quinta-feira, 28 de setembro de 2017

PopPORN! OLHAR ATOR / PLATEIA – por Rony Hofstatter



Seção “Palavra do Artista”

Montagem teatral: PopPorn – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos.

Montagem: Teatro de Apartamento.

Autor da crítica: Rony Hofstatter, ator na montagem PopPORN.



PopPORN! Como participante deste espetáculo desde a primeira montagem sempre sentia um constante incômodo com a personagem que interpreto – Alexandre Richthofen. Eu não conseguia entender que incômodo era esse. Então, resolvi pensar além do viés de ator e parti para o viés da plateia. Como esse espetáculo me modificou quanto ator? E como plateia?

Será que eu, ator, tive a mesma vivência da plateia?

Não sei dizer.

O que posso dizer é que penso em PopPORN como um espetáculo que movimenta, desperta, incomoda algo e tange sentimentos e preconceitos que nem nós mesmos – às vezes – temos consciência.

Como ator, posso dizer que – quando eu estava na coxia, “ouvindo” os colegas em cena e esperando minha deixa – me sentia apreensivo e incomodado.

E esse incômodo... Bem, eu não conseguia discernir bem do que era, nem O QUE me incomodava.

Na coxia, eu conseguia sentir a crescente do espetáculo e, ao final de cada cena, vinha aquela torcida pelo colega: a plateia vai aplaudir? E muitas das vezes aplaudiram.

Então, vinha a minha vez. Plateia afoita, energia lá em cima e, na segunda fala, risos! Daí, eu pensava “Ufa! Hoje vai rolar”. Mas o que se seguia durante a cena eram risos velados, algumas cabeças baixas e aquele olhar que me encarava de uma forma que eu não entendia.

Terminava a cena: silêncio sepulcral!

Aquilo me incomodava muito e me levava a dois questionamentos: será que não fiz direito? Será que era a minha vaidade de ator – aquela que todos nós temos, afinal eu queria que a plateia risse bastante no meu texto também – que me causava esse incômodo?

A resposta veio quando, no penúltimo dia, lancei esse questionamento a alguns colegas e a resposta foi unânime: O silêncio sepulcral era a reação certa a ser esperada da plateia.

Entendi, então, a complexidade de PopPORN. O espetáculo tem de ser incômodo tanto para quem assiste quanto para nós, os atores. Na verdade, ele exige isso, pois abordamos sentimentos que são tolerados em sociedade, mas não falados.

A homossexualidade, o machismo, a intolerância e a violência, por exemplo, são retratados de forma cotidiana... Crua. E isso incomoda! Aflige tanto o espectador, quanto o ator.

Esta era a razão dos sorrisos apenas velados, das gargalhadas nos outros personagens e também do silêncio.

Em PopPORN, rimos de nós mesmos, achando que estamos debochando do outro e quando percebemos que nós somos a própria piada... Calamos!

PopPORN serve para incomodar e, quem sabe, não nos calar nunca mais.



Ficha Técnica

POPPORN – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos

Elenco:

Eliane Flexa , Erllon Viegas, Gisele Guedes, Leonardo Moraes,

Rony Hofstatter, Sandra Perlim, Saulo Sisnando

Participação especial:

Drag Queen Tifanny  Boo e o Bailarino Mauro Santos

Iluminação:

Sônia Lopes

Sonoplastia:

Breno Monteiro

Supervisão de Figurinos:

Grazi Ribeiro

Direção:

Saulo Sisnando

Nenhum comentário:

Postar um comentário