Bernard Freire: Ator e Graduando em Licenciatura em Teatro UFPA.
A sombra dança na tela
cujos movimentos desenham imagens. São corpos dilacerados por um foco de luz
que se esbarra no lençol. É a energia
antes de entrar em cena, é um silencio de imagem. É a expressão que brinca com
sons, é aquela ansiedade que só se acalma quando a luz apaga e o filme começa.
É a caixa preta high
tech, é a ''ROSA DOS VENTOS: Entre Miragens e Mirações''. Espetáculo
montado pela Trupe Perifeéricos que convida o público a entrar numa fábula de
magias e encantos. Se perdendo entre flores e poesias. Modificando a presença do
ator entre realidade e mídia. Substituindo o palco pela tela, onde a cenografia
apresenta o real-ficcional, um filme que está sendo gravado agora.
Dentro dessa caixa a
Trupe se desconfigura em atuação, desobedece à comunicação presencial, muda o
foco, te coloca em outros horizontes e te faz perder a vida de perto. Traz uma
dramaturgia marcada pelo vídeo que logo surge em cena onde o teatro vivo fica
suspenso e acaba sendo uma ilusão. A Rosa é esse deslocamento, não tem ponto
fixo, é perdida no vento. É uma miragem que coloca o público num sonho, mistura
o som com o olhar do caleidoscópio e brilha na explosão da informação, é
“multiplicação de signos no aparecimento de formas e no retorno do artifício
que se anuncia como tal”. (AMIARD-CH EVREL, 1990, p. 10)
O espetáculo começa
sendo rodado numa projeção onde o corpo do Dermond se distorce, mostra um
desentendimento de lugar, eleva o pensamento e se bagunça como o vento. Esse
desentendimento de lugar mostra uma reconstrução teatral, coloca um vídeo no
meio do palco e se sustenta em duas linhas que converge entre história e
espaço. Coloca o público no ar, voa, traz de volta para cena e abre para mundo.
Onde se dá o espetáculo? O que estou assistindo?
A presença de duas
linguagens tira um e põem outro, balança no real-ficcional, substitui o texto
teatral pela utilização de recursos audiovisuais como prática de dialogo. Mostra
uma bagunça de lugar e deixa o sentido das assombrações no silêncio do palco,
bem quieto e só se apresenta quando os atores estão em cena. Traz uma verdade
bem disfarçada que a projeção esconde na retina. Ali ela se expande e coloca o
teatro como reprodutor da fábula; mostra quem é soberano e faz tudo isso
funcionar colocando em evidencia sua influencia no nascimento da sétima arte.
Bernard
Freire
22.03.2015
Referência
Bibliográfica
AMIARD-CH EVREL,
Claudine.Frèresennemis ou fauxfrères? (théâtreetcinéma avant leparlant). In:
Théâtreetcinémaannéesvingt. Tome 1. Paris: L’âgeD’Homme, 1990, p. 10.
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