segunda-feira, 4 de maio de 2015

Joga pedra na Geni, Geni! – Por Raphael Andrade

Credenciais do Autor: Graduando em Licenciatura em Teatro – UFPA.  
      Os alunos do primeiro ano do Curso Técnico em Ator da Escola de Teatro e Dança da UFPA, apresentaram no encerramento da disciplina Técnicas Corporais I e Voz e Dicção I o exercício dramático da obra indutora: “Toda nudez será castigada” de Nelson Rodrigues com a temática “Falo de  Genis” com a direção do Prof. Msc, Edson Fernando e Marton Maués.
Penúria, arena em forma de quadrado lembrando um quarto, atores distribuídos ao redor, clima de suspense paira sobre os espectadores, com a ruptura do tom sepulcral no primeiro acorde de “Geni e o Zepelin” de Chico Buarque de Holanda. Gritos, sussurros audaciosos, dão ao público uma “palinha” do que está por vir. São Genis tristes, putas, sexualizadas, vingativas e marginalizadas pelas pedras dos tabus jogados pelas mãos que se escondem.
       A minoria das interpretações foram mal executadas, mas isso é apenas um detalhe, haja vista que era o primeiro exercício dos atores e o nervosismo é inerente.
O teatro do desagradável estava exposto na frente do expectador, fumaças de cigarro, terços que sensualiza pelo corpo, vinho jogado no chão, nos atores e na platéia. Ligados pela Nudez – Nudez esta castigada pelos burburinhos do público presente. A temática da apresentação não fugiu em nada do texto escrito há 50 anos por Nelson, Toda nudez será castigada mostrando-nos esse contexto da vida, que todos nós tentamos esconder, jogadas de uma forma desagradável para quem presencia as cenas.
A prostituta Geni é o enfoque da temática. Coragem exacerbada, essa é a palavra para definir as cenas, “dar a cara a tapa,” para as críticas posteriores, coragem da nudez, das mordidas pelo corpo, do toque na genitália e da exposição de cada ator com essa teatralidade sem julgamentos e pudores, que quebra qualquer tipo de conceitos sobre o certo e errado. Acredito que o ponto baixo da apresentação são os objetos das cenas, (vinho, terço e cigarro) todos praticamente propuseram este artifício para fazer a cena.
O texto dito na íntegra só vem somar com a teatralidade de Nelson Rodrigues, que nos mostra de forma simples e mitológica, esses tabus impostos pela religião de outrora... Outrora? Não! Em pleno ano de 2015 essas barreiras de pudores estão intrínsecos na maioria da sociedade. Quem presenciou “Falo de Genis” saiu da sala com um exemplo de libertação literária, teatral e, sobretudo da vida como ela é.

03.05.2015

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