Detalhe da apresentação de Saudade do Sonho, de Marileia Aguiar |
Um túnel de chita. Um
túnel de poesia conduzindo os olhares para a imensidão dos sonhos. A guardiã do
túnel, Marileia Aguiar, com sua simpatia singular foi a grande responsável pela
viagem inicial proposta aos participantes do curso de extensão de Crítica em Teatro e Dança que iniciou
no último dia 23 de Março. Os olhares atentos e curiosos dos participantes
foram desafiados a atravessar o túnel e compartilhar, com os leitores deste
blog, suas impressões da obra Saudade do
Sonho, da artista convidada. O que
segue abaixo é o primeiro exercício do curso onde são registrados textualmente a
recepção da obra na visão de cada fruidor.
Recepção
de Andrey Gomes
Quando
não se sabe o que se viu, e o que se vê
Dizem que o ato de
criar é uma atribuição divina, e se for verdade, compartilho o espanto desta
experiência através de suas provocações.
Como diferenciar o
concreto do abstrato, o vivido, do sonhado? Se de fato o artista cria, ele pode
desafiar a razão e quem sabe mudar as leis da física, se ela existir em sua
realidade.
O que se vê: o véu sob
a caixa guarda um segredo, mistério oculto dos transeuntes que nem o tempo e a
chuva podem atingir; mas a caixa tem uma guardiã, disposta a rasgar o véu.
O desafio: quem ousa
arriscar-se? Voluntários... ou escolhidos? Entre a desconfiança e o medo, a
inocência, uma criança se arrisca e deslumbra o que vê. Inocência contagiante;
tomo coragem.
Rasgou-se o véu – uma imagem, algo perdido
nos confins da memória ou reflexo de minha mente? Nessa imagem alguém lê, luta
contra o sono, penumbra e luz em conflito, lamparina acesa.
O que se vê atravessa os
primórdios do saber, pois é imagem animada, madeira ganhando vida através de
mãos humanas, o segredo de qualquer arte.
Fecha-se o véu – o sono vence, e com um sopro
(o mesmo que dá vida) a lamparina se apaga. Perplexo olho ao redor e recebo a
folha em branco, devo relatar.
Quando se repetirá?
Recepção
de Cleide Sousa Fernandes
Numa primeira
instância, o contato com a presente obra suscita imensa curiosidade ao
espectador, observando os meios que se utilizam para transmitir tal
apresentação… E, mesmo atendendo a falta de domínio textual (filantrópico), neste
vasto universo da dramaturgia, atrevo-me a expressar um ‘olhar fixo e
penetrante’ a essa performance de Mariléia Aguiar, observando as dificuldades
que se podem atravessar, na busca pelo conhecimento; a necessidade que o indivíduo
apresenta de saciar sua ‘sede de informação’, e com muita dedicação, esforço e
abnegação, abre mão de determinadas necessidades básicas e inerentes a
manutenção de seu próprio organismo, para então se entregar a essa incessante
busca, visto que o avanço da ciência e da técnica tem marchado intimamente na
carência do tempo, e no âmbito da arte, a expectativa vai aumentando cada vez
mais e mais, numa perspectiva de se aprimorar o “senso crítico”, dando asas a
imaginação e enriquecendo de maneira inovadora esse vasto universo.
Nessa incessante,
paciente e laboriosa busca, o indivíduo se torna até mesmo capaz de “ignorar”
suas próprias necessidades fisiológicas, pela satisfação de sua ‘carência’ e “valoração
do seu ser”; uma delas ressaltada nessa obra, durante um período em que as
imagens, sons, e até mesmo as vivências do quotidiano se propagam na memória, as
idéias se tornam mais fluentes, as informações se ‘compactam’ e dão asas a
imaginação, resultando num aumento da capacidade de produção do indivíduo e, na
maioria das vezes, levando-o a uma sensação agradável, prazerosa e bastante
estimada por muitos, o ‘sonho’, sonho de atingir ou até mesmo ambicionar uma
fase da vida que todos anseiam, a “realização pessoal”.
E para finalizar, numa
análise mais minusciosa, partindo de um contexto psicológico, ao observar a referida
performance, a visão do indivíduo expectante também pode tomar uma direção mais
pertinente, mergulhando na realidade que é a dimensão do pensamento, a
complexidade das emoções, desejos e convicções; existe a liberdade de se
cogitar a possibilidade da descrição de um momento em que o indivíduo passa por
dificuldades de conseguir obter um ‘sono de qualidade’, que o possibilite então
alcançar a fase de propagação do sonho, devido a algum processo psicopatológico
ou algum provável ‘abalo emocional’, daí o título da obra “Saudade do sonho”.
