Louise Bogéa: Servidora pública federal do Museu da UFPA.
A relação entre comédia e política marcou o espetáculo “No trono” do
grupo “Os Varisteiros”, por meio da apresentação de um regime monárquico
corrupto, representado por um rei carrasco do povo, sendo que o conflito da
peça fora construído a partir de uma premente revolução contra o atual sistema.
Desta forma, incluíram-se, durante o humor, grandes nomes políticos, e o
público presente, por sua vez, atuou no
enredo como o povo – fato responsável por até estender o cenário para além do
palco.
Pretendeu-se, assim, realizar uma crítica sociopolítica e cultural, com
ênfase em relação à gestão dos gastos públicos, por meio de uma boa atuação das
personagens e de uma iluminação e sonoplastia de qualidade – esta comandada
pelo “Juscelino Kubitschek”.
Ao final do espetáculo, comentou-se sobre as dificuldades enfrentadas
pelos artistas em Belém – percebeu-se que o local da peça não pareceu adequado
à arte teatral.
Há a necessidade de portas abertas – e baratas, de preferência –, os
artistas, aos montes, instalam-se em qualquer lugar com tais características. Este
ciclo, somado ao descaso do governo referente à profissão artística, resulta em
uma desvalorização de si próprios enquanto profissionais; há, ainda, a pequena
participação do público em geral – base de sustentação dos artistas –, estando a
aceitação da arte enquanto cultura ainda longe de ser alcançada entre nós.
Ressalta-se que a falha de comunicação via artista-público e vice-versa
causa o marasmo atual. E o marasmo político fora bem representado pelos
detentores do poder na peça, porém, a causa do marasmo artístico vem do público
e dos artistas. Foi como a nossa própria situação no espetáculo: participamos
sentados. Mas seria possível uma reinvindicação artística? Quem a interessaria?
No enredo proposto termina com a vitória do rei perante os democráticos.
A meu ver, o teatro não deixa de ser um meio de comunicação com um
perfil conscientizador e civilizador – não diferente da própria crítica –, funções
estas, essenciais, mas, frequentemente, substituídas por um humor não muito
inteligente. E, durante o espetáculo foi, infortunadamente, o que aconteceu –
talvez pela adaptação da obra original “O Palácio dos Urubus”, de Ricardo
Meireles. Apesar de relacionar com a nossa realidade, o enredo da peça ainda
retrata uma sociedade estranha, alheia, portanto, à nossa, fugindo da vida
social local. Vale mencionar que o figurino das
personagens interpretadas deixou a desejar.
Portanto, eu leiga, mas uma pessoa encantada pela arte faço um apelo
para que, os com formação artística, revejam os resultados esperados por suas
obras, que trabalhem em prol da transmissão de verdades e da construção de um
futuro próspero à área. Fazer o público rir é bom, mas, quando é demais, não
passa seriedade e vira uma brincadeira. Pois, estará, a dramaturgia, fadada à
mediocridade de um humor deselegante?
Pergunto-me onde estão os
julgadores de uma arte inteligente e a censura das que sejam vazias e
desvalorizadoras. 01.07.2015
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