Os participantes da oficina de Produção Textual crítica em Teatro e Dança tiveram, pela primeira vez, oportunidade de registrar a recepção de um espetáculo na integra. O exercício ocorreu no último dia 09 de Junho no Teatro Universitário Claudio Barradas e contou com uma convidada muito especial: a atriz Marileia Aguiar e seu primoroso trabalho de atuação em A Mulher das Sete Saias. Abaixo vocês podem conferir algumas imagens deste trabalho e o registro textual dos participantes.
Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado.
Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado.
Registro da recepção do espetáculo por Silvia Luz.
Um
foco de luz por trás das cortinas. Seria o farol da Maria Fumaça?
Numa
ambientação nostálgica e efêmera surge uma senhora, esta que em determinados
momentos da apresentação parecia ora menina, ora adolescente, outrora mulher.
O
cenário nos enredara para os trilhos do trem Maria Fumaça, da Estrada de Ferro
de Bragança, no centro uma mala tecida com palha, um banco de madeira, uma
lamparina, uma caixinha com uma boneca de pano, um tarô e lá começara a viagem
desta senhora, que vestira sete saias, que vivera sete cartas do tarô. As saias
marcavam suas estações de vida, a cada troca de saia um acontecimento de sua
vida, esta sofrida e aparentemente vitoriosa. As saias traziam cores, branca,
vermelha, roxa, cinza, laranja, amarela... é notável que cada cor tem relação
direta com cada fase vivida pela personagem, tudo é tão confuso, pois é a
história de uma senhora, ou a própria história de vida da atuante?
O
que marcou a apresentação foi à naturalidade com que a atuante executou os
gestos, as ações, isso nos fez vê-la como se ela estivesse lá no tempo do apito
do trem ou no barulho da máquina de costura que ela usara em cena.
A
história se passou como o trilho do trem, um após o outro, enredado no processo
criativo, que segundo Cecília Salles é a própria obra de arte, é o gesto
inacabado, este revelado num tom suave de sua voz. Ela estende a mão e abre uma
grande ciranda, revelando que a vida é de todos nós.
Em
alguns momentos o texto saíra espontaneamente, vinha de dentro para fora, de
acordo com Grotowski (1991), trata-se do impulso, que faz a voz a própria
extensão do corpo.
O
abrir e fechar da mala foram repetidos por várias vezes, mas a forma minuciosa
com que a atuante amarrara o laço da mala, apesar de parecer repetido, era
única em cada repetição. Os objetos cênicos citados no terceiro parágrafo,
segundo Walter Benjamin, eram alegorias e não símbolos, pois tinham significado
ímpar para a atuante e que para o espectador poderia ter vários outros.
O
deslocamento da atuante em cena revelara uma partitura executada por ela, era
viva. Corroborando com Eugênio Barba pode-se dizer que essa vida era sustentada
pelo conceito de subpartitura, algo que o atuante acredita e que sustenta a
partitura. Que vi como se fosse à chama da vela, o bios cênico da atuante em
cena, a cena era viva.
Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado
Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado
Registro da recepção do espetáculo por Daniel Libonati
Em “A mulher de sete saias”, de Marileia Aguiar, podemos ver, através da
vida de uma senhora, a vida do próprio ser humano de modo geral, possuidor de
um destino só seu.
Cada fase da vida é representada em cartas de tarô e corroborada pelas
saias utilizadas durante o espetáculo. Na primeira fase, a infância, vemos a
inocência, cursiosidade e ansiedade pelo futuro. Algo marcante desta fase é a
canção Ciranda, cirandinha, que chama a plateia para vivenciar aquele
momento de “cirandinha”, ainda pequeno.
A segunda fase é a adolescência, quando aparecem os amores e perde-se a
inocência, representada pela saia transparente, retirada no momento da perda da
virgindade, deixando somente com uma saia vermelha sangue, ressaltando a
impureza do ato.
A terceira fase é a marcada pelo dever, a necessidade do sustento, vista
na saia alaranjada, pertencente não à senhora Marileia, mas à uma cliente.
A quarta fase é a das oportunidades que começam a surgir e, com elas, as
escolhas.
A quinta fase é caracterizada pela nova visão de mundo e a vontade de
transmitir conhecimentos, ensinar (como visto na interpretação da vida de
Sócrates).
A sexta fase é a fase da perda, da ausência, levando ao isolamento
pessoal, mas que, por fim, gera a saudade e vontade de retornar, que é a sétima
e última fase, um momento de paz consigo mesma.
A primeira e a última fases são representadas por saias brancas e,
respectivamente, pelas cartas Morte e Imperatriz. Disto podemos tirar que a
morte, representante do início da vida, é o que a impulsiona: o ser humano vive
em rasão de sua morte. Já a Imperatriz, representante da fase final, é a paz
consigo e autoentendimento, duramente alcançados.
O espetáculo encerra com a participação da plateia, numa ciranda, sendo
cantados os versos “Ciranda nossa”, ressaltando a condição em todos vivemos:
uma ciranda, um ciclo, marcado por acontecimentos e, principalmente, escolhas,
que nos formam e definem nesta caminhada diária, chamada vida, em que
simplesmente buscamos paz.
Registro da recepção do espetáculo por Bianca Duarte.
“A
mulher das sete saias” é um espetáculo que conta a historia de vida de uma
senhora de forma bem intimista. Inicia em uma leitura de cartas de tarô, a cada
virada de carta a senhora veste uma saia e a retira. As cores das saias são bem
marcantes e só corroboram aos sentimentos que vemos na encenação. A mala onde
estão guardadas as saias já não é só uma mala. A personagem a transforma
diversas vezes em elemento que compõe a cenografia. Quase podemos enxergar as
pessoas, lugares e o envelhecimento e amadurecimento
desta senhora. A mala tornou-se tempo. A passagem de tempo quase torna-se
palpável.
Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado.
Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado
Recepção do espetáculo por Bernard Freire
"Meu Jesus misericórdia... assim quando alguma coisa de mal
acontecia, essa era a frase que fazia tudo ficar bem". Com essas palavras
a atriz Marileia Aguiar nos traz a mulher das setes saias. Uma história
carregada de segredos, perdas, viagens, sonhos, dores, esperanças.
Contada a partir de setes cartas, Marileia costura o espetáculo
convidando o público a entrar em cena para sentir o jogo da vida. O jogo
teatral disparado da sua história pessoal. são momentos íntimos inseridos
o tempo presente de um passado esquecido do futuro.
Quando pequena, saiu de Belém para ir morar em Capanema. Sentia
uma felicidade enorme quando andava de trem costurando uma cidade da outra. Lá
sonhava alto, e logo tratou de estudar para vivenciar cada um. Encontrava no
estudo uma liberdade interior. Logo, estava novamente a cidade para voar
alto.
O estudo em
primeiro lugar rompia a presença da família e lhe dava o mundo nas palmas da
mãos.
Marileia coloca a energia e a mudança de estado no
jogo de sete saias que complementam o cenário de sua história. Quebrando a
quarta parede e puxando o publico entre palavras dirigidas no tirar das cartas.
Abrindo uma grande roda para compartilhar a sua mala de histórias com todos. E
o que era seu, agora é de todos nós.
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