Já numa perspectiva mais filosófica, remete a ousar em ressaltar que o
indivíduo enquanto responsável pelo seu próprio emponderamento, na busca pela
informação, pode evoluir à uma ‘inquietude ambiciosa’, preocupado em alcançar
aquilo que o deixa mais emotivo, o impulsiona a se inserir melhor no seu
contexto social, enquanto um “ser pensante” e, pelo e que o leva à um estado
e/ou sensação de realização pessoal.
Recepção
de Danielle Francy
Antes de entrar em
contato com a obra, ela provoca grande curiosidade. O fato de ser mostrada
individualmente gera grande expectativa em quem espera, foi que gerou em mim.
Ao estar diante da cena
do garoto lendo seu livro à luz do que me pareceu uma vela ou lamparina, vi um
momento tão importante – a leitura – sendo representado de forma tão delicada e
única.
O momento final do
apagar da lamparina com o sopro da atriz dá a sensação do fim de um sonho, que
na verdade não é o fim, mas sim o começo se pensarmos nas grandes
possibilidades de sonhos que a leitura pode nos proporcionar.
Recepção
de Darciana Martins
Vestida de poeta,
Mariléia sempre agradável, conversa informal, uma expressiva maturidade. Em mim
despertou a curiosidade de caixa umbilical, onde a interprete carrega com
gosto.
Sempre espero por uma
singela semelhança quando vejo um trabalho assim, porque sempre contam histórias
no qual me identifico... Entrar no sonho de alguém é compartilhar um pouco do
outro.
Ao ver aquela velha
moça no sereno de sua lanterna, paginando seus sonhos... Vi-me de alguma forma
ali... Um trabalho delicado, singular, preciso, me remete a muitas coisas, um
olhar multifacetado e difícil de contornar, de fazer.
Remete-me ao trabalho
árduo dos artistas de rua, minuciosos, dedicados, pessoas apaixonadas pelo que
fazem... Vejo-me mais uma vez... É uma doação ao outro, sem pedir nada em
troca... Só a sua entrega.
Quando um artista se
dedica ao prazer da doação a arte, ele se entrega ao outro... Mais uma vez me
vejo em uma caixa de pandora, onde as lembranças e o amor á arte se faz
presente...
Blá a maturidade da
arte...
Recepção
de Emanuella Souza
Medo! Curiosidade!
Surpresa... Foram estes os sentimentos da minha recepção de “Saudade do sonho”.
O medo do que encontraria dentro de uma caixa tão bonita e misteriosa, segura
pelas mãos de uma doce e simpática senhora, no entanto, este sentimento não
durou muito, logo foi substituído pela coragem da curiosidade. O que tem lá dentro? Ah! Não foi nada do que
pensei! Foram tantos pensamentos, tantas ideias que no final a surpresa tomou
conta de mim.
Que fantástico! Foi o
meu pensamento, uma história simples, envolta em mistério, mas cheia de
sentimentos, uma experiência única.
Recepção
de Geane Oliveira
Caixa
das lembranças
A poesia de um garoto
ou quem sabe sua historia de ninar é visitada nas páginas de um livro. A imaginação
o leva ao passado talvez, mas nem todas as lembranças lhe permitem vencer o
pesado sono. A vela que se apaga seria o término do livro ou da luz da vida.
Sou transportada a
minha remota infância, as mãos que manipulam o boneco são de minha avó, ouço
suas palavras ainda que fora do mundo pequeno da caixa haja apenas o barulho da
chuva. O dedo na cabeça do boneco são cafunés dos quais tenho saudades. Velavelavela,
na verdade uma lamparina e o cheiro de querosene vêm acompanhado de um sobro e
da frase: Já é hora de dormir para poder
sonhar!
Recepção
de Louise Bógea
Estávamos todos na
sala, quando o professor Edson, ao perceber certa vontade de ação dos seus
alunos, encaminhou todos para fora do recinto. Lá, começamos a presenciar a
performance artística da Mariléia. De um pouco entediados, os participantes se
tornaram atentos novamente. Confesso que aquela caixa colorida, os movimentos
das mãos da artista pelas laterais do objeto e o seu olhar sob a fresta estavam
realmente me deixando curiosa. E não posso esquecer daquele seu pequeno assopro,
ao final de cada performance, após quase três minutos de expectativa. Eu achava
que não poderia ficar ainda mais curiosa: engano meu. E, de bônus, ainda me
senti medrosa. Um garotinho, ao furar a nossa pequena fila, encorajou-me a
sentar naquela cadeira e a cobrir a minha cabeça com o pano colorido, para
observar o que, enfim, havia dentro da caixa misteriosa. Ele, sorrindo, enfiou
o rosto ali, para depois sair entusiasmado e saltitante, preenchendo-me de
curiosidade. Forcei-me a decidir que chegara a minha vez e sentei na cadeira.
