quarta-feira, 1 de julho de 2015

Anarquia da arte.

Louise Bogéa: Servidora pública federal do Museu da UFPA.

A relação entre comédia e política marcou o espetáculo “No trono” do grupo “Os Varisteiros”, por meio da apresentação de um regime monárquico corrupto, representado por um rei carrasco do povo, sendo que o conflito da peça fora construído a partir de uma premente revolução contra o atual sistema. Desta forma, incluíram-se, durante o humor, grandes nomes políticos, e o público presente, por sua vez, atuou no enredo como o povo – fato responsável por até estender o cenário para além do palco.
Pretendeu-se, assim, realizar uma crítica sociopolítica e cultural, com ênfase em relação à gestão dos gastos públicos, por meio de uma boa atuação das personagens e de uma iluminação e sonoplastia de qualidade – esta comandada pelo “Juscelino Kubitschek”.
Ao final do espetáculo, comentou-se sobre as dificuldades enfrentadas pelos artistas em Belém – percebeu-se que o local da peça não pareceu adequado à arte teatral.
Há a necessidade de portas abertas – e baratas, de preferência –, os artistas, aos montes, instalam-se em qualquer lugar com tais características. Este ciclo, somado ao descaso do governo referente à profissão artística, resulta em uma desvalorização de si próprios enquanto profissionais; há, ainda, a pequena participação do público em geral – base de sustentação dos artistas –, estando a aceitação da arte enquanto cultura ainda longe de ser alcançada entre nós.
Ressalta-se que a falha de comunicação via artista-público e vice-versa causa o marasmo atual. E o marasmo político fora bem representado pelos detentores do poder na peça, porém, a causa do marasmo artístico vem do público e dos artistas. Foi como a nossa própria situação no espetáculo: participamos sentados. Mas seria possível uma reinvindicação artística? Quem a interessaria? No enredo proposto termina com a vitória do rei perante os democráticos.
A meu ver, o teatro não deixa de ser um meio de comunicação com um perfil conscientizador e civilizador – não diferente da própria crítica –, funções estas, essenciais, mas, frequentemente, substituídas por um humor não muito inteligente. E, durante o espetáculo foi, infortunadamente, o que aconteceu – talvez pela adaptação da obra original “O Palácio dos Urubus”, de Ricardo Meireles. Apesar de relacionar com a nossa realidade, o enredo da peça ainda retrata uma sociedade estranha, alheia, portanto, à nossa, fugindo da vida social local. Vale mencionar que o figurino das personagens interpretadas deixou a desejar.
Portanto, eu leiga, mas uma pessoa encantada pela arte faço um apelo para que, os com formação artística, revejam os resultados esperados por suas obras, que trabalhem em prol da transmissão de verdades e da construção de um futuro próspero à área. Fazer o público rir é bom, mas, quando é demais, não passa seriedade e vira uma brincadeira. Pois, estará, a dramaturgia, fadada à mediocridade de um humor deselegante?
 Pergunto-me onde estão os julgadores de uma arte inteligente e a censura das que sejam vazias e desvalorizadoras.                                                                                                         01.07.2015

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