Raphael
Andrade: Ator, Graduando em Licenciatura em Teatro UFPA
Na
noite de chuva torrencial do dia 16/12/2016, entrei no coletivo que narrou
minha história. Sim, minha história. Porque falava do amor, sobretudo pela arte
teatral – arte tão difícil de ser produzida nesse solo amazônico, onde a
política cultural ainda está estagnada na “Belle Époque”.
Ao
adentrar no ônibus lotado do “Cuíra” (que meses antes tinha sido despejado de
seu espaço por falta de recursos) percebi, subitamente, porquê a parada de ônibus
era ao lado do suntuoso Teatro da Paz. Que buzinaço nos ouvidos do poderio,
heim? Remeteu ao mimo (mimus) da Grécia Antiga – que tinha a necessidade de
autotransformação, mormente pela imigração que deveria ser feita para que a
arte sobrevivesse.
O
espaço cênico lembrava uma alegoria de carnaval, todo enfeitado de lâmpadas de
LED e máscaras carnavalescas dentro e fora do coletivo, remetendo-me a história
da grande festa em honra ao deus grego Dionísio. Neste caso, as atrizes não
usavam as máscaras para a encenação, e sim, encaravam as suas histórias sempre
na primeira pessoa. Contando-nos suas vivencias na sexualidade, no amor
proibido, nas lembranças da infância, do medo, alegrias, separações,
frustações, perdas, ganhos e culminando no sentimento mais nobre que existe: o
tal do amor.
A
“bebida” da grande festa ficou a cargo da sonoplastia que abrilhantou o
espetáculo, com o intuito de trazer à tona a radionovela, estimulando a
imaginação dos ouvintes entre uma pausa e outra na entrada das seis atrizes
veteranas, que narravam e cantavam as suas vivências no amor e no teatro.
A
dramaturgia não contém nada de extraordinário, muito pelo contrário, parecia
por vezes redundante falar sobre a trajetória de vida do ser humano culminando
no amor. Creio, se não fosse a presença cênica das atuantes e a ótima direção,
o trabalho seria simplório. O que não acontece no “Auto do Coração” trabalho
primoroso de todos os envolvidos no espetáculo. Mostrando-nos que um enredo
comum, pode tornar-se grandioso quando se tem consciência do fazer teatral e,
sobretudo amar o que se está fazendo – Amor este, que estava estampado no
semblante das atuantes. O teatro, nesta terra papa chibé, é sintetizando pelos
artistas com o clichê: Ame-o ou deixe-o. Neste caso, a escolha é amar.
No
epílogo, as atrizes falam sobre seu amor à arte, que as (nos) embriaga, que por
meio da catarse nos arrebata, nos exorciza nos faz sermos resistentes. Como nos
diz a atriz/diretora Wlad Lima: “Acreditem: há políticas culturais no estado do
Pará! Mas essas políticas não nos atingem, não somos beneficiados por
elas".
Sintetizando:
“Auto do coração” nos mostra com simplicidade o que se fala/ouve no ônibus:
Amores, paixões, sofrimentos, dores, angústias e sucessivos sentimentos que nos
sãos empíricos.
Obrigado grupo Cuíra, por nos fazer
passear pelas ruas de Belém embriagando-nos de amor ao fazer teatral. Que
venham mais temporadas. Nós merecemos!
31
de Janeiro de 2016.
FICHA
TÉCNICA DO ESPETÁCULO: AUTO DO CORAÇÃO
Direção:
Wlad Lima
Consultoria de Dramaturgia: Edyr Augusto Proença
Figurinos: Jeferson Cecim
Fotografia e filmagem: Alexandre Baena
Visualidade e Iluminação: Patrícia Gondim
Assistente: Bolyvar Melo
Projeto Gráfico: Breno Filo
Produção: Zê Charone e Cleide Quadros
Estagiária de produção: Dani Cascaes
Participações especiais: Larissa Latif e Paloma Amorim
Parcerias Musicais: Carol Magno, Diego Xavier, Natália Matos, Gabriela Gonçalves e Daiane Gasparetto
Trilha Sonora Original e Direção Musical: Renato Torres
Consultoria de Dramaturgia: Edyr Augusto Proença
Figurinos: Jeferson Cecim
Fotografia e filmagem: Alexandre Baena
Visualidade e Iluminação: Patrícia Gondim
Assistente: Bolyvar Melo
Projeto Gráfico: Breno Filo
Produção: Zê Charone e Cleide Quadros
Estagiária de produção: Dani Cascaes
Participações especiais: Larissa Latif e Paloma Amorim
Parcerias Musicais: Carol Magno, Diego Xavier, Natália Matos, Gabriela Gonçalves e Daiane Gasparetto
Trilha Sonora Original e Direção Musical: Renato Torres
ELENCO
Sônia Alão, Sandra Perlin, Olinda Charone, Leila Barreto, Wlad Lima e Zê Charone
Sônia Alão, Sandra Perlin, Olinda Charone, Leila Barreto, Wlad Lima e Zê Charone
Realização: Grupo
Cuíra do Pará