Para a minha surpresa, sorri também. Ao ver aquele pequeno boneco lendo, sob a
luz de uma pequena lamparina, senti-me saudosa. Não sei dizer o porquê, mas
lembranças me invadiram, e, com elas, a solidão. Comecei a sonhar com aquela
cena que me fora apresentada, mesmo com mais de vinte pessoas lá fora. A minha
atenção havia sido quase que magicamente roubada, e já não queria acordar. Em certo
momento, porém, junto ao silêncio que se formou, os dedos, ao passarem as
páginas do livrinho – ou talvez a expressividade do boneco? –, tornaram aquele
ambiente um tanto macabro. Detectei um pouco de sinistro naquilo tudo, em meio
à calmaria de antes. Enquanto o pesadelo se instalava e interagia com a minha
alma, a luz se apagou, retirando-me dali. Neste instante, entendi o sorriso no
rosto dos outros participantes, ao término da experiência: eles também estavam
com medo que nem eu. Em uma última análise, e com saudade do sonho, digo que
Mariléia conseguiu arrancar sorrisos dos críticos sérios.
Recepção
de Ludimilla Cunha
Num momento, o
desconhecido que a escuridão abraça. É novo e oculto inicialmente, porém,
quando a cortina se levanta, os olhos se abrem e a escuridão dá lugar à luz de
lamparina, percebo como cada canto se parece um tanto com os da minha casa.
Como se cada centímetro ganhasse ar de gigantesco nesse tempo que é largo e
também escasso, como o tempo dentro de uma caixa de sonhos que tenho por hábito
chamar de vida.
Recepção
de Malu Rabelo
A obra "saudade do
sonho" da atriz Mariléa Aguiar veio á calhar com o primeiro dia de aula do
curso. Aquela caixa conduzida por ela combina com a curiosidade e timidez do
primeiro encontro.
Mas o que faz essa
mulher parada ali na sacada? Com uma caixa pendurada ao pescoço? Usa uma roupa
listrada que me fez lembrar dos judeus, um sorriso amigável e convidativo.
O silêncio impera a
cena, todos que iam até a caixa, saiam de lá com uma expressão mansa e um leve
sorrio, esticavam o corpo pareciam querer alcançar algo? Bem, chegou a minha
vez, entrei naquele túnel de chita sem criar expectativas, sem esperar nada,
queria vê se ia ter que me esticar também ou se ia sair com aquele leve
sorriso.
Quando entrei ali, vi
um menino, tava sem roupa ao contrário da mulher, ele esfolheava um livro
compenetrado, com apreço e atenção que incomodava a ponto de querer vê,
enxergar o que tinha ali. Foi ai que percebi a luz que iluminava a cena, ela me
conduzia a isso, a querer ver. Vinha de cima da mesa, tinha uma espécie de luz arcaica,
uma lamparina (que na verdade, era um led, provavelmente funcionando através de
uma bateria de uns 9v) não deu para não me voltar para a luz e pensar como
tinha feito aquela gambiarra. A luz criava a temperatura do ambiente me
permitindo entrar naquele sonho. Quando comecei a pensar demais, ela veio e
fuuu! Apagou minhas instigações num sopro, acabou o folhear do livro o menino
cansado, adormeceu e eu acordei de um sonho fantástico que aquela mulher me
proporcionou.
