Seção “Palavra do Artista”
Montagem
teatral: PopPorn – Sete vidas e infinitas possibilidades de
corações partidos.
Montagem:
Teatro
de Apartamento.
Autor
da crítica: Rony Hofstatter, ator na montagem
PopPORN.
PopPORN!
Como participante deste espetáculo desde a primeira montagem sempre sentia um
constante incômodo com a personagem que interpreto – Alexandre Richthofen. Eu
não conseguia entender que incômodo era esse. Então, resolvi pensar além do
viés de ator e parti para o viés da plateia. Como esse espetáculo me modificou
quanto ator? E como plateia?
Será que eu, ator, tive
a mesma vivência da plateia?
Não sei dizer.
O que posso dizer é que
penso em PopPORN como um espetáculo que movimenta, desperta, incomoda algo e
tange sentimentos e preconceitos que nem nós mesmos – às vezes – temos
consciência.
Como ator, posso dizer
que – quando eu estava na coxia, “ouvindo” os colegas em cena e esperando minha
deixa – me sentia apreensivo e incomodado.
E esse incômodo... Bem,
eu não conseguia discernir bem do que era, nem O QUE me incomodava.
Na coxia, eu conseguia
sentir a crescente do espetáculo e, ao final de cada cena, vinha aquela torcida
pelo colega: a plateia vai aplaudir? E muitas das vezes aplaudiram.
Então, vinha a minha
vez. Plateia afoita, energia lá em cima e, na segunda fala, risos! Daí, eu
pensava “Ufa! Hoje vai rolar”. Mas o que se seguia durante a cena eram risos
velados, algumas cabeças baixas e aquele olhar que me encarava de uma forma que
eu não entendia.
Terminava a cena:
silêncio sepulcral!
Aquilo me incomodava
muito e me levava a dois questionamentos: será que não fiz direito? Será que
era a minha vaidade de ator – aquela que todos nós temos, afinal eu queria que
a plateia risse bastante no meu texto também – que me causava esse incômodo?
A resposta veio quando,
no penúltimo dia, lancei esse questionamento a alguns colegas e a resposta foi
unânime: O silêncio sepulcral era a reação certa a ser esperada da plateia.
Entendi, então, a
complexidade de PopPORN. O espetáculo tem de ser incômodo tanto para quem
assiste quanto para nós, os atores. Na verdade, ele exige isso, pois abordamos
sentimentos que são tolerados em sociedade, mas não falados.
A homossexualidade, o
machismo, a intolerância e a violência, por exemplo, são retratados de forma
cotidiana... Crua. E isso incomoda! Aflige tanto o espectador, quanto o ator.
Esta era a razão dos
sorrisos apenas velados, das gargalhadas nos outros personagens e também do
silêncio.
Em PopPORN, rimos de
nós mesmos, achando que estamos debochando do outro e quando percebemos que nós
somos a própria piada... Calamos!
PopPORN serve para
incomodar e, quem sabe, não nos calar nunca mais.
Ficha
Técnica
POPPORN – Sete vidas e infinitas
possibilidades de corações partidos
Elenco:
Eliane Flexa , Erllon Viegas,
Gisele Guedes, Leonardo Moraes,
Rony Hofstatter, Sandra Perlim,
Saulo Sisnando
Participação
especial:
Drag Queen Tifanny Boo e o
Bailarino Mauro Santos
Iluminação:
Sônia Lopes
Sonoplastia:
Breno Monteiro
Supervisão
de Figurinos:
Grazi Ribeiro
Direção:
Saulo Sisnando
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