Paula Adrianna Barros da Cruz: Atriz;
Graduanda de Licenciatura em Teatro UFPA;
Bolsita PIBEX 2016 Projeto TRIBUNA DO
CRETINO.
Quero falar da justiça,
da igualdade e do poder. Questões que no espetáculo Atena em solo viril aparecem e vão para além do teatro que agora é
o alto tribunal da cidade de Atenas.
Logo, na porta de
entrada Atena interpretada por Geane Oliveira, pede que se faça duas filas, uma
de mulheres outra de homens, e os homens pisam primeiro no solo de Atena. Frustradas
as mulheres aguardam do lado de fora. Ao entrar somos (nós Erínias) conduzidas
a sentarmo-nos no chão, do lado de fora do círculo (solo de Atena) feito por
algumas cadeiras onde os homens (cidadãos de Atenas) já estão confortavelmente
acomodados, afinal somente eles terão direito ao voto, pois se trata do
julgamento de Orestes[1], assim
logo nos situamos no período de 1200 a.C, será mesmo?.
Uma das mulheres que se
encontrava sentada no círculo fora do solo de Atena, simplesmente se recusou a
assistir o espetáculo passando, aproximadamente, os trinta minutos da apresentação
de Geane Oliveira de costas; outro caso foi um dos homens que se recusou ao
voto, não querendo participar efetivamente do que ao fim ele julgou como
injustiça. O que fiz ali foi testemunhar um ato de Injustiça? Ao fim do espetáculo
o que ressoava na minha cabeça eram as palavras de Atena: “Nasci sem ter passado por ventre materno[2]”,
“peço-vos que reflitam”.
Em um dos momentos da
representação de Geane quando coloca as mãos de um dos homens em seus olhos,
com os olhos vendados representa a Deusa Têmis demostrando que no seu tribunal há
imparcialidade e igualdade entre todos.
Atena em solo viril
em seu ritual com o vinho demonstra atos viris absolutos, onde urina como se
fosse um homem, e como homem pensa e dá absolvição a Orestes; mas também como
mulher os seduz, os homens cidadãos de Atenas, e com gestos obscenos coloca os
pés de um dos homens em seus seios e vagina, mostrando a fragilidade deste
diante do sexo (no sentido carnal). E quando se dirije a nós mulheres Atena
pede que possamos refletir, na verdade nos convence de ficar em Atenas com ela
para que sejamos Eumênides e no ato do poder de persuasão, convence como mulher
agora não com o sexo, mas como igual (mulher) que somos.
Então, a partir disso me
pergunto: por Atena não ter nascido nem passado pelo ventre materno, isso a faz
diferente de nós mulheres? E quão poderosa é Atena a ponto de determinar a
absolvição do réu? E por que é injusta aos olhos do que parecia ser um cidadão
ateniense o julgamento de Atena?
Há
discussões muito atuais no espetáculo dirigido por Edson Fernando e representado
por Geane Oliveira. O que Atena fez na sua atuação foi nos convidar a refletir
e nos interrogar de uma série de questões e de poderes que nos cabe na
sociedade, bem como, instigar um posicionamento na conjectura atual, seja ela
política econômica ou social. Bem longe de responder aqui a todas estas
perguntas, mas, a partir da representação de Atena, começar a pensá-las e
discuti-lás. Afinal, a arte (e o Teatro é arte) é expressão simbólica de uma
cultura.
Paula
Barros
31.03.2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário