quinta-feira, 31 de março de 2016

O poder de Atena? - Por Paula Barros

Paula Adrianna Barros da Cruz: Atriz; Graduanda de Licenciatura em Teatro UFPA; 
Bolsita PIBEX 2016 Projeto TRIBUNA DO CRETINO.
Quero falar da justiça, da igualdade e do poder. Questões que no espetáculo Atena em solo viril aparecem e vão para além do teatro que agora é o alto tribunal da cidade de Atenas.
Logo, na porta de entrada Atena interpretada por Geane Oliveira, pede que se faça duas filas, uma de mulheres outra de homens, e os homens pisam primeiro no solo de Atena. Frustradas as mulheres aguardam do lado de fora. Ao entrar somos (nós Erínias) conduzidas a sentarmo-nos no chão, do lado de fora do círculo (solo de Atena) feito por algumas cadeiras onde os homens (cidadãos de Atenas) já estão confortavelmente acomodados, afinal somente eles terão direito ao voto, pois se trata do julgamento de Orestes[1], assim logo nos situamos no período de 1200 a.C, será mesmo?.
Uma das mulheres que se encontrava sentada no círculo fora do solo de Atena, simplesmente se recusou a assistir o espetáculo passando, aproximadamente, os trinta minutos da apresentação de Geane Oliveira de costas; outro caso foi um dos homens que se recusou ao voto, não querendo participar efetivamente do que ao fim ele julgou como injustiça. O que fiz ali foi testemunhar um ato de Injustiça? Ao fim do espetáculo o que ressoava na minha cabeça eram as palavras de Atena: “Nasci sem ter passado por ventre materno[2], “peço-vos que reflitam”.
Em um dos momentos da representação de Geane quando coloca as mãos de um dos homens em seus olhos, com os olhos vendados representa a Deusa Têmis demostrando que no seu tribunal há imparcialidade e igualdade entre todos.
 Atena em solo viril em seu ritual com o vinho demonstra atos viris absolutos, onde urina como se fosse um homem, e como homem pensa e dá absolvição a Orestes; mas também como mulher os seduz, os homens cidadãos de Atenas, e com gestos obscenos coloca os pés de um dos homens em seus seios e vagina, mostrando a fragilidade deste diante do sexo (no sentido carnal). E quando se dirije a nós mulheres Atena pede que possamos refletir, na verdade nos convence de ficar em Atenas com ela para que sejamos Eumênides e no ato do poder de persuasão, convence como mulher agora não com o sexo, mas como igual (mulher) que somos.
Então, a partir disso me pergunto: por Atena não ter nascido nem passado pelo ventre materno, isso a faz diferente de nós mulheres? E quão poderosa é Atena a ponto de determinar a absolvição do réu? E por que é injusta aos olhos do que parecia ser um cidadão ateniense o julgamento de Atena?
Há discussões muito atuais no espetáculo dirigido por Edson Fernando e representado por Geane Oliveira. O que Atena fez na sua atuação foi nos convidar a refletir e nos interrogar de uma série de questões e de poderes que nos cabe na sociedade, bem como, instigar um posicionamento na conjectura atual, seja ela política econômica ou social. Bem longe de responder aqui a todas estas perguntas, mas, a partir da representação de Atena, começar a pensá-las e discuti-lás. Afinal, a arte (e o Teatro é arte) é expressão simbólica de uma cultura.
Paula Barros
31.03.2016



[1] Orestes filho de Agamemnôm e Clitemnestra da tragédia Grega de Ésquilo. A questão é se o fato de Orestes ter assassinado a própria mãe, torna-o merecedor do tormento infligido pelas Erínias.

[2] Zeus engoliu Métis, sua primeira mulher divina, que estava grávida de Atena, e quando sentiu chegar a hora do nascimento desta última ordenou a Hefesto, deus do fogo, que lhe fendesse a cabeça; de lá saiu Atena, já crescida e armada.

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