Performance: Pachiculimba.
Montagem: Usina
Montagem: Usina
Autoria da crítica: Afonso Gallindo,
jornalista, publicitário e documentarista; Participante do Minicurso de crítica
teatral “O que pode uma crítica teatral?”
Um
deslocamento para a fronteira.
Esta
foi a sensação nítida que percebi na mística não-encenação, e sim partilha, que
esta performance me proporcionou.
Desde
a chegada, é possível perceber o mergulho de Claudio Barros num universo
singularmente energético, como que imerso numa vibração. Mais nem de longe é
possível prever o que nos será ofertado. Para início de prosa, o espaço
utilizado é no mínimo fantástico. O chão batido ao céu aberto e a interação com
os elementos nativos do lugar, possibilita uma integração do ato e a natureza
que poucas vezes tive a felicidade de vivenciar.
Acompanho
o trajeto do Claudio Barros desde A Terra
é azul, que na época já me impressionou muito, mas o que tive a
oportunidade de assistir atesta seu amadurecimento e complexo trabalho corporal
apresentado.
Seu
corpo parece ter vida própria. Ora portando o peso da sabedoria do velho xamã,
ora conectado ao espaço e as sonoridades existentes.
Injusto
definir um ponto alto apenas na atuação. Mas, pretensiosamente, permito
destacar o momento da relação com os sons presentes no entorno e a resposta de
seu corpo. Nesse, particularmente, consegui visualizar uma tal “conexão” com a
terra. Muitos falam e escrevem sobre o assunto. Já tive inclusive a satisfação
de sentir isso. Mas, assistir isso no outro, fisicamente, confesso ter sido a
primeira vez.
Outro
momento que muito me chamou a atenção foi quando estabelecia relação com as
árvores do entorno da cena. As palavras pronunciadas, entendo oriundas de
línguas também brasileiras, carregavam da emoção o lugar no lamento e no corpo
dele e me remeteram a processos praticados ao retorno de guerreiros em algumas
etnias brasileiras, onde um membro do grupo é escolhido para expressar toda a
saudade e dor pelo longo distanciamento em busca da caça.
Com
o passar do tempo, o sol se esconde no horizonte e o cenário natural muda. E
também a área por nós visitada, onde fomos silenciosamente direcionados. Oculto
na copa de uma pequena árvore, parte viva da cena, uma voz densa narra o
momento da queda do céu. Me percebi, então estar cercado pela noite. Apenas uma
fogueira ilumina a cena, onde dessa vez somente a voz do ator se faz fortemente
presente. Pequenos pontos de luz, oriundos dos lampiões colocados por ele no momento
anterior, remetem a estrelas de um pequeno sistema, onde a chama da fogueira
parece reproduzir uma luz central. Neste momento ouve-se sobre um outro céu, de
um outro tempo, e por um instante consegui visualizar esta outra possibilidade,
que nascia da voz representante do xamã, forte e sábio, que nos indicava a
necessária reflexão sobre o chão e o céu que vivemos.
A
integração neste processo chega a um tal nível de cumplicidade, que torna-se
difícil identificar onde inicia o trabalho de direção ou encontra-se somente o
trabalho dos atores em cena.
Estas
poucas linhas infelizmente, bem sei, não terão o poder de transcrever a experiência
vivida por mim durante a performance. Digo vivida por se tratar de um processo
também sensorial e convida a visitar um lugar, o universo
cultural que também é nosso e que, infelizmente, fazemos questão de ignorar.
8 de outubro de 2017
Pachiculimba
Grupo
Usina
Local:
Praia do Paraíso – Ilha de
Mosqueiro
Com Claudio Barros e Claudio Melo
Direção:
Alberto Silva Neto
Sonoridades:
Cláudio Melo
Visualidades:
Claudio Rêgo de Miranda
Corporeidades:
Valéria Andrade
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