quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Vamos á feira!

Espetáculo: O Auto da Feira.
Crítica produzida por Geane Oliveira, Graduanda em Licenciatura em Teatro / UFPA. 

O espetáculo o Auto da Feira encenado pelo Grupo de teatro da Unipop, tendo como dramaturgia uma adaptação da peça de Gil Vicente, traz ao palco uma feira onde não são vendidas coisas materiais e sim a troca de malfeitos por virtudes, mas esta feira é abalada pelo surgimento do Diabo, o qual tem como intenção vender “pecados”.  É neste contexto que a peça presenteia o espectador com um trabalho que em termos de visualidade não deixa a desejar.
Os personagens trazem no corpo registros que deixam clara personalidade de cada um, no entanto ao que se refere a encenação em alguns momentos é desinteressante, causando um certo desconforto no espectador que busca encontrar algo que lhe ajude a compreender as cenas. A comicidade é um forte traço do espetáculo, mas em muitos momentos a maneira como o texto é dado faz com que essa comicidade passe despercebida pelo espectador – não seria o caso de dar o texto de maneira lenta, e sim compreensiva. Outro fator que incomodava em cena era o excesso de personagens que não tinham ligação com a cena, sendo assim estes faziam apenas uma figuração a qual deixava o trabalho “sujo”.
Nas peças de Gil Vicente é evidente as criticas a sociedade, e é nesse contexto que noto este trabalho sendo pautado, existem cenas em que se fala das mazelas da sociedade como forma de denúncia, o personagem que tem esta função é o Diabo, esta denúncia vem através de proposta que o mesmo faz ao público, e mesmo havendo a relação de disputa entre céu e inferno é evidenciada a decadência da sociedade dentro do atual  contexto político do nosso país, principalmente ao que se refere as promessas realizadas nas propagandas políticas.
 É utilizado na cena como condutores de ideias bonecos (mamulengos), e atores com máscaras da commedia dell’arte, estas cenas constroem outra atmosfera ao trabalho, deixando através dos bonecos o texto de forma mais compreensível e permitindo um resgate do exagero que em cenas anteriores é disperso por uma falta de jogo. Além dos elementos já citados, a sonoplastia é composta de sons produzidos a partir de instrumentos de percussão e é uma forte condutora para o jogo entre os personagens.
O conjunto desde trabalho é encantador, no entanto seria interessante que houvesse mais provocações ao público, as criticas feitas poderiam ser mais exploradas, causando maiores reflexões a respeito do sistema que nos envolve e sobre tudo expondo o comodismo ao qual estamos abraçados, sendo assim havendo uma maior exploração das idéias fundadoras do espetáculo.    
Geane Oliveira
11.09.2014  


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