Recepção
de Paula Barros
O
ALIMENTO
A curiosidade provoca
sensações. E a primeira que me foi desperta, foi a expectativa do que esperar,
em seguida a ansiedade de querer descobrir o que se passava dentro daquela
pequena caixa, a partir daí, mesmo ansiosa por querer ir logo, me permitir
esperar. Então comecei tentando perceber as reações dos olhares que saiam depois
de observar a pequenina caixa, e a curiosidade aumentou a medida que as pessoas
começaram a esboçar risinhos de cumplicidade com a atriz; alguns demoravam
mais, outros menos, mas os risinhos permaneciam, e a atriz sempre atenta ao
trabalho, que ao fim terminava com um sopro para dentro da caixa; e quando sem
mais poder esperar, fiz com que chegasse minha vez, e na escuridão se acendeu
uma pequena luz, uma luz de vela, era algo tão simples, um menino sentado numa
sala com um livro e a atriz o “alimentava”; com as mãos ela fazia com que
vagarosamente pudesse absolver aquela “sopa de letrinhas” e ao fim ela
desligava a vela com um sopro. Assim, me foi desperta outras mais sensações o
primeiro o esquecimento do mundo fora daquela agora sala, o segundo procurar saber
o que estava escrito naquele livro, mas o momento era tão belo que mais uma vez
me permitir, dessa vez de outro modo, através do menino e sua leitura eu vaguei
no imaginário e no mundo que agora eu podia visitar e me alimentar o do sonho.
Recepção
de Silvia Teixeira
Como fiquei com vontade de
roubar as palavras ou as frases daquele livro... Mas da janela não daria.
O que será que aquela garota
tanto lia? Estiquei-me para um lado e para o outro, mas não consegui ler
nenhuma letrinha. Nem ao menos saber se a obra era em português. Mas que
garotinha egoísta! Nem percebeu que havia uma pessoa que queria ler. Será que
estou sendo egoísta também? Pois ela estava tão concentrada, talvez nem estaria
ali; quem sabe em uma praia, ou até mesmo passeando nos lindos barcos de
Veneza; sonhando com qualquer outro lugar, menos em um quarto com uma lamparina
acesa.
Como gostaria de estar no
lugar dela, exatamente onde a menina estava... Era tão aconchegante, tão
silencioso; com gosto de cidade do interior, de um tempo em que não havia
eletricidade.
A sensação de curiosidade que
tive ou de até mesmo roubar o livro da jovem é a mesma que tenho quando alguém
chega próximo de mim com um livro ou jornal. Sempre corro com os olhos entre as
linhas para descobrir o que a pessoa está lendo, e dentro daquela caixa preta
não foi diferente, não dispensei o minúsculo livro da boneca de miriti.
A
obra “Saudade do Sonho” foi algo que despertou muito a minha atenção e atiçou a
minha curiosidade. Antes de experimentar a situação, passou varias coisas em
minha cabeça, menos o que estava de fato lá dentro. Eu percebia o comportamento
das pessoas ao passarem pela experimentação e o modo como elas se portavam, era
algo que me deixava ainda mais instigada.
Era
como se algo puxasse a pessoa para dentro da caixa, porque elas iam sentando
cada vez mais na ponta da cadeira, umas ficavam com o corpo inclinado, acredito
que para poder ver melhor e mais de perto o aquela caixa tão misteriosa
guardava dentro de si.
E
quando finalmente chegou a minha vez, não pude me conter e me levantei
rapidamente, na verdade fiz isso para que mais ninguém sentasse naquela cadeira
tão desejada por mim, super pronta e ansiosa para o que me esperava fui ao
encontro do desconhecido. Ao por minha cabeça na caixa e poder ver o que estava
lá, foi um momento de pausa, parece que naquele instante tudo começava a passar
em câmera lenta.
E
lá, estava um menino, sentado em uma cadeira com um livro sobre a mesa e nessa
mesma mesa, bem no canto, uma lamparina, iluminando o ambiente, iluminando a
minha mente. Por vezes ele se afastava por frações de segundos daquele mundo e
era nesse momento que ele deixava a cabeça pesar e inevitavelmente cochilava em
um piscar de olhos, mas quando se recuperava, voltava a ler o livro, como se
algo também o puxasse para dentro do livro, talvez fosse o conteúdo que havia
lá ou mesmo só a vontade de estudar como meio de mudar algo.
Eu
não sei ao certo o que aquela cena queria me passar, mas foi algo que ficou em
minha mente até agora e tenho certeza que não é algo que vá sair tão rápido. E
isso deixou uma saudade, saudade daquela tranqüilidade que estava guardada
naquela caixa, fora dela havia um mundo tão turbulento que naquele momento nem
pude perceber. E o sopro que apagou a lamparina foi o mesmo que me pós de volta
para a realidade, me despertando de um sonho, me deixando com saudade.
Recepção
de Roberta Castro
O espetáculo começou quando saimos
encontramos a obra e a artista na saída da sala. Em princípio o que mais me
chamou atenção foi a reação das pessoas para com a obra e também da artista
perante a nós expetadores.
