Montagem Teatral: A Outra Irmã.
Montagem:
Teatro de Apartamento.
Autor: Raphael
Andrade: Ator e Graduando em Licenciatura em Teatro.
Para Crônica do
Caderno Policial – O Diário da União Liberal.
São 19h35. Indigno-me
com a sujeira nas ruas, mendicâncias, homens e mulheres excessivamente vestidos
de Coco Chanel misturados com uma graciosa blusa de deputados desavergonhados.
Um pouco excêntrico para a tórrida temperatura dos trópicos, de acordo com as
tendências europeias imitadas aqui por este Império tupin-i-ki. Confesso que
caso minha legendária amiga Elizabeth Wilcox não tivesse me chamado para tal
investigação, jamais sujaria meu sapato social Capotacco nas ruas amontoadas de pedregulhos deformes e sobressalentes
numa mistura de dejetos e saibros desta city.
Após cansar-me de
conhecer a povoação “urbana”, aceno para um táxi. Como estava com uma cuíra com
o compromisso de Wilcox, ordeno para o chauffeur
acelerar o automóvel até o apartamento de número 287 de uma cidade velha que me
recorda Lisboa. Mas este compromisso não é mera casualidade, trata-se de inspecionar
um roubo. Porém, não se trata de qualquer afano: é um caríssimo “Blithe Spirit” provavelmente roubado de Izabela
Jateve Catarina de Albuquerque, a Baronesa de Belleré, que o ganhou como “um pequeno presentinho” do imperador Larapião
Jateve.
Antes das 20h. Como acordado, adentro o local
da arguição. Segundo a Madame Wilcox, todos os possíveis rapinadores estariam
presentes. Sento-me em uma modesta cadeira que cabe apenas um lado das nádegas.
Reparo os móveis antigos que decoram a saleta. Todos os presentes estavam
impecavelmente vestidos de Gucci,
podia-se ter a impressão de estarem eles em algum salão da AP, se não fossem as
amareladas manchas de sudoreses persistentes em algumas axilas. Pedi um
Espumante Jeroboam Chandon ao Mordomo
veiúdo (ui!), mas o mesmo disse que no momento só serviria caipirinhas de Jambu
e, na sobremesa: Maracujá com cannabis sativa. Para tentar me socializar,
converso com mães-de-santo, intelectuais Facebooktianos,
jornalistas, escritores cretinos, atrizes e alguns playboys de cunho “apartheid ideológicos”. Porém, aquilo
que parecia um pequeno e discreta reunião imperial em busca do ladrão do colar “BlitheSpirit”, transformou-se numa saga
surpreendente, devido à série de crimes hediondos desta cidade (uma das mais
perigosas do globo terrestre). Todavia, este é, sem dúvida, o mais enigmático caso
de roubo que Belleré já testemunhou.
Depois do Cannabis, da
Caipirinha de Jambu, avisto de longe a silhueta graciosa de minha querida
escritora. Ela, ao aproximar-se e notar minha presença, brada: “Nice to see you, my dear and beloved
researcher”. Retruquei em Francês: “Madame,
vous êtes encore incroyablement jeune”. Beijei lentamente sua augusta mão
direita. De súbito, Wilcox chama sua serviçal. Creio que seja para que eu colha
alguma pista. Mormente, porque os empregados são sempre os culpados. "– Chamou,
sinhá?" Espantado, admirei a pequena
figura parada à soleira da porta. A loira de farmácia, de uns vinte anos, devia
ter quase um metro de altura e o redingote estufado não conseguia esconder seus
pequenos músculos graciosos. Era très
beau. A escritora fez as
apresentações: “– Essa é minha criada. Ela ficará com minha fortuna.”
Súbito, escutou-se um
burburinho e todos os olhos se voltaram para a grande porta de vidro. Paul
Chaves acabara de chegar. Estava acompanhado por Saulo Sisnando. Ansioso eu
disse para o escritor: “–Saulo, não deixe de dar os parabéns para o seu acompanhante,
soube que ele é um dos maiores secretários de cultura que Paráparou já teve.” O
escritor mudou rapidamente de assunto: “– Preparei uma peça teatral” (o povo de
teatro adora vender ingressos nos momentos mais inoportunos). Segundo Saulo,
até Edyr Proença ficará extasiado.
Bruscamente, apagam-se
as luzes. Ouvem-se tiros (ninguém se importa, estão todos acostumados). O barulho
foi seguido por um grito de Saravá! Nando Silva acabara de incorporar. Exigiu
que comprassem suas revistas! Exigiu, em português de Portugal. Sua noiva ficou
estarrecida: “– É inacreditável! Nando nunca falou dessa forma!”. “– Não é ele,
é uma entidade”, explicou Wilcox. Nando bebeu, de um só trago a garrafa de catuaba
barata: “– Qué dizê que suncê qué sabê quem é o Ladrãozinho?” (mudando de
português de Portugal para Iorubá). Wilcox decifrou a algaravia: “– Exato. Precisamos
saber quem é o serial larápio do cordão”. Entidade-Nando deu uma risada Cretina:
“– Ra! Ra! Ra! Ra! Mas suncês conhecem o Ladrãozili! Ele está aqui nesta sala!”.
Todos olharam para... vocês sabem quem!
Subitamente ouve-se um
sonoro: “– PAREM”. Todos os olhares se voltaram para o portão: era Agatha
Christie. Saulo, emocionado, desmaia. Entidade-Nando faz cara de blasé. Edyr Proença num sonido quase
inaudível diz:” – Eu escrevo demasiadamente melhor”. Christie vai para o meio
da sala e picha no chão: “Congratulations
for the audacity! I love quality theater.”
Eu, como FANFICTION, não
dou spoiler. Porém, os parabenizo e
escrevo do meu jeito. E ainda insisto: “– Irmãs tranquem tudo a CHAVES, e
joguem as chaves fora! Quem precisa de “theater
of peace?”
E o ladrão? Ah, Como
não sei elaborar melhor que Sisnando. Está na cara quem larapiou o “BlitheSpirit”. TSC. TSC. TSC.
OBS:
A obra chegou a ser publicada, porém, infelizmente, o editor de “O Diário da
União Liberal” não teve coragem de distribuí-la às livrarias por receio de ser
processado.
17
de dezembro de 2017.
Ficha
Técnica:
Montagem
Teatral:
A
Outra Irmã
Teatro de Apartamento
Elenco:
Olinda
Charone, Zê Charone, Leonardo Moraes, Leoci Medeiros
Participações especiais:
Pauli
Banhos Sonia Alão e Flávio Ramos
Direção:
Saulo
A. Sisnando
Dramaturgia:
Saulo
A. Sisnando
Criação de Luz:
Patrícia
Gondim
Operação de luz:
Luiza
de Marillac
Cenário:
Patrícia
Gondim
Consultoria de Maquiagem:
Danielle
Cascaes
Consultoria de Figurinos:
Grazi
Ribeiro
Operação de Som:
Gisele
Guedes
Direção de fotografia (filmagens)
Alexandre
Baena
Edição de vídeos (Filmagens)
Saulo A. Sisnando
Assessoria de Imprensa:
Edyr
Augusto Proença
Produção:
Grupo
Cuíra e Teatro de Apartamento
Nenhum comentário:
Postar um comentário