com um pequeno vidro de perfume,
causando uma curiosidade no público e faz desse momento único, e borrifa o
perfume para o alto e corre para que os pingos caiam na sua roupa. Tão doce que
parece uma dança alegre e suave, suavemente bailada pela sua alegria de ser
feliz nas coisas mais simples do dia-a-dia. É uma cena de encantamento.
No todo o Palhaço Black
nos leva a momentos de impacto, sonhos, e mais ainda, a momentos de reflexão.
Faz-me pensar que não devemos passar pelo cotidiano despercebido, distraído.
Vejo como uma chamada para valorizarmos as pessoas que amamos.
Por fim, a história
perpassa por cenas cotidianas cheias de saudosismo de entes queridos, da
infância e suas inocentes brincanças, da espera e ânsia para ouvir a voz de
quem amamos. Dos costumes engraçados que faz de cada um de nós seres únicos. Do
afeto e amor que carregamos ao longo da nossa vida. Do aconchego de estar em
casa, da solidão dos mais velhos. É um atravessar no tempo e na memória, me faz
pensar o quanto a vida passa tão rápido. É um espetáculo para ser visto. Há se
eu soubesse que certos momentos não voltam mais. Parabéns a Antônio e a todos
pelo belo espetáculo.
Tarsila
Maquiavel França
06
de Abril de 2016
Chorei lá, chorei lendo, liguei pra mamãe e chorei de novo... O espetáculo emociona em um nível absurdamente singelo. "Tomei banho errado" e eu chorei de rir.
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