Com o pedido de Mariléia artista e
criadora da obra artística, as pessoas foram se organizando para irem uma a uma
sentando na única cadeira que dava acesso ao espetáculo. No momento não me
incomodava com nada muito menos a quantidade de pessoas que iriam passar por
ali antes de mim, afinal eram cerca de 20 pessoas estava mas preocupada em analisar
o comportamento da artista que sugeria que há qualquer momento poderia nos
surpreender devido à altura de sua voz a qual era sempre em volume baixo. Olhar
atento, obsevava cada detalhe gestual da artista e também dos expectadores que
me deixavam cada vez mais ansiosa, mas ainda sim, queria analisar mais e mais
sob a ótica de um olhar externo ao espetáculo.
Primeiro foi uma moça assistir, ela
sentou na cadeira e ficou numa posição de estado de alerta e medo, parecia que
a qualquer momento ia levantar-se dali. A artista soprou para dentro da
caixinha onde ela manuseava e acontecia todo o espetáculo e a moça se assustou
ficando com o cabelo atrapalhado, a reação dela me deixou bastante curiosa para
saber o que tinha a deixado daquele
jeito.
Seguida Kauã, um dos colegas do
curso foi o próximo ele sentou e ficou bem quietinho demonstrando uma reação
oposta ao da primeira expectadora. Mariléia soprou novamente e Kauã parecia
estar hipinotizado, ficou por alguns segundos paralisado com um semblante sereno
e um leve sorriso, ele só saiu daquela zona hipinótica quando o professor o
cutucou para lhe entregar a ligação a seguir.
Mais um motivo para me deixar ainda
mais curiosa, eram duas reações distintas. Eu, bastante curiosa falava para mim
mesma, o que se passa ali? O que deixa as pessoas sairem com essas reações? O
que tinha naquele sopro que aparentemente desestabilizava todos que levantam
daquela cadeira.
Na
caixa estampada um teatro em miniatura tão pequeno que dava para
carregar tranquilamente de um lugar para o outro nos braços. Dentro um cenário preto, uma mesa, uma cadeira e um
garoto sentado lendo um livro sob a luz de uma lamparina. O garoto folheava
página por página. As folhas passavam e eu, o que será que ainda esta por vir?
Passavam-se as páginas e nada! Em meio a leitura o menino ficou sonolento o
qual cochilou rapidamente deixando a cabeça pesar sobre o livro, o cansaço
tentava dominá-lo mas o desejo de se
superar não o deixava desistir, se
espertou levantou a cabeça e continuou a ler.
Eis que o livro acaba, a lamparina é
apagada por aquele conhecido sopro de Mariléia e fim, nada de surpreendente,
nada que me fizesse ter medo ou que me tirasse do meu estado de corpo anterior
apenas a mensagem do menino humilde que tinha saudade de buscar seu sonho de
vencer na vida por meio de seu estudo, saudade de tentar ou simplesmente a
saudade de adentrar na magia de algum conto que podia estar naquela miniatura
de livro.
Recepção
de Alvaro Batista
“Saudade do sonho”, um trabalho que ao primeiro olhar, aguça a
curiosidade, que na fila de espera se torna cada vez mais forte, tão forte,
que, os que passam e percebem a cena, acabam esperando por um espaço para
adentrar ma magia do espetáculo criando uma expectativa, que acaba por envolver
a todos.
Uma performance, já que a cena não necessita
do espaço cênico propriamente dito, para ser realizada, podendo ser levada e
apresentada nos mais diferentes espaços e tempo, carregada de poesia, magia e
criatividade.
O trabalho da atriz Marileia Aguiar, que na
cena atua apenas como a condutora e manipuladora da sua pequena caixa e da sua
animação, leva ao mais distante da imaginação, trazendo lembranças e
recordações, da vida de quem o assiste, pelo menos essa foi a minha sensação na
minha viagem dentro daquela caixa.
Olhando o pequeno boneco sonolento, a folhear
o pequeno livro diante da pequena luz, me fez esquecer que eu estava ali,
dentro daquela pequena caixa, mergulhado naquela história lida pelo pequeno
leitor, naquele pequeno mundo isolado da cena que acontecia ao meu redor do
lado de fora da caixa.
E apesar da certeza de que você se encontra em
um corredor de uma escola, a magia que envolve a cena, faz com o público e o
espaço acabem por se envolver pela figura, que esteticamente e delicadamente se
compõe ao ato, com a finalidade de levar você a um outro tempo e uma outra
atmosfera, bem distante daquele movimentado corredor.