domingo, 17 de dezembro de 2017

Fanfiction – Por Raphael Andrade

Montagem Teatral: A Outra Irmã.
Montagem: Teatro de Apartamento.
Autor: Raphael Andrade: Ator e Graduando em Licenciatura em Teatro.

Para Crônica do Caderno Policial – O Diário da União Liberal.

São 19h35. Indigno-me com a sujeira nas ruas, mendicâncias, homens e mulheres excessivamente vestidos de Coco Chanel misturados com uma graciosa blusa de deputados desavergonhados. Um pouco excêntrico para a tórrida temperatura dos trópicos, de acordo com as tendências europeias imitadas aqui por este Império tupin-i-ki. Confesso que caso minha legendária amiga Elizabeth Wilcox não tivesse me chamado para tal investigação, jamais sujaria meu sapato social Capotacco nas ruas amontoadas de pedregulhos deformes e sobressalentes numa mistura de dejetos e saibros desta city.
Após cansar-me de conhecer a povoação “urbana”, aceno para um táxi. Como estava com uma cuíra com o compromisso de Wilcox, ordeno para o chauffeur acelerar o automóvel até o apartamento de número 287 de uma cidade velha que me recorda Lisboa. Mas este compromisso não é mera casualidade, trata-se de inspecionar um roubo. Porém, não se trata de qualquer afano: é um caríssimo “Blithe Spirit” provavelmente roubado de Izabela Jateve Catarina de Albuquerque, a Baronesa de Belleré, que o ganhou como “um pequeno presentinho” do imperador Larapião Jateve.
 Antes das 20h. Como acordado, adentro o local da arguição. Segundo a Madame Wilcox, todos os possíveis rapinadores estariam presentes. Sento-me em uma modesta cadeira que cabe apenas um lado das nádegas. Reparo os móveis antigos que decoram a saleta. Todos os presentes estavam impecavelmente vestidos de Gucci, podia-se ter a impressão de estarem eles em algum salão da AP, se não fossem as amareladas manchas de sudoreses persistentes em algumas axilas. Pedi um Espumante Jeroboam Chandon ao Mordomo veiúdo (ui!), mas o mesmo disse que no momento só serviria caipirinhas de Jambu e, na sobremesa: Maracujá com cannabis sativa. Para tentar me socializar, converso com mães-de-santo, intelectuais Facebooktianos, jornalistas, escritores cretinos, atrizes e alguns playboys de cunho “apartheid ideológicos”. Porém, aquilo que parecia um pequeno e discreta reunião imperial em busca do ladrão do colar “BlitheSpirit”, transformou-se numa saga surpreendente, devido à série de crimes hediondos desta cidade (uma das mais perigosas do globo terrestre). Todavia, este é, sem dúvida, o mais enigmático caso de roubo que Belleré já testemunhou.
Depois do Cannabis, da Caipirinha de Jambu, avisto de longe a silhueta graciosa de minha querida escritora. Ela, ao aproximar-se e notar minha presença, brada: “Nice to see you, my dear and beloved researcher”. Retruquei em Francês: “Madame, vous êtes encore incroyablement jeune”. Beijei lentamente sua augusta mão direita. De súbito, Wilcox chama sua serviçal. Creio que seja para que eu colha alguma pista. Mormente, porque os empregados são sempre os culpados. "– Chamou, sinhá?" Espantado,  admirei a pequena figura parada à soleira da porta. A loira de farmácia, de uns vinte anos, devia ter quase um metro de altura e o redingote estufado não conseguia esconder seus pequenos músculos graciosos. Era très beau.  A escritora fez as apresentações: “– Essa é minha criada. Ela ficará com minha fortuna.”
Súbito, escutou-se um burburinho e todos os olhos se voltaram para a grande porta de vidro. Paul Chaves acabara de chegar. Estava acompanhado por Saulo Sisnando. Ansioso eu disse para o escritor: “–Saulo, não deixe de dar os parabéns para o seu acompanhante, soube que ele é um dos maiores secretários de cultura que Paráparou já teve.” O escritor mudou rapidamente de assunto: “– Preparei uma peça teatral” (o povo de teatro adora vender ingressos nos momentos mais inoportunos). Segundo Saulo, até Edyr Proença ficará extasiado.
Bruscamente, apagam-se as luzes. Ouvem-se tiros (ninguém se importa, estão todos acostumados). O barulho foi seguido por um grito de Saravá! Nando Silva acabara de incorporar. Exigiu que comprassem suas revistas! Exigiu, em português de Portugal. Sua noiva ficou estarrecida: “– É inacreditável! Nando nunca falou dessa forma!”. “– Não é ele, é uma entidade”, explicou Wilcox. Nando bebeu, de um só trago a garrafa de catuaba barata: “– Qué dizê que suncê qué sabê quem é o Ladrãozinho?” (mudando de português de Portugal para Iorubá). Wilcox decifrou a algaravia: “– Exato. Precisamos saber quem é o serial larápio do cordão”. Entidade-Nando deu uma risada Cretina: “– Ra! Ra! Ra! Ra! Mas suncês conhecem o Ladrãozili! Ele está aqui nesta sala!”. Todos olharam para... vocês sabem quem!
Subitamente ouve-se um sonoro: “– PAREM”. Todos os olhares se voltaram para o portão: era Agatha Christie. Saulo, emocionado, desmaia. Entidade-Nando faz cara de blasé. Edyr Proença num sonido quase inaudível diz:” – Eu escrevo demasiadamente melhor”. Christie vai para o meio da sala e picha no chão: “Congratulations for the audacity! I love quality theater.”
Eu, como FANFICTION, não dou spoiler. Porém, os parabenizo e escrevo do meu jeito. E ainda insisto: “– Irmãs tranquem tudo a CHAVES, e joguem as chaves fora! Quem precisa de “theater of peace?”
E o ladrão? Ah, Como não sei elaborar melhor que Sisnando. Está na cara quem larapiou o “BlitheSpirit”. TSC. TSC. TSC.

OBS: A obra chegou a ser publicada, porém, infelizmente, o editor de “O Diário da União Liberal” não teve coragem de distribuí-la às livrarias por receio de ser processado.
17 de dezembro de 2017.
Ficha Técnica:
Montagem Teatral:
A Outra Irmã
Teatro de Apartamento
Elenco:
Olinda Charone, Zê Charone, Leonardo Moraes, Leoci Medeiros
Participações especiais:
Pauli Banhos Sonia Alão e Flávio Ramos
Direção:
Saulo A. Sisnando
Dramaturgia:
Saulo A. Sisnando
Criação de Luz:
Patrícia Gondim
Operação de luz:
Luiza de Marillac
Cenário:
Patrícia Gondim
Consultoria de Maquiagem:
Danielle Cascaes
Consultoria de Figurinos:
Grazi Ribeiro
Operação de Som:
Gisele Guedes
Direção de fotografia (filmagens)
Alexandre Baena
Edição de vídeos (Filmagens)
Saulo A. Sisnando
Assessoria de Imprensa:
Edyr Augusto Proença
Produção:

Grupo Cuíra e Teatro de Apartamento

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