Geane
Oliveira: Graduanda do Curso de Licenciatura em Teatro – UFPA; Participante do
Projeto TRIBUNA DO CRETINO.
Quem és? Por que faz
essa arte?
Um
pouco do espaço onde tu resolveste te apresentar:
O Casarão do Boneco foi
nele que te encontrei. O Casarão uniu-se a outros coletivos da cidade a fim de
promover programações que venham colaborar financeiramente para a reforma do
espaço. E aqui temos mais uma casa lutando contra o grande vilão – recurso
financeiro. No sábado dia 23 o Casarão abriu suas portas ao público para uma de
suas programações, o Amostra Aí,
onde tiveram as apresentações de contação de história, performance e
apresentação do resultado do GTU-Rua de 2015. O público paga quanto puder pelas
apresentações assistidas; a programação oferecida estava adequada para qualquer
faixa etária, o que muito atrai as famílias.
Dentre toda a
programação muito me atentei ao trabalho do GTU-Rua; queria ver como as cenas
geradas durante o processo iriam se comportar em um espaço que não era a rua e
logo percebi que houve um minucioso trabalho de adaptação ao espaço. As cenas
eram curtas, no máximo oito minutos. Mas uma me chamou atenção, afinal foi essa
que abriu e fechou a programação, seu nome: Arco-íris Invisível.
Tu és rei em teu carro!
Reis... esses foram os primeiros a contratarem artistas – bobos – que cantavam,
tocavam e jogavam malabares, animando a corte. Esses artistas eram tão
desprez/invis(íveis), que quando suas
apresentações não eram condizentes ao gosto do Rei, eram açoitados ou ainda
pior, suas cabeças eram cortadas. Mas o
que mudou nessa história?
Agora
te enxergo:
Logo no pátio que dá acesso a entrada do Casarão
te encontro, tu carregas teu material em uma mala, um boneco e três claves de
malabares. Teus trajes são iguais ao do boneco, macacão vermelho. Teu discurso
é apresentado a partir da manipulação do boneco, onde tu expões tua trajetória
como artista de rua na cidade, ou melhor, como malabarista e músico no
semáforo. Conta da sensação de ser invisível, narra a história do bobo e do
surgimento do malabares. Tudo parece tão simples até começar o jogo de
malabares que forma uma linda mistura de cores, agora sei por que Arco-íris
Invisível finaliza teu trabalho ao som de um pandeiro e da música Filosofia, de Noel Rosa.
Tudo acaba e tu voltas a ser invisível. Afinal
o teu lugar é o sinal e nele não há respeito, e as pessoas se recusam a te
enxergar. Te enxergo por agora, pois estais dentro de uma “Caixa Preta” para
falar da experiência da rua. Te agradeço por me fazer lembrar que não é apenas
a academia que me faz artista. Muitos iguais a ti estão nos semáforos da cidade
e possuem habilidades que foram buscar em outros estados ou as vezes fora do
país. O arco-íris de tuas claves me fez enxergar nas lembras, os facões que
vejo subirem e descerem em forma de curva, a roda alemã que gira por quase três
minutos com o corpo de um palhaço dentro, o perna de pau que faz embaixadinha,
as mulheres que com seus bambolês de fogo dançam felizes. Enxergo todos da
janela do ônibus (sou da corte). Mas o cara que está no carro tem vista
privilegiada e esse é o Rei, desfrutando da arte de seus “bobos”. E aos
artistas que por horas treinam suas habilidades e que até mesmo promovem
encontros a fim de trocarem experiências, restam as moedinhas, pois para muitos
Reis isso não é arte e muito menos trabalho.
Diante da apresentação
do artista de rua Lurralle Amaral que me trouxe seu Arco-íris Invisível,
reconheço que um longo caminho trilhado por esses artistas não lhes permitem
serem reconhecidos como profissionais. Talvez a maioria tenha desistido de
querer justificar seu trabalho e agora tenha apenas o interesse de ganhar suas
moedas que por vezes sustentam seus filhos.
“O
mundo me condena
E
ninguém tem pena
Falando
sempre mal do meu nome
Deixando
de saber
Se
eu vou morrer de sede
Ou
se vou morrer de fome.”
(Noel Rosa)
Geane
Oliveira
26
de Abril de 2016
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