Espetáculo: Zé.
Preciso readaptar meus olhos ao
teatro. À casinha da 'teatradição' em permanente redesenho que se mantém
inalterada em algumas (muitas!) experiências.
Quando público, hoje, me incomodo
com o muito. Me enfraquece a quantidade, essa necessidade furiosa que alguns
grupos da nossa cena contemporânea sentem, alta exposição pra 'mostrar' o
tanto.
Essa excessiva negAÇÃO ao espectador em sua empreitada de
recepção, que muitas vezes ocorre na surdina, em elocubrações tardias depois
que o 'fio da magia' do templo se rompe e suas asas de cera os lança ao chão,
falidos e esgotados pela busca de sentidos de todas as coisas visíveis e
inacreditáveis.
Pesquisa boa não nasce por
encomenda!. Ela vem, antes, pela urgência de um produto que o próprio processo
demanda como trabalho orgânico, sistêmico num fluxo grupal regular que se
coloca metas e desafios contínuos, generosamente compartilhados em
ocasiões-estados de comunicação pública. Ali onde os corpos partem ao encontro
de perseverantes indagações em sucessivos postos de testagens e superações que
não cessam de [re]aparecer conferindo-lhes uma causa [coisa!] pela qual lutar e
prosseguir.
Isso de ir ao teatro e deixar a
emoção em casa não existe.
Como não existe uma emoção que
deva espraiar-se confortavelmente no assento cômodo privilegiado da platéia a
espera de quem lhe atenda os caprichos pessoais. Entre uma possibilidade de
interação ou outra a experiência sensível é inegável e completamente importante,
mas a técnica tem seu mistério e sugere sua contemplação.
E isso, a emoção e a técnica são
destaques na montagem cênica "ZÉ" do Gita- Grupo de Investigação do
Treinamento Psicofísico do atuante (grupo de pesquisa da ETDUFPA).
Um texto divinizado pelo bom
aproveitamento cênico em giro concêntrico entre 35 cadeiras e muitos
outros lugares subtextuais.
Tudo limpo, denso e orquestrado
pela batuta brilhante do absurdo mórbido, elementar e catártico do
existencialismo hodierno.
Corpos cilindricos, a lágrima
vindo a tona caindo em suspensão quase no meu colo. O povo apreciando a língua,
a respiração, sentindo o hálito da palavra.
Belos sapatos, como belos as
personagens. Luz prodigiosa, simples e lunar.
A noite, o dia, a sombra, a
morte, o homem, a mulher, a vida e a angustia que nos aprisiona ganhando asas
térmicas, nos conduzindo para fora de nossos abismos ocos, lá onde tostamos no
frio.
Um estado de ausências em muitos
corpos de um único Zé(s) multidão. Oscilações de humor, máscaras físicas,
conversas aos pés dos ouvidos.
O texto é uma valsa, para dois:
de um lado 5 atores e sua direção; do outro, 35 cabeças-divagações em
descompasso inicial. O elo de ligação vai 'ditando'
É bem verdade que já ando um
pouco surda (ou mais do que imagino, suponho!) mas creio que a dicção de alguns
poderia concorrer melhor com a sonoplastia que é cortante e vitral. Eis o que
poderia ser melhor!
Excelente escolha da métrica em
versos num cavalgar de pernas a toques de pés como sinos-campainhas a acordar a
nossa consciência débi, a impedir-lhe o repouso (IN)justo.
De todo é um espetáculo de
pesquisa: bom, digno e barato para o tanto de maresias que esse grupo já
cruzou.
Trabalho promissor, sobretudo
para seus novos integrantes.
Vou ao espetáculo, volto com um
livro, viagens de vida e morte, consciência e fronteiras em Jim...
Sinto/penso, logo falo! Esse é um
trabalho que merece ser visto burlando o tempo, a chuva, o trânsito, a
preguiça e, acima de tudo a vaidade de quem já é da cena local, regional e
nacional.
É um grupo de assinatura
particular, sociedade paraense de poetas teatrais nem um pouco anônimos.
Prestígio público é o que eles
merecem, portanto.
Sem ostentações mal vindas,
porque o amor opera em silêncio, o mesmo silêncio exato e furioso que me invade
quando o último facho de luz se vai para que o CORPO atuante do grupo se erga e
posteriormente se curve em sinal de agradecimento e alívio.
Missão cumprida ]só por hoje![
Fim do ato ]..[momento em que
todo o laborioso ofício de atuantes encerra...apenas para este público, para
recomeçAR.
Sucesso a temporada, merda GITA!
Rosilene Cordeiro
02.10.2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário