segunda-feira, 30 de junho de 2014

3º Exercício do Projeto de Extensão - Recepção do espetáculo A Mulher das Sete Saias, de Marileia Aguiar.

Os participantes da oficina de Produção Textual crítica em Teatro e Dança tiveram, pela primeira vez, oportunidade de registrar a recepção de um espetáculo na integra. O exercício ocorreu no último dia 09 de Junho no Teatro Universitário Claudio Barradas e contou com uma convidada muito especial: a atriz Marileia Aguiar e seu primoroso trabalho de atuação em A Mulher das Sete Saias. Abaixo vocês podem conferir algumas imagens deste trabalho e o registro textual dos participantes. 

  Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado.

Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado.


Registro da recepção do espetáculo por Silvia Luz. 

Um foco de luz por trás das cortinas. Seria o farol da Maria Fumaça?
Numa ambientação nostálgica e efêmera surge uma senhora, esta que em determinados momentos da apresentação parecia ora menina, ora adolescente, outrora mulher.
O cenário nos enredara para os trilhos do trem Maria Fumaça, da Estrada de Ferro de Bragança, no centro uma mala tecida com palha, um banco de madeira, uma lamparina, uma caixinha com uma boneca de pano, um tarô e lá começara a viagem desta senhora, que vestira sete saias, que vivera sete cartas do tarô. As saias marcavam suas estações de vida, a cada troca de saia um acontecimento de sua vida, esta sofrida e aparentemente vitoriosa. As saias traziam cores, branca, vermelha, roxa, cinza, laranja, amarela... é notável que cada cor tem relação direta com cada fase vivida pela personagem, tudo é tão confuso, pois é a história de uma senhora, ou a própria história de vida da atuante?
O que marcou a apresentação foi à naturalidade com que a atuante executou os gestos, as ações, isso nos fez vê-la como se ela estivesse lá no tempo do apito do trem ou no barulho da máquina de costura que ela usara em cena.
A história se passou como o trilho do trem, um após o outro, enredado no processo criativo, que segundo Cecília Salles é a própria obra de arte, é o gesto inacabado, este revelado num tom suave de sua voz. Ela estende a mão e abre uma grande ciranda, revelando que a vida é de todos nós.
Em alguns momentos o texto saíra espontaneamente, vinha de dentro para fora, de acordo com Grotowski (1991), trata-se do impulso, que faz a voz a própria extensão do corpo.
O abrir e fechar da mala foram repetidos por várias vezes, mas a forma minuciosa com que a atuante amarrara o laço da mala, apesar de parecer repetido, era única em cada repetição. Os objetos cênicos citados no terceiro parágrafo, segundo Walter Benjamin, eram alegorias e não símbolos, pois tinham significado ímpar para a atuante e que para o espectador poderia ter vários outros.
O deslocamento da atuante em cena revelara uma partitura executada por ela, era viva. Corroborando com Eugênio Barba pode-se dizer que essa vida era sustentada pelo conceito de subpartitura, algo que o atuante acredita e que sustenta a partitura. Que vi como se fosse à chama da vela, o bios cênico da atuante em cena, a cena era viva.

Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado

Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado

Registro da recepção do espetáculo por Daniel Libonati 
Em “A mulher de sete saias”, de Marileia Aguiar, podemos ver, através da vida de uma senhora, a vida do próprio ser humano de modo geral, possuidor de um destino só seu.
Cada fase da vida é representada em cartas de tarô e corroborada pelas saias utilizadas durante o espetáculo. Na primeira fase, a infância, vemos a inocência, cursiosidade e ansiedade pelo futuro. Algo marcante desta fase é a canção Ciranda, cirandinha, que chama a plateia para vivenciar aquele momento de “cirandinha”, ainda pequeno.
A segunda fase é a adolescência, quando aparecem os amores e perde-se a inocência, representada pela saia transparente, retirada no momento da perda da virgindade, deixando somente com uma saia vermelha sangue, ressaltando a impureza do ato.
A terceira fase é a marcada pelo dever, a necessidade do sustento, vista na saia alaranjada, pertencente não à senhora Marileia, mas à uma cliente.
A quarta fase é a das oportunidades que começam a surgir e, com elas, as escolhas.
A quinta fase é caracterizada pela nova visão de mundo e a vontade de transmitir conhecimentos, ensinar (como visto na interpretação da vida de Sócrates).
A sexta fase é a fase da perda, da ausência, levando ao isolamento pessoal, mas que, por fim, gera a saudade e vontade de retornar, que é a sétima e última fase, um momento de paz consigo mesma.
A primeira e a última fases são representadas por saias brancas e, respectivamente, pelas cartas Morte e Imperatriz. Disto podemos tirar que a morte, representante do início da vida, é o que a impulsiona: o ser humano vive em rasão de sua morte. Já a Imperatriz, representante da fase final, é a paz consigo e autoentendimento, duramente alcançados.
O espetáculo encerra com a participação da plateia, numa ciranda, sendo cantados os versos “Ciranda nossa”, ressaltando a condição em todos vivemos: uma ciranda, um ciclo, marcado por acontecimentos e, principalmente, escolhas, que nos formam e definem nesta caminhada diária, chamada vida, em que simplesmente buscamos paz.

Registro da recepção do espetáculo por Bianca Duarte.

“A mulher das sete saias” é um espetáculo que conta a historia de vida de uma senhora de forma bem intimista. Inicia em uma leitura de cartas de tarô, a cada virada de carta a senhora veste uma saia e a retira. As cores das saias são bem marcantes e só corroboram aos sentimentos que vemos na encenação. A mala onde estão guardadas as saias já não é só uma mala. A personagem a transforma diversas vezes em elemento que compõe a cenografia. Quase podemos enxergar as pessoas, lugares e o envelhecimento e amadurecimento desta senhora. A mala tornou-se tempo. A passagem de tempo quase torna-se palpável.

Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado.

Marileia Aguiar em cena de A Mulher das Sete Saias. Foto: Simone Machado

Recepção do espetáculo por Bernard Freire

"Meu Jesus misericórdia... assim quando alguma coisa de mal acontecia, essa era a frase que fazia tudo ficar bem". Com essas palavras a atriz Marileia Aguiar nos traz a mulher das setes saias. Uma história carregada de segredos, perdas, viagens, sonhos, dores, esperanças.
Contada a partir de setes cartas, Marileia costura o espetáculo convidando o público a entrar em cena para sentir o jogo da vida. O jogo teatral disparado da sua história pessoal. são momentos íntimos inseridos  o tempo presente de um passado esquecido do futuro. 
Quando pequena, saiu de Belém para ir morar em Capanema. Sentia uma felicidade enorme quando andava de trem costurando uma cidade da outra. Lá sonhava alto, e logo tratou de estudar para vivenciar cada um. Encontrava no estudo uma liberdade interior. Logo, estava novamente a cidade para voar alto. 
O estudo em primeiro lugar rompia a presença da família e lhe dava o mundo nas palmas da mãos.
Marileia coloca a energia e a mudança de estado no jogo de sete saias que complementam o cenário de sua história. Quebrando a quarta parede e puxando o publico entre palavras dirigidas no tirar das cartas. Abrindo uma grande roda para compartilhar a sua mala de histórias com todos. E o que era seu, agora é de todos nós.

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